Estamos no meio de uma grave crise política, econômica, social e sanitária.

Profª Marina Sales Barros

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A pandemia acentuou a desigualdade social de maneira significativa, em decorrência do modelo neoliberal vigente, sedento por lucros. 

Este cenário ficará mais difícil no pós pandemia, e vai incidir sobre as populações vulneráveis. São elas que mais perdem a vida com o Covid 19, são elas que mais sofrem por falta de saneamento, com moradia e alimentação inadequadas e falta de assistência médica digna. Dentro desse contexto, cabe perguntar como será a volta para a escola. Certamente não será igual para todos os professores, alunos, funcionários e direção. Grande parte dos professores não estavam preparados para dar aulas online, ainda assim, não abandonaram seus alunos. Muitos alunos não têm condições adequadas para acompanhar aulas online. O homeschooling não é para alunos que não possuem computador e internet, e essa é a realidade de muitos alunos.

Várias questões importantes cercam a volta às aulas:

1. Os alunos que voltarão com defasagem no aprendizado, sofrimento pelo isolamento social e privação de toda ordem serão acolhidos de maneira digna?
2. Possivelmente haverá evasão escolar após longa ausência da escola e dos amigos. Haverá plano para resgatar esses alunos?
3. Provavelmente muitos professores e alunos voltarão estressados, esgotados como sujeitos necessitando apoio emocional. Terão apoio profissional? Terão palestras com profissionais especializados objetivando o cuidado mental?
4. Como será o processo de ensino aprendizagem? Haverá mudança de narrativas? Ou vai ser mais do mesmo?
5. Haverá mudança do Eu para Nós dentro da comunidade escolar?
6. Haverá reforço escolar para equalizar a aprendizagem e garantir oportunidades iguais?
7. A Direção entenderá a importância de um trabalho conjunto da comunidade escolar com o seu território envolvendo famílias, empresas, organizações sociais, governo, entre outros?
8. A higienização segura contemplará toda a escola?

 A volta para a escola deve ter como premissa a necessidade da escuta para que todos juntos possam buscar caminhos e soluções para os problemas que virão. Os desafios devem ser enfrentados com empatia, colaboração e autocuidado. O conteúdo não é prioridade nesse momento. O mais urgente será humanizar as relações, e construir uma relação dialógica para edificar consensos diante das diferenças, numa atmosfera de paz e solidariedade.

As questões abordadas são pertinentes e exigem reflexão para garantir uma condição mínima de volta às aulas frente o quadro desafiador e complexo. Impõe-se romper com a estrutura hierárquica cristalizada em quase todo sistema educacional que não estimula a participação; os alunos não têm voz. É fundamental uma pedagogia que cria identidades e não as destrua. Não podemos aceitar uma sociedade com cidadãos de segunda classe. A escola deve cumprir sua função social   com a formação de cidadania plena dos alunos. Portanto, as políticas públicas devem atender educação de qualidade para todos.

Em meio ao caos, há lugar para reinvenção das relações, para busca de sonhos, de arte, de criatividade e oportunidade para repensarmos a forma como nos relacionamos com o outro e com nós mesmos.

 A palavra de ordem é reinventar. Redesenhar a educação, redesenhar a escola e a vida com novas ferramentas. Vivemos novos tempos, novas vivências que exigem inovação, capacidade criadora e empatia. Como dizia o poeta Mário de Andrade “O passado é lição para refletir e não para repetir.”