A Funerária Virtual
- maio 23, 2025
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Das diversas maneiras de sobreviver hoje em dia a mais comum é jogar no mercado da existência, onde tudo são trocas. Quais valores você usa como mercadoria?
Das diversas maneiras de sobreviver hoje em dia a mais comum é jogar no mercado da existência, onde tudo são trocas. Quais valores você usa como mercadoria?
Belo Horizonte, MG – 23/05/2025
4.3 Minutos.
O mundo está realmente doido. Depois do *“capitalismo desumano”, da primeira parte da Revolução Industrial. Depois do “capitalismo consuetudinário”, da segunda parte do século XIX, com direitos e deveres entre as partes.
Seguem-se o *“capitalismo Keynesiano” e das *“Social-Democracias”, da primeira metade do século XX, onde os Estados ajudam no pacto entre as classes. E do *“capitalismo liberal” pós queda do Muro de Berlim, onde o que vale é somente o capital…
…Vem aí o “capitalismo desesperado”, todos atrás de cliques e dinheiro, únicas moedas vigentes. No desespero geral da compressão das classes médias e recursos naturais cada vez mais escassos, cada um por si, nem Deus por todos. Pensei, por que não uma Funerária Virtual?
Assim, a nova Funerária Virtual, a “Funer-Uber”, é um aplicativo onde você clica, eles pegam o morto, o vestem com a sua roupa predileta. Em seguida, criam o grupo na internet para o velório, enterram o falecido sob o choro unânime no “reality show”!
Como no genial filme “Barbarella”, de 1968, de Roger Vadim, com Jane Fonda, onde até o amor é virtual, mãos contra as mãos com os cabelos eletrizados.
A “Funer-Uber” ofereceria também pacote com óculos de realidade virtual, para os mais ricos. Assim, com a notável capacidade de se sentir o caloroso abraço da despedida, como em “Barbarella”, onde ninguém se toca, e ninguém se vê. E com um pacote promocional.
Por somente 30% adicionais ao contrato, a “Funer-Uber” seria ativada automaticamente, através de um dispositivo (app) no leito do moribundo. De fato, você não precisaria nem entrar no aplicativo! Suas ações seriam negociadas primeiro na Nasdaq, como nova tecnologia, depois como commodity, pela Dow Jones.
Ferdinand Tonnies escreveu sobre a passagem da “Gemeinschaft” (comunidade) para a “Gesellschaft” (sociedade), na Alemanha. Durante o doloroso processo da transição de valores.
A magistral série “Anne, with an E”, na Netflix, dos clássicos livros de Anne de Green Gables, retrata a quebra dos valores tradicionais nos anos de 1890.
Os fatos se dão na então longínqua Província de Prince Edward no Canadá. É perto de Halifax e ao norte de New Brunswick. Foi lá onde Anne, a órfã adotada por casal de “traditional farmers” vivu.
A menina Anne lidera a quebra dos valores, da antiga comunidade. Sobrevivendo na reprodução dos costumes e do trabalho. Anne aponta para uma juventude cheia de ideais e novos projetos de vida, das Universidades para a universalização do querer.
Hoje, o Iluminismo Francês nos pregou uma peça. Mal sabíamos, contudo que ao final de tanto “racionalismo” iríamos despencar em uma crise ecológica, sem precedentes, e de difícil solução.
Hoje, correm todos, no “capitalismo virtual”, dos “cliques + dinheiro”, sem saída espiritual.
E o pior: o Funeral Virtual já existe. Em sua forma inicial, para os que não podem ou não querem ir, no “streaming” geral de nossa sociedade. A ver até onde isto vai involuir!
Ricardo Guedes – Ph.D. pela Universidade de Chicago – Autor
[N.E.: *o capitalismo desumano (refere-se, possivelmente, às estruturas de sobrevivência e relações sociais antes das repúblicas e das cidades estados gregas e romanas – Ocidente).
*capitalismo consuetudinário (refere-se, possivelmente, às relações de trocas, comércio e economia europeias entre os estados nacionais, ‘pacificados’ até o início do Século XX.)
*capitalismo Keynesiano (refere-se, possivelmente, ao acordo de Breton Woods, e às alterações nos princípios da macroeconomia ocidental, durante os últimos anos da Segunda Guerra Mundial.)
*social-Democracias (refere-se, possivelmente, aos arranjos políticos para se contrapor aos “excessos” do socialismo como ponte para comunismo marxista-leninista, ao procurar aparar as arestas do capitalismo.)
*capitalismo liberal (refere-se, muito possivelmente, ao sistema econômico que se caracteriza pela liberdade de mercado, onde as decisões econômicas são tomadas por indivíduos e empresas, com pouca (ou nenhuma como o neoliberalismo) intervenção estatal.]
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