As Eleições na França
- abril 25, 2022
- 0
Toda eleição é diferente das demais que a precederam. Isto porque as questões e a ideologia mudam, na determinação das variáveis através das quais as eleições e seus
Ricardo Guedes
São Paulo, 25/o4/2022
1 Minuto
Max Weber em a Metodologia das Ciências Sociais diz que os conceitos sempre apresentam a concepção ideológica de cada época, que mudam continuamente, mas uma vez que estes conceitos estejam determinados a lógica científica então aplica-se na sua concatenação. Como os conceitos mudam continuamente, Simon Schwartzman diz que as ciências sociais têm “o dom da eterna juventude”, na mutação contínua das concepções. E assim são as eleições.
Quando se entendem os conceitos através dos quais uma eleição será julgada torna-se simplificada a sua interpretação e projeções.
A França é um país fundamental no pensamento e na formulação dos conceitos de liberdade e da organização partidária como representativa dos cidadãos. Junto com os Estados Unidos, foram as duas primeiras democracias a serem implementadas no mundo ao final do século XVIII.
Após a Revolução Francesa, a França passou por um longo período de instabilidade política até a Terceira República após 1871. Inspirada pelos ideais do Iluminismo e pelos conceitos referenciais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, a França vivenciou o palco da formação da direita, da esquerda e do centro modernos, sob a influência das ideias das leis em Montesquieu, da organização democrática de Rousseau, da organicidade social em Comte e Durkheim, da vertente do liberalismo econômico inglês, e das ideias marxistas da luta de classes.
Nas eleições de 2022, a França chega perto da ruptura de suas tradições. A ideia de uma sociedade “justa” da esquerda francesa fica dificultada pelas correntes migratórias do Oriente Médio, do Norte da África, e agora da Ucrânia, com o aumento do custo social para medidas assistenciais.
A direita francesa cresce no vácuo da falta de soluções centristas para o equacionamento da economia e da sociedade.
O centro esvai-se na falta de um líder forte que dê contornos à polarização crescente, com a perda de sua maior capacidade na mediação de crises internacionais, tradicional campo de influência da França. A relação dos líderes franceses com a Rússia é ambígua, devida a dependência do país em 24% do gás russo para a sua energia.
Na Guerra da Ucrânia, Emmanuel Macron falha na tentativa de mediação do conflito, agravado pela ausência de Angela Merkel frente à Alemanha que poderia, em conjunto, ter levado a uma situação de melhor intermediação.
Macron é eleito contra a crescente direita de Le Pen, não com os votos estritos de sua base eleitoral, mas com o voto útil da esquerda que lhe empresta.
No 2º turno, a diferença entre Macron e Le Pen em votos válidos cai de 66,1% a 33,9% em 2017 para 58,5% a 41,5% em 2022, com a abstenção crescendo de 25,4% em 2017 para de 28,0% em 2022. A França elege um líder fragilizado.
Futuro político conturbado na França democrática, com diminuição da representatividade do centro.
Ricardo Guedes – Ph.D. pela Universidade de Chicago e CEO da Sensus
[N.E.: a fragilidade dos extremos deve-se a indolência do centro? Ou talvez ao laissez-faire…]