Beleza mano?
- março 24, 2024
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Para o filósofo grego Platão, é um fim em si mesma, ulterior. Está ligada a harmonia, e não só das formas, mas do conteúdo - o contido em
Para o filósofo grego Platão, é um fim em si mesma, ulterior. Está ligada a harmonia, e não só das formas, mas do conteúdo - o contido em
Leonardo de Moraes
São Paulo, 24/03/2024
1.2 Minuto.
Crianças de todas as origens têm certos instintos estéticos voltados a superfícies homogêneas, formas arredondadas e de cores amenas. Talvez haja uma garantia evolucional da busca pelo seio e rosto da mãe, pelo aconchego amoroso e pela nutrição.
Mais velhos, porém, toda simplicidade se esvai e somos afetados por conceitos familiares, por dinâmicas no ambiente escolar e bombardeados por um marketing feroz de formas e comportamentos supostamente “vencedores” – nada além de narrativas criadas para vender produtos e serviços, e só.
Saímos da adolescência doutrinados por um contexto social caótico, impondo a nós mesmos padrões estéticos irreais ao nosso físico e aos nossos desejos. Corroemos nossos afetos, nosso caminhar, nosso conceito de felicidade. Milhões passam a vida em autopunição, privando a si mesmos da livre expressão do seu ser, em razão de um suposto não-pertencimento estético.
Mas, e a beleza, o que é? Sou artista visual e escritor, vivo meus dias treinando os olhos e ouvidos para testemunhá-la em formas ou comportamentos humanos. A beleza se esconde na sutileza, na amorosidade, no sentimento; é incapaz de ser contida, engarrafada ou padronizada. É uma chama, um charme, um “je ne sais quoi”, expressão que os próprios franceses transformaram em substantivo, na impossibilidade de conceituá-la.
O que ela é, de fato, não sei e jamais saberei. Estou certo, porém, que ela não mora em padrões, opressões, regras, exigências ou modelos. E que ela não suporta nem gaiolas, nem algemas.
Leonardo de Moraes – Mestre em Direito do Estado – Professor de Direitos Humanos.