Carnaval – Lembra do Samba?
- abril 13, 2022
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Ubuntu (da língua Bantu afriucana) envolve a concomitante ideia de Tornar-se (via a ser?), Ser, ser como manifestação do movimento como princípio do Ser, Existir Ser estável, durável.
Ubuntu (da língua Bantu afriucana) envolve a concomitante ideia de Tornar-se (via a ser?), Ser, ser como manifestação do movimento como princípio do Ser, Existir Ser estável, durável.
São Paulo, 13/04/2022
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Quando pensamos em África dificilmente a separamos por nações, etnias e culturas distintas. Esse é um mal cultural e ideológico humano. Achar que em um continente todos são iguais porque nossa cultura, principalmente a imagética, nos faz pensar assim. Olhamos um mapa e acabamos por aceitar que tudo o que está contido lá naquele continente é um só conteúdo.
Todos os humanos que estão na Ásia são amarelos e têm olhos puxados. Tudo o que está na África é preto e tem cabelos encaracolados, tocam e dançam Samba. Tudo o que está na Europa é branco e tem olhos azuis. A realidade nos mostra, entretanto, que por mais que os mapas permaneçam inalterados (por que?), o conteúdo é bem diversificado, e as mudanças são constantes, causando confusões.
No Brasil, da Bahia para cima é tudo nordestino, uma cultura forte, um leque aberto de cores e matrizes enraizadas nos contrastes gerados entre o Sol, o Mar e as areias, as pedras, restos de mata Atlântico, serras, terra seca, alimentadas por rios que descem das altas terras de Minas Gerais, se juntam e tomam 2 caminhos em função das vertentes serranas locais e suas inclinações naturais. Estas águas formam 2 grandes caudais.
Um “sobe” e serpenteia entre blocos de pedra em direção ao Nordeste – Rio São Francisco e afluentes quer formam a sua bacia, até o deságue na foz na divisa dos estados Bahia-Sergipe-Alagoas.
Lá o Samba é raiz. “O Brasil começou na Bahia”, dizem. E o samba também. Mas tem inúmeras variações, acentos locais, misturas com indígenas ou povos originários, com brancos portugueses que influenciaram a harmonia e os ritmos decorrentes. Tem de roda, de breque, choro, duro, canção, de carnaval, marchinha, tem mistura espanhola no Caribe (que chegou no topo do Brasil, – vide mapa) e portuguesa no Brasil, tem batuque de capoeira, de candomblé, tem ciranda, frevo (branqueado ao “leite de onça” no Recife – PE), xaxado, maracatu, maxixe, côco, afoxé, trio elétrico (talvez o mais “deformado”; acho que os baianos têm certa licença poética para tal). Enfim, variações sobre o mesmo tema, como dizem. Uma base de onde brotam várias expressões artístico, musicais e teatrais e geraram uma exuberante cultura suigeneris.
Fenômenos naturais que nos educam.
Outra serpente aquática “desce” sinuosamente em direção ao Sul e banha o sudeste – Rio Paraná com sua bacia também gigantesca que acaba ao Sul do país, no Oceano Atlântico lá pela Argentina e o Paraguai (Rio da Prata). O mapa nos engana – em uma bola girando não há norte, sul, leste ou oeste. Isso é coisa de plano.
Mas, a terra não é plana, embora vivamos um planeta (um plano pequeno, dada a minúscula participação e importância humana no universo) como querem defender algumas rêmoras que vão a reboque como bons parasitas.
Mesmo o Norte atual é predominantemente nordestino, graças às emigrações para povoá-lo e de acordo com o mapa. Mas, lá também as características culturais se chocaram, sofreram mudanças, alterações e adaptações, e isso gerou diferenças. O Norte tem linguagem, raízes, cores, costumes, cultura própria.
Estudos dizem que há 15 mil anos atrás, em média, culturas humanas, talvez sapiens, cruzaram os estreitos entre mares glaciais polares árticos no Noroeste do mapa atrás de terras menos frias e ao chegarem no Alaska (nome atual), e ainda com frio, decidiram dirigir-se ao Sul, para mais perto do Equador, onde o sol bate mais a pino, portanto, é mais quente. Porém, fiquemos na atualidade e mais perto de nós.
Já abaixo desta linha imaginária que separa Norte de Sul, o Samba encontrou espaços de manifestação e ligações, nem sempre aceitas por grupos religiosos radicais e ignorantes da sociedade com feições racistas, desde tempos coloniais. No império não foi diferente. Ligado à capoeira, ao Candomblé, às festas religiosas litorâneas (quem samba na beira do mar é sereia!) e dos interiores, a cultura afro-latina e a afrobrasileira foram sempre malvistas pelos povos europeus dominantes. Um domínio que chegou com a pólvora, o ferro, a cruz e os cavalos do império romano, mas “acabou” sincreticamente.
Para poder Sambar na Bahia e no Rio de Janeiro.
O resgate se deu por conta de tentativas feitas por intelectuais e acadêmicos de mente aberta, e por esforço próprio dos artistas, músicos, escritores, poetas – todos grandes, e que nunca negaram a sua luta, as suas raízes e resiliência. A importância do Samba para a cultura musical brasileira é tanta que do substantivo veio o verbo: sambar. Dali também veio um diagnóstico preciso da eloquente mistura de raças e etnias no Brasil. “Quem não gosta de samba, bom sujeito não é!” E virou produto musical de exportação.
O Samba invadiu a Europa e os Estados Unidos da América do Norte. Um jovem baiano, chamado João Gilberto na década de 60, estudioso da Música Popular Brasileira decidiu levar gênero musical para encontrar-se com o Jazz dos pretos norte-americanos e surgiu a bossa-nova! Outro carioca, Tom Jobim, o levou para a elite musical branca norte-americana e também fez o maior sucesso. O samba deu tão certo que o Brasil vivenciou uma era “bossa nova”!
E dentre tantos, dos grupos às Escolas de Samba, formadores da nata do gênero musical com autenticidade, a maioria estudiosos, mais com vivência do que com leituras aprofundadas, frutos de determinada época da nossa história cultural, encontramos o respeitável Partido Alto.
Um posto político cultural, com distintas hierarquias. Só os melhores representantes das etnias pretas do Samba, no Rio de Janeiro e Bahia (porém, aceites por toda a comunidade), com registro de contribuições efetivas ao gênero encontram cadeira e podem lá se sentar. É uma espécie de ABL, um ‘pedigri’ de autenticidade de produto não exportação.
Numa destas cadeiras sentou-se Dona Ivone Lara. Hoje, se viva, faria 100 anos. Conhecida como Rainha do Samba e Grande Dama do Samba, ela foi a primeira mulher a assinar um samba-enredo e a fazer parte da ala de compositores de uma escola, a Império Serrano.
Pronto! Atributos suficientes, mas além disso tem de saber cantar e dançar. Sambar. E por mais que você goste, sambar não é fácil, não é para qualquer um. Samba no pé é espiritual, é harmonia – corpo e alma. É comunidade, é a manifestação da unidade em torno de ideias e processos de luta por liberdade, igualdade social, justiça, e por isso mesmo brasileiríssimo, popular, vivo e quente.
Samba é vida! Milhares de pessoas trabalham e gravitam e se sustentam nele e em torno dele. Já imaginou um carnaval com Música clássica erudita? Sim, o Samba é uma Ópera, mas onde todos podem tentar dançar, ou melhor Sambar.