Cérebro – cadeirada e soco
- outubro 2, 2024
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O voto é uma ferramenta importante na Democracia. Mas, não só. Antes de votar pesquise nos links oferecidos no texto para saber mais sobre os candidatos que escolheu
O voto é uma ferramenta importante na Democracia. Mas, não só. Antes de votar pesquise nos links oferecidos no texto para saber mais sobre os candidatos que escolheu
Dra. Roberta Maria Bueno Bocchi
São Paulo, 02/10/2024
4,7 Minutos.
ELEIÇÕES – Recortes específicos da realidade, descontextualizados, são lançados indiscriminadamente nas redes sociais à espera de likes e votos. A mentira virou espetáculo e o uso do cérebro nunca foi tão necessário.
No próximo dia 6 de outubro, com segundo turno marcado para 27 de outubro, se necessário, os eleitores brasileiros escolherão os prefeitos, vice-prefeitos e vereadores dos 5.569 municípios do país. Até lá, dúvidas sobre quais candidatos escolher e quais itens considerar na hora da escolha final, atormentam a mente dos mais de 155 milhões de eleitoras e eleitores aptos a votar em 2024.
Esse tormento mental é comum, pois as informações são variadas. As fontes das notícias nem sempre são confiáveis e as cadeiras, socos e likes infelizmente tomam conta do cenário eleitoral brasileiro. Há uma tendência mental de confirmar as preferências eleitorais com base em crenças, descrédito político e polarização. Tendência que acaba impedindo a amplitude do olhar e a percepção de uma gama maior de ideias e candidatos.
A razão e a emoção estão aqui embrenhadas em um universo mental a beira de uma decisão, que pode mudar a vida de cada um dos milhões de brasileiros votantes. Mente e cérebro são estimulados durante todo o tempo, com aparições nas redes sociais, na TV, nas ruas e comentários em rodas de conversa, uma avalanche de informações por vezes assustadoras.
Entretanto, mente e cérebro não estão em posições distintas. Enquanto a primeira se refere aos desejos, intenções, ideais e ansiedades das pessoas, o segundo materializa tais fenômenos através de estruturas corticais e subcorticais.
Digamos que o cérebro nos mantém vivos e responde ao que a mente idealiza.
Portanto, nas nossas decisões tanto a emoção como a razão estão presentes simultaneamente. Erra aquele que afirma ocuparem manifestações isoladas no interior de nosso cérebro.
Assim, ao escolher um candidato para a vaga de prefeito, vice-prefeito ou vereador, não será diferente. Tanto as emoções como a razão estarão presentes o tempo todo. Cada indivíduo, considerando seu histórico de vida, memórias, necessidades e conhecimentos, fará uma escolha única, usando a razão embalada por suas emoções. O tempo de maturação dessas emoções em diálogo mental com a razão é que fará a diferença para uma tomada de decisão mais assertiva.
Ou seja, boa decisão é aquela que considera todas as emoções, o conhecimento racional/teórico sobre o assunto e os pesos adequados a cada uma delas. Portanto, uma tarefa que exige um olhar amplo para os diversos candidatos e seus planos de governo. Também a trajetória de cada um deles até o momento, seu histórico humano e o que você, enquanto eleitor ou eleitora, precisa enquanto cidadão, para viver com mais qualidade de vida.
Saber mais sobre seu candidato ou candidata é ponto chave para compor sua decisão final. No Brasil, o acesso à informação sobre as ações dos Poderes Executivo, Legislativo, Judiciário, Ministério Público e a transparência de dados sobre todos os candidatos à eleição é Lei – nº 12.527/2011:
A Lei de Acesso à Informação – Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011 – assegura a todos os cidadãos o direito fundamental de acesso à informação pública, previsto na Constituição Federal. Esta lei estabelece a obrigatoriedade de União, Estados, Distrito Federal e Municípios divulgarem, independentemente de solicitação, informações de interesse geral ou coletivo. Assim, garante a todos, a confidencialidade prevista no texto legal. Seus dispositivos são aplicáveis aos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário e ao Ministério Público. (Transparência Ministério Público – Brasil)
No caso de candidatos que disputam a reeleição, é possível verificar primeiro se o Portal da Transparência do Município está funcionando adequadamente, se todos os gastos estão atualizados e se é possível acompanhar a verba pública do começo ao fim.
Saber quanto seu “político favorito” ganha financeiramente, qual sua renda mensal, é fácil e rápido, bastam alguns cliques através da plataforma GOV.COM ou no PORTAL ELETRÔNICO DE SEU MUNICÍPIO, para descobrir quanto do seu dinheiro, enquanto cidadão contribuinte, está sendo direcionado para tal ação, pois os salários dos funcionários públicos, por força de lei, devem ser declarados no Portal da Transparência.
Conhecer os salários dos candidatos à cargos políticos é uma boa forma de poder comparar os ganhos individuais desses candidatos com o patrimônio declarado no momento de registro da candidatura nova. Caso a Portal da Transparência de algum Município não esteja funcionando adequadamente ou apresentando algum bloqueio de informação, o eleitor deve reclamar, entrando em contato online com a Controladoria Geral da União – https://portaldatransparencia.gov.br/sobre/contato – não é preciso se identificar.
O registro de bens é obrigatório para todos os candidatos e é disponibilizado na internet pelo Tribunal Superior Eleitoral brasileiro para todos que desejarem a informação. Não é necessário um cadastro, basta acessar https://divulgacandcontas.tse.jus.br/ e selecionar a unidade da Federação no mapa ou a sigla do estado a ser consultado, até chegar ao seu Município. É possível saber sobre os bens declarados pelos candidatos, envolvimento em processos, certidões criminais e eleições já disputadas.
Além das informações obtidas por meios oficiais, é preciso também saber sobre as ideias do candidato, conhecer sua trajetória profissional, histórico de vida e sua postura ética diante da vida e da sociedade onde vive ou viveu.
Comparar o seu discurso e promessas com sua trajetória é um exercício importante para compor um repertório sobre o candidato.
Dinheiro duvidoso perto de você
Um importante item de atenção é identificar quem são os financiadores do candidato. De onde vem o dinheiro para a campanha, se apenas do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC), ou se há financiamento privado. Financiamento privado tende a cobrar resultados que beneficiem determinadas Empresas financiadoras, que nem sempre são os mesmos interesses da população.
O Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) é um fundo federal especial para a campanha dos candidatos por partido. Para as eleições de 2024, segundo dados informados pelo Tribunal Superior Eleitoral brasileiro, 29 partidos receberam R$ 4.961.519.777,00. Este valor foi estabelecido pelo Congresso Nacional (deputados e senadores votaram) para gastos com a corrida eleitoral. Portanto, é dinheiro do povo direcionado para campanha eleitoral de convencimento do povo. Assim, o dinheiro que circula em cada campanha eleitoral, em grande parte, é contribuição financeira de cada eleitor ou eleitora.
Fique atento, foco nas notícias em jornais, revistas, propaganda eleitoral de rádio/TV, pesquisas de agências confiáveis sobre o interesse de voto da população e debates entre os candidatos, são importantes para uma escolha próxima da adequada, representam momentos de avaliação da postura dos candidatos diante das câmeras e da população.
Analisar as propostas dos candidatos é tarefa fundamental. Permite identificar se as promessas são viáveis, executáveis e compatíveis com o cargo pretendido. Fugir de promessas “genéricas” como por exemplo “melhorar a vida do povo” é uma boa dica para identificar candidatos que estão longe da real necessidade da população e presos apenas no discurso.
Áreas sensíveis como Educação, Saúde e Segurança Pública, sempre estão presentes nos discursos dos candidatos. Porém, infelizmente poucos resultados efetivos são registrados após as eleições. Deste modo acabam virando temas para chamar a atenção de uma população carente e de certa forma, refém dos órgãos públicos municipais. É preciso cobrar ações efetivas em áreas tão importantes.
Uma boa proposta deve conter no mínimo:
As ações pretendidas – Orçamento – quanto irá custar; – A fonte de recurso – de onde sairá o dinheiro para a ação; – Como foi identificada a necessidade que impulsionará a ação; – Prazos para a conclusão; – Quem serão os beneficiados diretos; – A legalidade da ação.
Por fim, fuja imediatamente de candidatos que insinuem a chamada “compra de votos” ou “troca de favores”. Além de ser ilegal, configurar crime eleitoral, coloca em dúvida a postura ética política desse candidato. Passa a impressão de que se isso ocorre antes da eleição, com a força de um cargo público, tende a piorar, deixando as reais necessidades da população em geral e a sua em particular, totalmente desamparadas.
Justiça Eleitoral – www.tse.jus.br (informações sobre prestação de contas de candidatos, comitês e direção partidários);
ONG Transparência Brasil – www.transparencia.org.br (informações sobre os parlamentares brasileiros);
Projeto Às Claras – www.asclaras.org.br (informações sobre o financiamento eleitoral destinado aos parlamentares, bem como a quantidade de votos que receberam);
Instituto Ágora – www.institutoagora.org.br (instituto paulista que atua em defesa do eleitor e da cidadania por meio do controle social do parlamento, do investimento em educação e do incentivo à participação política, autônoma e suprapartidária);
Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral – www.mcce.org.br (O MCCE é integrado por 51 entidades nacionais que atuam em três eixos principais: a fiscalização, que visa assegurar o cumprimento da Lei nº 9.840/1999 e da LC no 135/2010 (Ficha Limpa); a educação, que visa contribuir com a consolidação de uma consciência dos eleitores de que “voto não tem preço, tem consequências”; e o monitoramento das ações do parlamento brasileiro em relação à Lei no 9.840 e à LC no 135/2010, como o controle social do orçamento público e da máquina administrativa;
Instituto Não Aceito Corrupção – https://www.naoaceitocorrupcao.org.br/ (INAC) é uma associação civil, nacional e apartidária, sem fins econômicos, fundada em 2015. A entidade foi idealizada pelo então Promotor de Justiça Roberto Livianu, que capitaneou a articulação de um grupo de trinta e dois cidadãos, visando concentrar esforços estruturados e focalizados no combate inteligente e estratégico da corrupção.
Roberta Maria Bueno Bocchi Doutora em Educação – Políticas Públicas/Currículo – PUC/SP;
Mestre em Educação – Políticas Públicas – UNICID
Especialista em Neurociência aplicada a Educação – FCMSCSP
Supervisora de Ensino do Estado de São Paulo
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https://portaldatransparencia.gov.br/ – Acesso em: 23/09/2024.
https://www.tse.jus.br/comunicacao/noticias/2024/Junho/saiba-quanto-cada-partido-vai-receber-do-total-do-fundo-especial-de-campanha – Acesso em 24/09/2024.
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