Como nascem Fake News e Pós-Verdade?
- maio 21, 2025
- 0
É preciso que se diga para que fique bem muito claro: fake news não saem do vácuo! Elas são produzidas, consumidas, usadas e distribuídas em ambientes frequentados por
É preciso que se diga para que fique bem muito claro: fake news não saem do vácuo! Elas são produzidas, consumidas, usadas e distribuídas em ambientes frequentados por
São Paulo, 21/05/2025
14 Minutos.
Uma pesquisa realizada no Brasil com o objetivo de verificar o comportamento e ação dos brasileiros diante de fake news na redes sociais revelou fatos curiosos. Foram 2.016 entrevistas que serviram de amostragem e os dados e as perguntas seguem distribuídas pelo infográfico.
Veja aqui as imagens (clique na imagem) do infográfico que resultou da pesquisa.
Um dos primeiros aspectos que a pesquisa chamou atenção é o peso que as redes sociais possuem na busca por informação. Note que 74% dos entrevistados dizem procurar se informar a partir delas.
O que deixa uma margem bastante pequena para fontes mais fidedignas serem buscadas como referência .
A outra surpresa foi a deque apesar das pessoas considerarem a internet uma boa fonte de informação e terem um índice elevado de conceituação, 60% das pessoas dizem que consideram a televisão como meio mais fidedigno e de maior credibilidade.
Outro ponto interessante é que mesmo tomando conhecimento de que era uma fake News, apenas 29% desmentiram ao saber, e 8% compartilharam mesmo sabendo que era uma fake news. As justificativas improváveis para isso foram entre outras considerar engraçado, divertido, ou que não era sua função fazer isso.
Mas pode piorar: muitos dizem que compartilharam simplesmente porque gostaria que fosse verdade.
E 79% identificaram membros de sua rede que compartilham fake news. Ou seja, não é segredo para ninguém.
No que concerne às responsabilidade pelas fake news os números são muito democráticos e nos indicam que TODOS são considerados culpados, menos o próprio divulgador.
Notem que:
31% acham que o culpado pela fake news é quem divulgou;
28% acham que o responsável é o veículo que divulgou;
25% acham que são as redes sociais, e pasmem:
17% acham que o culpado é o que leitor!
É erro considerar que uma fake news seja composta apenas por mentiras. NÃO! Ela surge exatamente de um elemento ou fato do real, mas que a partir disso é alterado, modificado, distorcido. Ou omitido em determinadas partes para compor uma mentira que alcance muitas pessoas e com isso, viralize e se perpetue como sendo verdadeira.
A ‘fauna’ por onde as fake news se propagam é diversa. E para tanto, poderíamos dividir o circuito de sua produção, distribuição e consumo da seguinte forma:
De um lado temos os produtores. Estes são pessoas ou até mesmo grupos de pessoas e empresas que em geral, possuem uma ampla gama de seguidores e que recebem exatamente para olhar tudo o que está acontecendo e buscar brechas de inserção de MENTIRAS, DISTORÇÕES. Ou mesmo OMISSÕES (esconde-se partes da realidade). É um caso clássico de DESINFORMAÇÃO.
O principal objetivo é lançar um tema que repercuta na audiência e se transforme em um rastilho de pólvora que pode ser bem sucedido em simplesmente explodir o alvo desejado.
A partir deste ponto, criam-se manchetes e imagens que possam viralizar rapidamente em sua audiência.
É interessante entender que tais produtores de conteúdo, como todos os que trabalham com esta área, conhecem profundamente seu público alvo e o que este público consome, gosta e compartilha.
A audiência é fundamental para que consigam entrar em diferentes grupos e setores sociais, políticos e econômicos. Esta produção não é feita para ser questionada. Seus consumidores devem consumi-la e seguir na tarefa de reproduzir isso.
Funcionam como câmaras de eco. Em geral, tais produtores são gestores de grupos de WhatsApp funcionando como a ponta de uma pirâmide gigante de pessoas. São elas que estarão, na vida cotidiana, fazendo com que as fake news ganhem as praças, as ruas, as conversas de boteco e as brigas entre familiares e amigos. A seguir e sendo absolutamente necessário temos os que se encarregarão da distribuição.
Aqui não falamos da distribuição organizada entre produtores de conteúdo e influenciadores e gestores de grupo. Aqui falamos do consumidor cotidiano.
O integrante de diferentes grupos estruturados ou que apenas se encarregue de distribuir isso a outros agentes. Familiares, amigos, colegas de trabalho ou de atividades esportivas/recreativas, religiosas, partidárias. Ou seja, estará na ponta enviando aos que não estão ligados aos grupos iniciais que recebem conteúdos e que são as câmaras de eco citada acima.
Todavia, aqui temos um ponto muito interessante. TODOS os que compartilham definitivamente querem fazer isso por motivos diversos. Entretanto, há diferenças importantes entre estes compartilhadores, receptores e reprodutores destas mentiras.
Existem aqueles que consomem como a verdade mais pura e limpa e acreditam piamente em tudo. Aqui temos o compartilhador que parece estar numa profissão de fé, acreditando de forma visceral no que lê. Geralmente, possui um perfil fundamentalista muito parecido com os encontrados em seitas religiosas.
E do outro lado, a mesma força de amor por este lado da fake news significa um ódio mortal à tudo e todos que o contrariam ou pensam de forma diversa.
Torna-se a famosa luta do BEM contra o MAL em suas perspectivas e visões de mundo. O outro distribuidor definitivamente sabe que se trata de Fake News. Não estão enganados sobre aquilo que compartilham. Possuem recursos intelectuais e informações que mostram claramente que se trata de uma construção mentirosa. Porém, compartilham simplesmente porque desejam que isso se viralize como verdade.
Este perfil, compartilha por desejar sinceramente que isso seja uma verdade. Aposta na confusão que trará e que de alguma forma e por um tempo maculará a imagem daqueles que ODEIA, pois de novo se colocam em lados opostos. Uma vez distribuídas, as fake news passam a ser consumidas nas diferentes vias da rua larga da internet, mas não apenas nela.
Será reproduzida nas ruas, nos bares, nos encontros, nos trabalhos, nos transportes públicos, nas rodas de amigos. Neste ambiente ela se propaga numa velocidade ainda maior e sairá dos radares de monitoramento de redes. Encontrará absolutamente todos com predisposição a aceitar e desejar que tais mentiras sejam verdade.
A partir daí temos um território de solidificação de uma imagem e narrativa que se quer construir, e em muitos casos, ganham tintas com ares de salvamento messiânico. E qual o papel dos agentes midiáticos na produção e distribuição de desinformação? Aqui encontramos uma situação interessante. Muitas vezes, os veículos de imprensa através de suas pautas transformam a desinformação em câmara de eco. Ela será utilizada como matéria-prima para a produção de fake news.
Num mundo que lida com o déficit de atenção, as manchetes são construídas com o velho jogo de letras e imagens que levem o leitor à apenas ‘deduzir’ o seu conteúdo. A partir daí entramos no território da imaginação livre onde vale tudo. É muito usual termos manchetes que não têm absolutamente nada que ver com o conteúdo.
Em muitos casos – temos inúmeros exemplos disso – os veículos de imprensa se posicionam de modo a comprometer sua lisura em todo o processo. E nos últimos anos não têm escondido seu lado. Assim, temos o pior dos mundos. Uma realidade paralela sendo fortalecida pelos que deveriam combater as fake news e seus divulgadores.
É preciso que se diga para que fique bem muito claro: fake news não sai do vácuo! Ela é produzida, consumida, usada e distribuída em ambientes que são frequentados por todos nós.
segue…
Eliana Rezende Bethancourt – ER Consultoria em Gestão de Informação e Memória Institucional
Clique aqui para ler a íntegra deste artigo
Para comentar role a página até o box Comentário