Cruz e Jesus.
- abril 18, 2025
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Ele vem morrendo todos os anos, há mais de 2 milênios já... Todo dia, aos milhares, pela crueldade e mãos daqueles que se sentem os melhores.
Ele vem morrendo todos os anos, há mais de 2 milênios já... Todo dia, aos milhares, pela crueldade e mãos daqueles que se sentem os melhores.
Palowa Mendes
Belo Horizonte, MG, 18/04/2024
2.6 Minutos.
Menina, eu olhava para aquela imagem e não conseguia entender por que as pessoas foram capazes de martirizar um homem daquela forma.
Com o tempo e os estudos, descobri que milhares foram queimados, empalados, enforcados, decapitados, sufocados, eletrocutados, pulverizados e, mais recentemente, esfacelados por drones criados para matar de formas extremamente dolorosas.
Assim, nessa perspectiva, Jesus seria apenas mais um. Porém, todos eles — inclusive ele — têm algo em comum: são minorias, pobres, etnias consideradas inferiores, povos dominados ou mulheres que detinham saberes ancestrais. Essas pessoas são violentadas pela ganância, o maior mal do mundo.
A Sexta-Feira da Paixão sempre me remete ao sofrimento de milhões que, desde antes daquele calvário até hoje, são exterminados diariamente pela fome e por guerras com o mesmo propósito de dominação.
Como quando o Egito subjugou os núbios; Roma crucificou resistentes; a Europa devastou a África, escravizando e exterminando seus povos. Os indígenas das Américas foram dizimados; os turcos massacraram armênios; Stalin promoveu genocídios. Hitler planejou e executou o Holocausto; os EUA lançaram bombas atômicas, napalm no Vietnã e alimentaram ditaduras.
O apartheid oprimiu; guerras civis assolaram Congo, Nigéria, Somália, Mali e Sudão; as castas indianas perpetuaram desigualdades. E o genocídio palestino segue às mãos de judeus que outrora crucificaram o Cristo. Há ainda o extermínio diário de negros e pobres pelo mundo…
Tudo isso é movido pela ganância — a senhora Morte, dona da cruz —, que crucificou aquele que ousou proclamar: “O mundo é de todos e para todos”.
Que blasfemou ao dizer: “Somos iguais em direitos”. Que pregou a partilha, a solidariedade como caminho harmônico e o amor fraterno como fundamento da paz.
Mas a ganância jamais permitiria igualdade. O acúmulo, o poder e o domínio são sua tônica. Seja nos países do G8, que enriquecem sobre a miséria de bilhões, seja no cidadão comum que consome desenfreadamente. Indiferentes à fome alheia, desde que sua família e bens estejam seguros.
Os pobres devem ser controlados, subjugados e violentados para permanecerem submissos, calados e conformados em sua dor.
Ainda assim, aquela crucificação me dá certeza: mesmo sofrendo, aquele homem não desistiu de esperançar um mundo mais igualitário. Ele é exemplo para tantos que lutam por paz, equidade, harmonia entre humanos e natureza, e que buscam, diariamente, renascer na Páscoa da justiça.