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Explosão Química no Brasil – Desastre

Os pesticidas são assassinos silenciosos, invisíveis e implacáveis. São produtos químicos que podem ter um efeito trágico e duradouro na vida de uma pessoa, bem como criar consequências irreversíveis para o nosso precioso meio ambiente.

Monica Piccinini

Leeds, Inglaterra 08/11 de 2021.

2 Minutos

Esses produtos químicos são vendidos em grandes quantidades com enormes lucros pela insensível indústria agroquímica, sem investigações extensas, completas, transparentes e independentes.

Por que os pesticidas, que são uma classe de produtos químicos, não precisam passar por um regime de testes semelhante aos testes clínicos em que os medicamentos são submetidos?

Recentemente, a EPA (Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos) anunciou que encerrará o uso de clorpirifos, um organofosfato clorado de amplo espectro, pois está associado a problemas de neurodesenvolvimento e função cerebral prejudicada em crianças. Alguns países continuam a usar este produto químico tóxico, incluindo o Brasil.

O Brasil é o país com maior consumo de agrotóxicos desde 2008. Só em 2020, o faturamento do setor de agroquímicos foi superior a US $ 12,1 bilhões. A área tratada com agrotóxicos aumentou 6,9% em 2020, em relação ao ano anterior, para uma área de 1,6 bilhão de hectares. Um assombroso 1,05 milhão de toneladas de pesticidas foram aplicados no país em 2020.

Combustíveis fósseis e gases de efeito estufa são grandes contribuintes para a mudança climática, mas os pesticidas altamente perigosos (HHP’s), que afetam a saúde de grande parte da população e de nosso meio ambiente, não foram amplamente reconhecidos.

Organizações agroquímicas em todo o mundo, junto com a indústria do agronegócio, estão obtendo lucros substanciais às custas da vida e da saúde das pessoas, além de contribuir para danos à vida selvagem, contaminação da água, degradação ambiental e perda de biodiversidade.

Explosão Química no Brasil
 Em 2021 mais de 250 pesticidas venenosos e proibidos que afetam a saúde humana foram liberados no Brasil… (Img cedida)

Bayer, BASF, Syngenta, Corteva e FMC, membros do grupo de lobby Croplife International, são as cinco maiores empresas agroquímicas do mundo.

Pacote Venenoso de Jair Bolsonaro

A Lei de Praguicidas no Brasil, instituída em 1989, foi definida como:

“Os produtos e agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados à utilização nos setores de produção, armazenamento e processamento de produtos agrícolas, em pastagens, na proteção de florestas, nativas ou implantadas, e de outros ecossistemas, bem como ambientes urbanos, hidrológicos e industriais, cuja finalidade é alterar a composição da flora ou fauna, para preservá-los da ação nociva de seres vivos considerados deletérios; e substâncias e produtos, usados ​​como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento ”.

O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, recentemente incorporou o Decreto Presidencial 10.833 / 2021, alterando a lei de pesticidas de 1989, ao tornar o processo de aprovação de agrotóxicos ainda mais flexível, incluindo a aprovação de produtos químicos já proibidos nos Estados Unidos e na Europa.

Com a nova alteração, produtos químicos que causam câncer, mutações genéticas e malformações fetais terão aprovação para serem usados ​​e fabricados, caso seja determinado um “limite de exposição seguro”.

Além disso, a atual legislação brasileira não prevê um período mínimo para a renovação do licenciamento de agrotóxicos. Os agrotóxicos que estão no mercado brasileiro há mais de 4 décadas ainda são usados ​​hoje, sem nunca passar por uma avaliação das questões ambientais e de saúde.

É fato que o processo de homologação de agrotóxicos nunca foi tão facilitado, pois mais competência foi dada ao Ministério da Agricultura no processo de tomada de decisão, saindo da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e do IBAMA (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Naturais Renováveis Recursos) excluídos da decisão final.

Agro é POP (e as fábricas da morte)

Existem atualmente 3.477 pesticidas no mercado brasileiro, 40% de todos os produtos químicos foram aprovados nos últimos 3 anos, todos sob o governo de Bolsonaro. Só em 2020, foram 494 produtos autorizados, totalizando 997 novos produtos em apenas dois anos.

De acordo com recente relatório conjunto do IPEN (Rede Internacional de Eliminação de Poluentes) e ABRASCO (Associação Brasileira de Saúde Coletiva), 53% dos agrotóxicos licenciados no Brasil entre 2019 e 2020 foram fabricados na China, 22,1% no Brasil, 9,4% na Índia, 4,5% nos Estados Unidos e 3% em Israel.

Outra questão preocupante é o número de pesticidas ilegais contrabandeados da China. Segundo estudo da FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), pelo menos 25% dos agrotóxicos do Brasil são ilegais, contrabandeados pelo Paraguai com origem chinesa.

Explosão Química no Brasil - Desastre
3,5 toneladas de agrotóxicos contrabandeados em Maracaju / MS. A carga foi avaliada em cerca de US $ 1,2 milhão.  (Img. cedida).

Em janeiro de 2021, o Departamento de Operações de Fronteira (DOF / PM) apreendeu 3,5 toneladas de agrotóxicos contrabandeados em Maracaju / MS. A carga foi avaliada em cerca de US $ 1,2 milhão, segundo o Campo Grande News.

“O contrabando de agrotóxicos está crescendo no país na mesma proporção que a agricultura brasileira … Esse contrabando se tornou uma grande preocupação porque não é mais um mercado pequeno, mas uma grande economia controlada por gangues especializadas”, diretor do Instituto Brasileiro do Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras (Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras – IDESFLuciano Stremel Barros , em declarações ao Senado brasileiro em setembro de 2019.

Envenenamento acidental, suicídio, violência e mortes

Produtos químicos altamente tóxicos que já foram proibidos em muitos países, inclusive na União Europeia, ainda são usados ​​no Brasil. Muitos desses produtos são usados ​​como uma ferramenta de suicídio e violência.

O aldicarbe, um inseticida carbamato e um veneno ilegal para ratos, popularmente conhecido como “chumbinho”, é um dos produtos químicos usados ​​não só para suicídios, mas também para a prática de agressões.

Minha tia, agricultora, suicidou-se engolindo “chumbinho” há alguns anos. Quando ela foi encontrada e lamentou sua decisão, já era tarde demais, pois ela conheceu uma morte horrível e dolorosa. Este não é um caso isolado no Brasil e atinge os mais vulneráveis.

Em maio deste ano, 60 trabalhadores rurais foram levados às pressas para o hospital com sintomas de intoxicação por agrotóxicos na região metropolitana de Goiânia, depois que um avião espalhou agrotóxicos nos campos onde trabalhavam. A maioria relatou dores de cabeça, vômitos, tonturas e alguns desmaios.

Em 2018, foram registradas 475 intoxicações por agrotóxicos somente no Estado de Goiás. Em 2019, o número subiu para 516. 18% de todas as intoxicações foram causadas pelo glifosato. Também foram relatadas 99 tentativas de suicídio com agrotóxicos.

O número de acidentes e envenenamentos é muito pior do que o relatado. Os trabalhadores costumam relutar em relatar seus casos às empresas ou ao Instituto Brasileiro de Previdência Social (INSS). Muitos têm medo de denunciar as empresas ou buscar justiça, pois isso coloca em risco suas credenciais de emprego no futuro. Outros aceitam a palavra de campanhas destinadas a convencer os trabalhadores de que os pesticidas não são perigosos e que seus sintomas são causados ​​por estresse e cansaço.

Para os trabalhadores sem carteira de trabalho assinada, a situação é ainda pior. “Quando ocorre intoxicação, a empresa manda o funcionário para casa sem direitos nem nada. O INSS não pode fazer o pagamento do auxílio-doença porque não há comprovante de vínculo empregatício ”, explica Gabriel Bezerra, presidente da Confederação Nacional do Trabalhador Humano e Rural… (continua).

Leia a íntegra: https://monicapiccinini.com/2021/11/02/chemical-explosion-in-brazil/

Monica Piccinini é autora do  blog: https://monicapiccinini.com/

 

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Redação

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