Finalmente o Ano Começa
- março 15, 2022
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Onde é que Jesus entra nesta história de desigualdade? Ao oferecer a outra face, ao dar a Cesar o que é de Cesar, ao carregar uma cruz, ser
Ricardo Guedes
Belo Horizonte, 15/03 de 2022.
1 Minuto.
São dois os choques que a população passa durante o ano, o da realidade de março, e o da realidade de agosto.
No Brasil, a partir dos feriados do mês de novembro, o país começa a se anestesiar, numa espécie de uma “esquizofrenia coletiva” onde mais se gasta do que se produz. São os feriados de novembro, o mês de dezembro, o Natal, o Ano Novo, as férias de verão em janeiro, o Carnaval em fevereiro, o qual, finalmente, termina no desfile das Escolas de Samba na Praça da Apoteose da Marquês de Sapucaí.
Três meses de anestesia completa, como se nos guardássemos para os problemas que teremos de enfrentar, como Ulisses ao retornar de Troia, condenado pelos deuses a mares tenebrosos.
Em março, o brasileiro passa pelo seu primeiro choque de realidade no ano. Sai da letargia, faz as contas do quanto gastou, faz as contas do quanto não tem, e vai à luta embebido de um senso único de racionalidade. Tenta resolver, de última hora, todos os problemas que tem e os que não tem. Como o Dom Quixote de la Mancha, que luta contra o real e o irreal.
Passa o primeiro semestre do ano, e chegamos às férias de julho.
Todos acabam por gastar o pouco ou o que já não tinham. Na volta das férias, vem aí, segundo o dito popular, o “mês de agosto, mês do desgosto”.
É o mês de maior racionalidade do ano, onde o brasileiro descobre que nada mais tem, e que faltam apenas quatro meses para o final do ano, que começa a terminar novamente pelo início de novembro, com Baco se instalando de vez no princípio de dezembro.
No agosto, tudo acontece. Getúlio Vargas se suicida, os orçamentos público e privado são refeitos, os partidos se despertam para as próximas eleições, o que, no Brasil, é a própria tragédia.
Temos dois Brasis que convivem entre si, o econômico, e o antropológico. No econômico, convivemos com a “Belíndia” de Bacha, o do país rico parecido com a Bélgica, e do país pobre como o da então Índia, juntos, mas separados.
No antropológico, convivemos com a anomia e a frustração, tão bem caracterizado na maestria de Roberto Damatta em “O que faz do brasil Brasil?”, o primeiro com b minúsculo, do país da pobreza e da carestia econômica, o segundo com B maiúsculo, do ufanismo, de nossa música, do futebol, do carnaval, e da feijoada como ato social de congraçamento.
Como atribuído a Tom Jobim, “o Brasil não é para principiantes”. E assim vamos adiante.
Ricardo Guedes – Ph.D. Un. Chicago – CEO da Sensus