Fungos de Prata X COVID/Herpes
- maio 29, 2025
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Bioquímica avançada - Fungos (organismos vivos) e nanopartículas de prata (inorgânicos) tornarão o produto um híbrido, capaz de combater várias viroses.
Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP
Redação
São Paulo, 29/05/2025
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Testes realizados em hamsters mostraram que elas não só inibiram a infecção como também reduziram a carga viral no pulmão, amenizando, assim, a inflamação nos roedores. Este estudo, apoiado pela FAPESP, abre caminho para o desenvolvimento de sprays nasais e outros produtos para o combate de diversas doenças virais, entre elas HIV/Aids, herpes-zóster e gripe.
As nanopartículas de prata têm sido objeto de interesse da indústria farmacêutica devido à grande afinidade por proteínas. Dependendo do formato e tamanho, elas atraem e grudam nessas moléculas, inibindo a progressão de doenças.
“Por meio de análises computacionais, verificamos que as nanopartículas de prata produzidas em nosso laboratório se ligam à proteína spike. Esta é uma espécie de chave que o vírus SARS-CoV-2 usa para entrar nas células do hospedeiro e se replicar.“
Portanto, elas inibem a entrada do vírus na célula em 50%”, afirma Roberto do Nascimento Silva, professor do Departamento de Bioquímica e Imunologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP). O professor Roberto é o autor do estudo publicado na revista Current Research in Biotecnology.
Já os testes realizados em hamsters demonstraram que os efeitos do produto podem ir além da prevenção da COVID-19. “O mais interessante é que as nanopartículas não só impediram o vírus de entrar nas células. Eles também foram capazes de melhorar a inflamação pulmonar aguda, uma das piores complicações da COVID-19, mostrando-se um tratamento viável para a doença”, diz.
Contudo, os pesquisadores verificaram que as nanopartículas de prata previnem a ativação do inflamassoma. Ou seja, o complexo proteico existente nas células responsável pela resposta imunológica excessiva (tempestade de citocinas) na COVID-19 grave, Além disso, funcionam sobre a produção de interleucina-1beta (IL-1β), uma proteína atuante na resposta inflamatória.
“Entretanto, precisamos aprofundar o entendimento sobre qual mecanismo está envolvido na inibição da resposta inflamatória. Mas, dada a natureza altamente inflamatória da COVID-19, pode-se inferir que as nanopartículas de prata reduzem esse processo de dano celular. Geralmente associado à exacerbação da doença e às fatalidades”, conta Silva.
O trabalho contou com a colaboração de pesquisadores da FMRP-USP, Fiocruz, Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e Universidade de Brasília (UnB). O grupo produziu as nanopartículas de prata a partir do T. reesei, conhecido pela aplicação industrial na conversão de celulose – importante componente da biomassa vegetal – em glicose.
No laboratório, o fungo passa a se multiplicar em uma condição de pouco oxigênio. E, assim produzem uma série de enzimas redutoras, como uma biofábrica. Essas moléculas transformam a prata em nanopartículas de formato esférico. Entretanto, vale destacar que enzimas e proteínas presentes no meio de cultivo do T. reesei atuam como agentes redutores e estabilizantes. Pois facilitam a formação de nanopartículas de prata com tamanhos e formas controláveis.
“Ou seja, a produção biológica das nanopartículas de prata consiste em uma solução biotecnológica sustentável, pois evita o uso de químicos tóxicos.
Assim, essas nanopartículas podem ser utilizadas em formulações de sprays nasais, desinfetantes, revestimentos antimicrobianos. E/ou em dispositivos médicos para prevenir a propagação do vírus”, diz.
Silva ressalta ainda que o estudo, realizado com o objetivo de barrar a propagação do SARS-CoV-2, pode servir de base para o tratamento de outras doenças virais. “De fato, essa estratégia tem se mostrado muito interessante, pois gera produtos para agricultura e indústria médica e farmacêutica. Originalmente, meu laboratório investigava o uso de nanopartículas de prata para o combate de células tumorais na mama.
Com a pandemia, focamos nosso trabalho no combate ao SARS-CoV-2. A aplicação é ampla e já existem trabalhos em experimentação animal para o HIV e o vírus do herpes, por exemplo”, conta.
Embora a prata tenha um custo elevado, diz o pesquisador, a produção de nanopartículas pode ser escalonada. Justamente para gerar produtos de baixo custo. Todavia, outra questão importante é a dosagem.
“Porque A prata é tóxica. Por isso, utilizamos uma dosagem muito baixa, dez vezes menos que a dose considerada tóxica para o organismo. Logo depois de oito semanas o seu organismo consegue eliminar o metal. Portanto, o custo-benefício compensa”, afirma. “O próximo passo deste trabalho é patentear uma formulação farmacêutica e iniciar os testes clínicos.”
Leia a íntegra do estudo aqui – clique
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