Ao falar de mestres espirituais, a filosofia indiana corrige os termos “dia de nascimento” e “dia de morte”. Em vez disso, há o “dia de aparecimento” e o “dia de desaparecimento” no mundo material.

Mayara Gouveia

São Paulo, 22/11/2024
3 Minutos

“Destes mestres que recebemos o Conhecimento (Vedas). Ao estudar a Jyotish – a astrologia védica em língua portuguesa, ciência da luz ou ciência do brilho das estrelas – é muito importante buscar a compreensão dessa cosmovisão milenar. Nessa perspectiva, como dizíamos, há aqueles que atingiram a realização de sua forma espiritual eterna e podem ensinar, e há aqueles, como nós, que são almas condicionadas, isto é, almas ainda atreladas à influência dos três modos da matéria: ignorância, paixão ou bondade, alternadamente.

O que determina em quais momentos, de que forma e em que áreas da vida esses modos atuarão? Segundo a Jyotish, um dos aspectos a serem considerados é a posição dos chamados grahas no dia em que nascemos. Grahas não são exatamente como compreendidos numa percepção ocidental. Seria impreciso dizer somente que correspondem aos planetas. No saber ancestral indiano, não há separação entre humanidade e natureza e nada é considerado inútil ou desprovido de alma.

Portanto, estamos subordinados às estrelas, fato fácil de confirmar, porque somos nós que dependemos delas, não o contrário. Assim, uma posição de humildade diante disso é um ponto de partida para iniciar qualquer aprendizado.

Do que está além das aparências

Entretanto, dito isso, uma das principais funções da Jyotish é revelar fragmentos da história cósmica com que nosso personagem atual – que diariamente chamamos de “eu”, indicado nos Vedas como “falso ego” – se relaciona. Ou seja, o que é mais facilmente perceptível, quais são os frutos que cada um colheu, colhe e colherá em relação às ações materiais realizadas.

Jyotish – A Ciência da Luz

Aquilo que a ciência védica chama de karma, as “reações desejáveis ou indesejáveis” citadas no Bhagavad-gita. Assim, quem estuda a astrologia indiana necessariamente mergulhará numa cosmovisão transcendentalista, que aponta para uma subordinação da matéria ao desejo divino.

Somos instrumentos de uma música espiritual que, dentro da matéria, produzem histórias, mas não as originais, como se esse disco tocasse ao contrário. Ou, usando uma figura mais diretamente védica, na matéria vivemos à sombra da Pessoa do Infinito.

Aqui, a pergunta-chave é: em que ponto estamos na jornada de compreender quem somos espiritualmente? A Jyotish, além de nos indicar os assuntos com que geralmente nos preocupamos – melhores períodos para casar, fechar negócios etc. –, nos dá pistas em relação ao propósito oculto em tudo que vivenciamos…”

Para quem deseja saber mais a respeito desse e de outros temas védicos sem as distorções ocidentais, vale a pena procurar o grupo de estudos Ciência Milenar Indiana. Há, inclusive, um departamento voltado especificamente à Jyotish.

Artigo escrito no sagrado dia de desaparecimento de Srila Bhakti Pramod Puri Goswami Maharaj (14/11/2024).

CLÁUDIO NIGRO – Escritor e Roteirista
MAIARA GOUVEIA – Poeta, romancista, ensaísta, revisora de textos e professora. http://maiatelie.wordpress.com

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