..."os jogos eletrônicos, assim como o uso da internet ou o uso excessivo de celular acabam trazendo problemas com o sono, impulsividade, aumento de ansiedade, depressão, agressividade, violência,
Este é um tema que cada vez mais preocupa os pais, mas também os educadores, psicólogos, médicos e outros especialistas...
E o mais surpreendente, é que muitos pais estão tomando consciência do fato por meio dos próprios filhos: -“Mãe, acho que preciso de ajuda. Não consigo parar de jogar, só fico pensando nisso o tempo todo…” ML, 11 anos.
A fala transcrita aqui nos impacta por dois motivos: o sofrimento da criança e a negligência ou não percepção por parte dos pais. Mas por ora vamos falar sobre o que é esta dependência e quais os impactos para a infância. A síndrome da dependência digital, o medo irracional e incontrolável de ficar sem celular, sem aparelhos eletrônicos ou sem acesso digital, de modo geral, recebe o nome de Nomofobia.
Esta síndrome é descrita pelo CID, que é a Classificação Internacional de Doenças que foi lançada on-line em 2018 pela Organização Mundial da Saúde (World Health Organization -WHO). O CID É uma espécie de manual altamente confiável sobre doenças mentais e é uma base sólida para identificar tendências e estatísticas em saúde mental, em todo o mundo.
Está em sua décima primeira versão (CID 11) onde inclui como doença, o uso abusivo de jogos eletrônicos e outras tecnologias digitais. Quanto maior a dependência, maior a fobia. Também a OMS (Organização Mundial de Saúde) define a adicção ou vício como doença ou seja, a dependência digital, a nomofobia classificadas como patologias, mas por serem resultado de mudanças e avanços tecnológicos, muitos nem conhecem tal terminologia: non mobile phobia.
Doença: o uso abusivo de jogos eletrônicos e outras tecnologias digitais. (Foto: Internet)
Recentemente foram incluídos em estudos e pesquisas, mas com suficientes resultados e evidências científicas ao lado de outras, como as adicções às substâncias estimulantes (cocaína), euforizantes (ecstasy), sedativas (ansiolíticos) ou alucinógenas (cogumelos mágicos).
É Importante acrescentar que há uma outra classificação nosológica, ou ainda, classificação de doenças na área da psiquiatria, a Classificação Francesa dos Transtornos Mentais da Criança e Adolescente (CFTMEA, em francês), que também identifica tais comportamentos nocivos.
Mas, meu filho é saudável…
O Guia Saúde da criança e do adolescente na era digital, lançado em 2016 é um bom material para se ter mais informações, principalmente quanto às interferências e mudanças no desenvolvimento infanto-juvenil que deixa de ser saudável (5). Mas o que é excessivo? Qual o limite? Espero não frustrar você, leitor, mas em termos de evidência científica ainda não há um substrato comum entre os estudos e estes não são tão conclusivos quanto as correspondências entre tempo de uso e danos.
No entanto sabemos que os jogos eletrônicos, assim como o uso da internet ou o uso excessivo de celular acabam trazendo problemas com o sono, impulsividade, aumento de ansiedade, depressão, agressividade, violência, intolerância às frustrações, dentre outros. O imediatismo, a necessidade de terem tudo “num clic”, a falta de paciência é uma característica destes usuários que por si só não é promotor de seus desenvolvimentos, o qual é inerente o tempo, processos e compensações.
Já conhecemos muito como o cérebro de uma criança amadurece e se desenvolve, logo podemos fazer uso de nossas intuições, informações confiáveis e bom senso. Refletir, pensar sobre o que uma criança perde enquanto está olhando para as telas, o quanto fica desnorteada quando não tem uma tecla para clicar, são dicas. O número crescente de crianças obesas, aumento de problemas psiquiátricos na infância, também são outras observações evidentes que valem a pena colocar atenção.
O que já se sabe
Abaixo coloco o que já foi bastante divulgado, que são as diretrizes da Associação Americana de Pediatria (AAP), as quais você pode encontrar na BBC News(1)*: • Para crianças com menos de 18 meses, evite qualquer uso de tela além de chamadas de vídeo; • Pais de crianças com idades entre 18 e 24 meses que desejam introduzir o uso de mídias digitais devem escolher uma programação de qualidade e assistir junto com seus filhos para ajudá-los a entender o que estão vendo; • Para crianças de 2 a 5 anos, o uso de telas deve ser limitado a uma hora por dia e a programas de qualidade. Os pais devem assistir com os filhos; • Para crianças de 6 anos ou mais, imponha limites consistentes, garantindo que o tempo de tela não atrapalhe o sono e a atividade física.
Instituições de pesquisa nacionais e internacionais são unânimes em alegar que o uso deve ser sempre supervisionado, bem como deve ser evitado o uso excessivo e prolongado, assim como podemos encontrar depoimentos da Sociedade Brasileira de Pediatria.(5). Crianças menores de 2 anos: não deve ser usado; Crianças entre 2 e 5 anos: até 1 hora por dia; Crianças entre 6 e 10 anos: até 2 horas por dia; Adolescentes entre 11 e 18 anos: até 3 horas por dia, nunca “virar a noite”; Todas as faixas etárias: nada de telas durante as refeições e desconectar entre 1 a 2 horas antes de dormir.
O poder viciante dos games eletrônicos pode ser muito perigoso.(Foto: autor)
Cada família tem suas escolhas e dinâmicas e também precisamos ter em mente que possíveis reflexos ou danos do excesso de exposição não serão percebidos tão imediatamente, já que o cérebro infanto-juvenil está em processos de transformações e precisa de prioridades para se desenvolver em sua melhor potência.
E é também inevitável aceitarmos que a tecnologia digital veio para não voltar. Dados da pesquisa TIC Kiks Online(2018), realizada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), mostrou que 86% das crianças e adolescentes brasileiros, entre 9 e 17 anos, estão conectados-, portanto é necessário saber lidar e usá-la para o melhor.
Já dizia Paracelso, inquestionável médico do séc. XVI, “a diferença entre o remédio e o veneno é a dose”. Sugiro então aqui um modo inteligente, razoável de mobilizar os pais de crianças para possíveis sinais de alerta, baseado no RCPCH (Royal College of Paediatrics and Child Health) (1) e em outros.
Um acordo entre a família – observar
Aconselhando os pais e responsáveis a se questionarem: • O tempo de tela na sua casa é controlado? • O uso de telas interfere no que a família quer fazer? • Seu filho tem dormido bem e o suficiente? E seu humor, tem alterado? • Você consegue controlar o que a criança come durante o tempo de uso de tela? • A criança deixa de comer o que gosta para jogar ou usar o eletrônico? • Seu filho tem trocado constantemente as relações pessoais pelas digitais, evitando as primeiras? • Deixa de fazer outras coisas que se divertia só para usar o eletrônico? • Já mentiu para encobrir o uso de eletrônicos? Ou tenta disfarçar que usa? Tais questionamentos são mais efetivos do que colocar uma idade limite ou tempo limite para cada faixa etária, por incrível que pareça!
Inclusive para aqueles que são relutantes ao uso e se utilizam da informação que faz mal para os olhos, isso não é uma verdade científica. Então não a utilizem para convencer seus filhos, pois se eles aprenderam a usar a informação digital com mais competência vão saber que a Academia Americana de Oftalmologia alega que olhar direto para as telas não causa dano, mais pode ocasionar vista cansada ou a síndrome do olho seco, que se reverte com colírio lubrificante.
O pediatra Daniel Becker orienta o mesmo que orientamos: se quiser ter algum êxito com os filhos busque acordos familiares e sejam bons exemplos, do contrário causarão mais estresse e pior, a legitimidade da autoridade paternal tão necessária e importante, será “deletada” pelos filhos. Este é um preço ainda mais alto que todos pagarão, neste caso. Por outro lado, toda criança que pode estar exagerando na relação com os aparelhos e mundo digitais, pode ter pais que exageram… Será que tenho nomofobia?(2) Você tem dúvida ou quer refletir melhor se está exagerando ou não no uso do celular?
Algumas formas de intervenção, como terapia de apoio e de aconselhamento, terapia familiar, terapia cognitivo-comportamental, ajudam muito.(Img.: Internet)
Sintomas que se podem notar e onde buscar apoio
Abaixo alguns sinais nos adultos: 1.Checar o celular a cada dois minutos, de forma obsessiva; 2.Ter a impressão de que a toda hora o celular está tocando ou vibrando; 3.Em casos mais extremos, sintomas de abstinência na falta do aparelho, como taquicardia e sudorese; 4.Mentir sobre o tempo que gasta no celular; 5.Ficar com o humor alterado e apresentar irritação sempre quando o sinal da internet desaparece; 6.Ter o trabalho e as relações familiares ou com amigos em risco pelo uso excessivo do celular; 7.Tentar diminuir o tempo na internet sem qualquer êxito (fonte: BlogPsicologia Viva).
Infelizmente, ainda não encontramos um estudo que avaliasse a eficácia de qualquer tipo de intervenção terapêutica para jogadores adultos com sérios problemas de vício de jogos eletrônicos e também para crianças.
Mas há indícios de algumas formas de intervenção, como terapia de apoio e de aconselhamento, terapia familiar, terapia cognitivo-comportamental.
Outras técnicas como neurofeedback e terapia com óculos 3D precisam ser mais estudados. Para escolher o terapeuta ou a terapia ouça o profissional, peça exemplos, indicações confiáveis, e observe o que seu filho fala ou expressa sobre o mesmo.
E também é preciso dizer que os adictos apresentam formas aumentadas de vulnerabilidade enquanto indivíduo e costumam apresentar baixa tolerância à frustração, alta esquiva ao dano, ansiedade acima do normal e baixa estima.
Mencionamos os aspectos emocionais e psíquicos, mas não posso deixar de falar dos aspectos cognitivos, tão importante quanto um estudo feito por Vásconez Villavicencio, da Universidade Técnica de Ambato no Equador, o qual concluiu que a nomofobia afeta de modo significativo o processo de ensinoa prendizagem, de acordo com a população pesquisada.
Portanto, para prevenção de tristes e dolorosos cenários mentais, vale a pena cultivar a autoestima e o exercício dos limites com afeto e responsabilidade. Este “remédio” é muito menos custoso em vários sentidos. Vamos evitar que a síndrome nomofobia seja uma epidemia, mas que seja um alerta e um ampliar de consciência dos adultos em prol da saúde e bem-estar de seus filhos e crianças.
Para quem se interessa mais pela compreensão psicanalítica destes fenômenos pode procurar se aprofundar pelo trabalho de Rossano Cabral Lima.
Adriana Fóz Mestre em Ciências pelo Depto. de Psiquiatria e Psicologia Médica – UNIFESP / Educadora (USP) Especialista em Neuropsicologia/ (CDN/ UNIFESP)
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