O Populismo É !
- setembro 19, 2023
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Indefinido, por conta de múltiplos vetores e versões, o populismo nasce nas democracias e se encaixa nas diversas subcategorias da luta pelo poder político e econômico.
Indefinido, por conta de múltiplos vetores e versões, o populismo nasce nas democracias e se encaixa nas diversas subcategorias da luta pelo poder político e econômico.
Redação
São Paulo, 19/09/2023
2,6 Minutos
[N.E.: – Ou seja, entre outras coisas, a base de sua existência se assenta sobre a capacidade de comunicação do indivíduo político. Os discursos apelativos, feitos por generais e militares a frente de uma tropa, seja retórico ou erístico tem antecedentes filosóficos milenares. Foram amplamente utilizados por sofistas, aos quais se opunham Sócrates e seus discípulos, a partir de técnicas que evidenciavam o vazio das suas falas emotivas, provocativas, cuja intenção era apenas conquistar o coração, incitar a ação no sentido básico, apagar a mente e convencer o ouvinte de que estava certo. A maiêutica aplicada por Sócrates contra aqueles faladores os forçava a reconhecerem sua inépcia e ausência de fundamento nas verdades que defendiam.]
Para o professor Gabriel Rossi da ESPM a comunicação populista, seja ela de esquerda ou de direita, é aquela que estabelece uma relação direta e vigorosa com os seus súditos. Populistas transmitem as facetas inconscientes da alma nacional, assim como se colocam como os mestres e os peritos da obra política, que é o projeto de país. Vargas, por exemplo, nosso mais célebre representante, foi um arquiteto frio e pragmático do poder, mas alguém capaz de encantar as massas e criar um vínculo quase transcendental. Um mito que se personifica como ancião, pai: uma personificação do logos, pois sua palavra é a lei.
[N.E: – Vide Mussolini, Hitler, Trump, Le Pen, Berlusconi, Doria e Bolsonaro (patéticos), por exemplo entre os populistas de direita. Vargas, Perón, Hoxha, Chávez mais à esquerda.]
A obra “Psicologia das massas e Análise do Eu”, livro escrito originalmente no começo do século XX por Sigmund Freud, nos ajuda a compreender o fenômeno. O autor aponta que a quebra de laços sociais organizados e institucionalizados gera um pânico – diante do medo do fim das instituições, a pessoa troca um quinhão de liberdade por um quinhão de segurança, assim sendo, podendo ser livre, ela opta por adorar e idealizar o primeiro populista autoritário que surge em sua frente, o líder demagogo que promete dar segurança diante de tantas incertezas.
Outra explicação recai sobre a própria natureza da comunicação midiática contemporânea. Os algoritmos moldam a política e a sociedade; e os projetos de poder com mais visibilidade e engajamento nas redes são aqueles que, infelizmente, flertam com narrativas que se distanciam dos fatos, cultuam o personalismo, alimentam a tribalização de grupos distintos, tirando proveito da dinâmica de confrontos diretos, dos atos beligerantes e da fragmentação polarizada das discussões.
O autoproclamado “anarcocapitalista” Javier Milei, candidato à Presidência da Argentina, que como todo populista mais confortável com seus discursos filosóficos e performances teatrais do que com a aplicabilidade de suas propostas. Por isso usa a comunicação como principal aliada. Com um ar que remete muito mais a um intelectual excêntrico do que a um candidato ao Executivo, ele parece ter “entendido” o teatro da política atual.
Javier entendeu a natureza do entretenimento e da estética na interação com o eleitor. Seu trabalho digital é forte e massivo: um único vídeo chega a ter perto de oito milhões de visualizações. E embora seu público não seja apenas composto por jovens, o candidato da coalizão “A Liberdade Avança” entendeu algo que muito políticos parecem ignorar. A geração z não está interessada na política formal, partidária, dura. É preciso falar com esse público das formas mais idiossincráticas, até mesmo divertidas, sem tentar impor ideologias fixas, pré-moldadas.
Os seus discursos (como os de outros “políticos” da direita) ora marcados por palavras de baixo calão, são feitos para incendiar a esfera pública. Para entreter seus seguidores mais calorosos (como em um programas de auditório, ou aqueles cultos de bispos na TV). Além de deslegitimar o sistema político da Argentina (ataque às instituições, ao jornalismo, a intelectualidade e a academia), busca plantar dúvidas no eleitor e criar desconformidade social. Candidato à presidência, recentemente chamou o Papa Francisco, que é argentino, de “representante do demônio”, por “incentivar o comunismo”. Em outra oportunidade, xingou visceralmente o prefeito de Buenos Aires.
As bases do populismo ainda são a mesmas, mas Milei parece disposto a levá-las para um outro nível. O sinal de alerta na América do Sul deve ser ligado.
Gabriel Rossi – Professor, Sociólogo, Pesquisador e Coordenador do Master em Comunicação Política e Sociedade – ESPM.
Outros livros (abordagens) que podem servir de apoio para um melhor entendimento:
*Poliarquia: Robert Alan Dahl
*A Política como Vocação: Max Weber
*Divisão do trabalho Social: Émile Durkheim
*Dois textos avulsos: Mecanismos Ocultos do Capitalismo
e Populismos e Democracia