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Plataformização da Gestão Escolar em SP

Em tempos sombrios, onde a chegada da parceria público-privada na Educação Pública do Estado de São Paulo, acompanhada da adoção de modelos diversos de plataformas digitais para aferir todo o processo pedagógico, é preciso parar e pensar profundamente sobre o novo papel do gestor escolar.
Plataformização da Gestão Escolar em SP
Roberta Maria Bueno Bocchi

Muitos pesquisadores ao longo da história pensaram a gestão escolar. Geraldo José Sant’Anna, Almir Vicentini, Casemiro de Medeiros Campos, Heloisa Lück, Adelar Hengemühle, entre outros, dedicaram tempo e estudo pesado no caminho de desvendar uma gestão escolar que considere a completude escolar, porém essa completude agora parece não mais existir.

Diante das diversas plataformas digitais adotadas pelo Estado para aferir resultados avaliativos, presença de alunos, tarefas de casa, entre outras atividades, o gestor escolar se transformou em um “desesperado cuidador” das plataformas digitais de sua escola. Ele trabalha conferindo diariamente as digitações necessárias, cobrando agilidade/pontualidade de todos e lutando para manter o bom ranking de sua Unidade Escolar. Do contrário, a permanência em sua função estará ameaçada pelo Estado.

O cuidado com um currículo escolar dinâmico e participativo, a tão falada “gestão democrática”, na qual os diversos Conselhos Escolares se reuniam com tempo e espaço para decidir sobre os rumos educacionais da escola, a liberdade pedagógica e a curiosidade cognitiva, definitivamente, parecem ter ficado no passado.

O discurso do moderno e tecnológico

Com a chegada das parcerias público-privadas nas escolas, onde a gestão pedagógica realizada pelos profissionais da Educação dividirá espaço com uma gestão privada, ocupada com as questões financeiras e administrativas da escola, sobrará mais tempo ao gestor pedagógico para “cuidar” das diversas plataformas digitais. Afinal, será o resultado dessas plataformas que indicará a “qualidade” educacional da escola. Quantidade e qualidade nunca estiveram tão embrulhadas.

A plataformização educacional e a parceria público-privada parecem chegar sem aviso, sem tempo e espaço para recusas. Vêm marcadas pelo discurso da modernidade, dos novos tempos, do avanço tecnológico e da otimização de recursos financeiros. Há educadores que lutam contra essa nova forma de educação pública e há aqueles que se adaptam e percebem que preencher planilhas e usar slides prontos pode ser o caminho. Triste dicotomia educacional!

Abandono da estrutura funcional e física?

Diante desse cenário, de discursos modernos e tecnológicos, é preciso questionar se algumas questões básicas pendentes para que se possa ter Educação serão enfim resolvidas. Por exemplo, a garantia de acesso dos alunos à escola; aos que dependem de condução, que lhes sejam oferecidos transportes que obedeçam aos princípios determinados em Lei. Estado oferece veículos equipados com todos os itens de segurança, próprios ao tipo de transporte a que se destinam, tendo como objetivo maior a segurança e o bem-estar do aluno?

Os laboratórios de Química, Física e Biologia, as “bibliotecas” e não “salas de leitura” com acervo atualizado com a presença de uma bibliotecária? Quadras cobertas? Espaços adequados para recreação e alimentação? Os itens de acessibilidade? Por conseguinte, a necessária presença de profissionais bem remunerados. Que não precisem de outra atividade para completar sua jornada diária de trabalho e seu orçamento mensal? E por fim, implantação de projetos e programas educacionais que correspondam às reais necessidades da comunidade escolar? Consultá-la antes da implantação desses mecanismos, os quais devem visar ao crescimento humano dessa comunidade.

Só cosmetologia, bits e etiquetas não resolvem

As questões aqui destacadas são essenciais para entender a política voltada à Educação Básica Pública do Estado de São Paulo e diretamente relacionadas ao financiamento público dessa Educação. Para que essas condições sejam plenamente garantidas, é necessário que haja o envolvimento dos sujeitos educadores e educandos durante todo o processo educacional, participando e decidindo sobre as políticas públicas a serem implantadas pelo Estado, tendo como objetivo, tornar a sociedade mais justa.

Essa participação está condicionada à vontade do querer envolver-se nas questões financeiras e pedagógicas. São condições fundamentais para uma atuação mais pontual nas questões que envolvam a Educação Pública. Valorizar a formação de Conselhos e Associações que realmente fiscalizem e tenham voz de decisão sobre os gastos educacionais. Instituições confiáveis que briguem e zelem pela descentralização de verbas públicas destinadas a setores que exijam urgência de atitudes. Passos importantes para que a escola possa dar continuidade ao seu trabalho em tempo que não cause ainda mais prejuízo aos alunos.

Roberta Maria Bueno Bocchi
Dra. em Educação, Pedagoga, Pesquisadora em Neurociências, Supervisora de Ensino

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Redação

ÆscolaLegal é um esforço coletivo de profissionais interessados em resgatar princípios básicos da Educação e traduzir informações sobre o universo multi e transdisciplinar que a envolve, com foco crescente em Educação 4.0 e além, Tecnologia/Inovação, Sustentabilidade, Ciências e Cultura Sistêmica. Publisher: Volmer Silva do Rêgo - MTb16640-85 SP - ABI 2264/SP

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