17/05/2025
Ciências Economia Política Sustentabilidade

Quem quer Terras Raras Brasileiras?

  • fevereiro 19, 2025
  • 0

Depois do pau-brasil, do ouro, prata e pedras preciosas, além dos cérebros, os grandes países estão atrás de nossas terras raras.

Quem quer Terras Raras Brasileiras?

Usadas para quase tudo em tecnologia tualmente as terras raras são um conjunto de metais e óxidos especiais utilizados na construção dos mais modernso computadores, foguetes, energia e sistemas de armas de ataque e defesa.

Onde se localizam no Brasil. (Img. reprodução)

E a demanda cresce em altíssima velocidade. Se em 2020 foram extraídas 240 mil toneladas, em 2024 a produção global chegou a cerca de 390 mil toneladas. Esta dados são segundo dados do Serviço Geológico dos Estados Unidos. E a tendência é que, à medida que mais tecnologias são produzidas e desenvolvidas, esse número aumente. Estimativas da Agência Internacional de Energia apontam que, até 2040, a demanda por terras-raras aumentará cerca de sete vezes.

Reciclar é bom e faz bem ao planeta

Embora as fontes de terras-raras sejam abundantes pelo planeta, minerá-las implica desafios e grandes impactos ambientais, o que pode tornar difícil atender os níveis da demanda. Esse descompasso tem servido de estímulo para a busca por outras possibilidades de extração desses componentes. No Instituto de Química da Unesp (IQ-Unesp), campus de Araraquara, os estudos nessa área vêm sendo desenvolvidos desde sua criação, em 1961. O professor do IQ Sidney José Lima Ribeiro é um dos pesquisadores que acompanhou a história desse campo. Ele vem desenvolvendo pesquisas na área desde o seu mestrado, há quase 40 anos. Na última década, o docente passou a coordenar estudos voltados para a reciclagem de terras-raras, a partir de um processo conhecido como “mineração urbana”.

Ou seja, quando lâmpadas, computadores, celulares e outros dispositivos eletrônicos param de funcionar e são jogados no lixo. Porém, os minerais ali contidos podem ser reaproveitados para novas aplicações. “Desenvolvemos mecanismos para tratar rejeitos de equipamentos eletrônicos, que possuem terras-raras em grandes quantidades, e procuramos extrair e purificar essas substâncias”, explica Ribeiro. Todavia, para o pesquisador, o Brasil está perdendo a oportunidade de minerar as terras-raras devido à baixa reciclagem. Em 2022, o Brasil foi o segundo país que mais gerou lixo eletrônico, totalizando 2,4 milhões de toneladas, entretanto, menos de 3% foram recicladas.

Recuperadas e reutilizadas

As pesquisas do grupo coordenado por Ribeiro tiveram início em 2018, com financiamento da FAPESP, por meio de um acordo de colaboração entre países latinos e europeus. Naquela época, o grupo focou a recuperação do material a partir de lâmpadas fluorescentes descartadas. Esse tipo de lâmpada funciona a partir da excitação de um gás no interior do tubo, o que gera a luz a partir da emissão de radiação ultravioleta. Assim, as terras-raras compõem o pó que reveste os tubos de vidro, e são as responsáveis por converter a radiação UV em luz visível.

“À época, graças ao financiamento da FAPESP, pudemos comprar uma máquina que separa os componentes da lâmpada: o vidro, as partes metálicas e o pó”, conta Ribeiro. Ou seja, o pó normalmente é composto por uma mistura de luminóforos (isto é, substâncias que produzem luz) contendo diferentes terras-raras, como o Európio, o Ítrio e o Térbio. Com o material em mãos, o grupo desenvolveu metodologias para separar as terras-raras do restante dos elementos indesejados.

Bactérias que produzem ácido sulfúrico

O projeto foi intitulado “Tesouros no lixo: desenvolvimento de novos materiais e estratégias para extração, recuperação e aplicação de elementos terras-raras em resíduos eletrônicos e da indústria do petróleo”. Financiado pelo CNPq tem como objetivo recuperar terras-raras a partir de material eletrônico descartado. Mas, também a partir de catalisadores da indústria de petróleo. A ideia é reciclar para aplicá-las no desenvolvimento de novos materiais. Assim, sob a orientação da professora Denise Bevilaqua, também do Instituto de Química da Unesp, os pesquisadores utilizam uma bactéria chamada Acidithiobacillus thiooxidans, conhecida por produzir ácido sulfúrico.

Nesse caso, a recuperação do material ocorre pelo processo de biolixiviação. Como o próprio microrganismo produz os compostos químicos utilizados, essa é considerada uma técnica mais sustentável para extrair os metais dos minérios.

Malena Stariolo Jornal da UNESP

Compartilhe: