Quem quer Terras Raras Brasileiras?
- fevereiro 19, 2025
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Depois do pau-brasil, do ouro, prata e pedras preciosas, além dos cérebros, os grandes países estão atrás de nossas terras raras.
Depois do pau-brasil, do ouro, prata e pedras preciosas, além dos cérebros, os grandes países estão atrás de nossas terras raras.
São Paulo, 19/02/2025
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[N.E.: Elas estão na Amazônia, no Cerrado, em áreas da Mata Atlântica. As grande multinacionais, especialmente dos EUA e China têm enorme interesse em minerá-las. Os europeus também. Desta forma o solgan O Brasil é dos Brasileiros se sobrepõe em larga monta sobre os interesses de falsos patriotas que querem a ‘América grande de novo’ atrás de migalhas para si, ao se entregarem de corpo e alma, e os nossos tesouros naturais aos planos de Tio Sam.]
Entretanto, pesquisadores da Unesp buscam na mineração urbana novas alternativas para a obtenção de terras-raras. Metais são amplamente usados na indústria e têm importância fundamental na transição energética. Estudos desenvolvidos no Instituto de Química permitem recuperá-los a partir de aparelhos eletrônicos descartados, e podem ajudar a diminuir dependência do Brasil de importações vindas da China, hoje a principal fornecedora mundial Óxidos de terras raras.
Em Duna, clássico da ficção científica escrito por Frank Herbert, somos apresentados à especiaria. Um pó natural precioso capaz de impulsionar naves espaciais em longas jornadas pela galáxia. Grande parte da trama da saga gira em torno de embates políticos entre facções (gangues e governos internacionais) que buscam deter o monopólio de produção e comercialização da especiaria, uma vez que ela é essencial para manter em atividade a base tecnológica da civilização.
Quem quer Terras Raras Brasileiras?
Entretanto, na vida real, a especiaria não existe. Porém, cada vez mais as nações terrestres competem entre si para assegur ar o acesso às chamadas terras-raras. Esse nome designa um grupo de 17 metais da Tabela Periódica, que possuem propriedades ópticas e magnéticas especiais. Portanto, são essenciais para o funcionamento de quase qualquer dispositivo optoeletrônico e magnético. Elas estão presentes em lâmpadas fluorescentes, fibras ópticas para telecomunicações, lasers, equipamentos médicos, reatores nucleares de submarinos e até refinarias de petróleo.
Provavelmente, a tela em que você está lendo este texto contém terras raras em sua composição. Além de já serem fundamentais para a tecnologia em que se baseia nossa vida moderna, elas também se mostram essenciais para o projeto de transição energética. Uma vez que estão presentes na composição dos ímãs e baterias que são empregados em tecnologias que se baseiam em energias renováveis.
E a demanda cresce em altíssima velocidade. Se em 2020 foram extraídas 240 mil toneladas, em 2024 a produção global chegou a cerca de 390 mil toneladas. Esta dados são segundo dados do Serviço Geológico dos Estados Unidos. E a tendência é que, à medida que mais tecnologias são produzidas e desenvolvidas, esse número aumente. Estimativas da Agência Internacional de Energia apontam que, até 2040, a demanda por terras-raras aumentará cerca de sete vezes.
Quem quer Terras Raras Brasileiras?
Embora as fontes de terras-raras sejam abundantes pelo planeta, minerá-las implica desafios e grandes impactos ambientais, o que pode tornar difícil atender os níveis da demanda. Esse descompasso tem servido de estímulo para a busca por outras possibilidades de extração desses componentes. No Instituto de Química da Unesp (IQ-Unesp), campus de Araraquara, os estudos nessa área vêm sendo desenvolvidos desde sua criação, em 1961. O professor do IQ Sidney José Lima Ribeiro é um dos pesquisadores que acompanhou a história desse campo. Ele vem desenvolvendo pesquisas na área desde o seu mestrado, há quase 40 anos. Na última década, o docente passou a coordenar estudos voltados para a reciclagem de terras-raras, a partir de um processo conhecido como “mineração urbana”.
Ou seja, quando lâmpadas, computadores, celulares e outros dispositivos eletrônicos param de funcionar e são jogados no lixo. Porém, os minerais ali contidos podem ser reaproveitados para novas aplicações. “Desenvolvemos mecanismos para tratar rejeitos de equipamentos eletrônicos, que possuem terras-raras em grandes quantidades, e procuramos extrair e purificar essas substâncias”, explica Ribeiro. Todavia, para o pesquisador, o Brasil está perdendo a oportunidade de minerar as terras-raras devido à baixa reciclagem. Em 2022, o Brasil foi o segundo país que mais gerou lixo eletrônico, totalizando 2,4 milhões de toneladas, entretanto, menos de 3% foram recicladas.
Quem quer Terras Raras Brasileiras?
As pesquisas do grupo coordenado por Ribeiro tiveram início em 2018, com financiamento da FAPESP, por meio de um acordo de colaboração entre países latinos e europeus. Naquela época, o grupo focou a recuperação do material a partir de lâmpadas fluorescentes descartadas. Esse tipo de lâmpada funciona a partir da excitação de um gás no interior do tubo, o que gera a luz a partir da emissão de radiação ultravioleta. Assim, as terras-raras compõem o pó que reveste os tubos de vidro, e são as responsáveis por converter a radiação UV em luz visível.
“À época, graças ao financiamento da FAPESP, pudemos comprar uma máquina que separa os componentes da lâmpada: o vidro, as partes metálicas e o pó”, conta Ribeiro. Ou seja, o pó normalmente é composto por uma mistura de luminóforos (isto é, substâncias que produzem luz) contendo diferentes terras-raras, como o Európio, o Ítrio e o Térbio. Com o material em mãos, o grupo desenvolveu metodologias para separar as terras-raras do restante dos elementos indesejados.
Com o sucesso das pesquisas envolvendo lâmpadas fluorescentes, a partir de 2022 o grupo expandiu os estudos para testar a extração de terras-raras a partir de outros materiais. Também desenvolveram uma nova metodologia que envolve a ação de bactérias.
O projeto foi intitulado “Tesouros no lixo: desenvolvimento de novos materiais e estratégias para extração, recuperação e aplicação de elementos terras-raras em resíduos eletrônicos e da indústria do petróleo”. Financiado pelo CNPq tem como objetivo recuperar terras-raras a partir de material eletrônico descartado. Mas, também a partir de catalisadores da indústria de petróleo. A ideia é reciclar para aplicá-las no desenvolvimento de novos materiais. Assim, sob a orientação da professora Denise Bevilaqua, também do Instituto de Química da Unesp, os pesquisadores utilizam uma bactéria chamada Acidithiobacillus thiooxidans, conhecida por produzir ácido sulfúrico.
Nesse caso, a recuperação do material ocorre pelo processo de biolixiviação. Como o próprio microrganismo produz os compostos químicos utilizados, essa é considerada uma técnica mais sustentável para extrair os metais dos minérios.
Quem quer Terras Raras Brasileiras?
[N.E.: Ou seja, reciclar é um excelente negócio e seus equipamentos velhos têm algum valor, não? A dificuldade de minerar na natureza, a destruição que pode causar ao meio ambiente, talvez ainda não compense até que se tenha tecnologia e métodos garantidos de minimizar ao máximo os impactos.]