Sai Celular. Entra quem?
- novembro 18, 2024
- 0
Jogos de tabuleiro, artes (música, pintura, teatro), artes manuais, atividades físicas e muita ludicidade. Substituição além da eletrônica, criativa, animada, integradora...
Jogos de tabuleiro, artes (música, pintura, teatro), artes manuais, atividades físicas e muita ludicidade. Substituição além da eletrônica, criativa, animada, integradora...
Redação
São Paulo, 18/11/2024
5,6 Minutos.
Eles estavam na mesa há séculos, décadas, antes das peripécias eletrônicas começarem a desarticular as camadas atômicas do cérebro humano.
A Wikipedia diz que “os jogos de tabuleiro utilizam as superfícies planas e pré-marcadas como o xadrez, com desenhos ou marcações de acordo com as regras envolvidas em cada jogo específico”. Mas, é muito mais do que isso. Eles nos ensinam, num resultado de abstração que as tecnologias devem servir aos humanos que as desenvolvem, e não o contrário.
O Xadrez, por exemplo, tem uma longa história que remonta a Índia, bem antes do Século I cristão ocidental. Um rei preocupado com a fome das pessoas em seu reino pediu para um dos seus melhores sábios que resolvesse a questão. O ancião então fez uma brincadeira de matemática, usando saquinhos de arroz em um tabuleiro 8×8. No primeiro quadradinho do tabuleiro, representando uma área a ser cultivada, colocou um saquinho de arroz, no segundo quadrinho um saquinho com 8 vezes mais arroz, no terceiro idem, no quarto também, sucessivamente até chegar a um número incrível de arroz produzido e armazenado, após repetir a operação numa progressão geométrica de 8 elevado a 64, que era o número total de quadrinhos do tabuleiro.
O rei adorou a ideia e mandou imediatamente coloca-la em execução. E de um saquinho de ouro ao sábio que saiu feliz da vida! Após resolver o dilema de como superar a fome de seu povo, e inteligente como tem de ser todo rei, chamou seu melhor general estrategista e discutiram a ideia de fazer o mesmo com seus exércitos a fim de defender seu território, agora rico em alimentos. Ele entendeu rapidamente que despertaria a atenção de outros monarcas interessados naquelas riquezas, alguns poderiam invadir, outros gostariam de negociar. E se preparou.
Seu general guerreiro chamou outros sábios militares e, após várias discussões, decidiram dividir o tabuleiro em duas partes iguais. Metade representando seus exércitos e a outra metade os inimigos. Eram 32 quadrinhos para cada lado. Em quatro (4) fileiras de oito quadrinhos para o seu exército, e em cada quadrinho haveria um tipo – simbolicamente – de habitantes, servos do de seu reino, com uma função determinada. Na primeira fileira a defesa militar, e a inteligência (conhecimento, espiritualidade, intelectualidade de seu reino) e os reis e rainhas.
Nas duas extremidades do tabuleiro as Torres, a proteção fixa dos seus castelos. Cada castelo poderia ser a capital das várias cidades de um reino. Em seguida a Cavalaria, uma força militar capaz de repelir diversos tipos de ataque e, ao mesmo tempo também atacar. Em seguida, num movimento concêntrico em direções e em sentidos iguais, à Rainha e ao Rei (centro e coração do reino) estavam os Bispos, a intelectualidade da época, com seus conselhos e conhecimentos. Ambas posições repetidas e colocadas à esquerda e a direita do casal real.
A frente de todos, na primeira linha de combate os peões, os soldados, que se bem organizados poderiam chagar ao rei a a rainha inimigos e vencer a batalha. Obviamente, todas estas peças trabalhariam em conjunto, em obediência a uma estratégia única, como um só corpo, com um só objetivo, ainda que numa guerra algumas batalhas tenham sentidos e particularidades específicas. Contudo, ganhar é o fim.
Sai Celular. Entra quem?
Os jogos podem ser de estratégia pura, ou sorte (por exemplo, rolagem de dados), ou uma mistura dos dois. Geralmente, têm um objetivo que cada jogador pretende alcançar. Os primeiros jogos de tabuleiro, como o xadrez, representavam uma batalha entre dois exércitos, como diz a história. Porém, a maioria dos jogos de tabuleiro modernos ainda são baseados em derrotar os jogadores adversários de acordo com as regras.
Atualmente, há tipos diversos de jogos de tabuleiro. Sua representação pode variar de situações da vida real a jogos abstratos, aparentemente sem nenhum fundamento outro senão diversão e desenvolvimento de habilidades pessoais. Há também jogos de cartas – o baralho tradicional é bem parecido como o xadrez, mas com regras diferentes. Nele a sorte é a primeira condição. Em seguida e que vem a estratégia.
As regras e modos também podem variar, como no jogo-da-velha, jogado em pedaços de papel e caneta/lápis, até os mais complexos que recriam ambientes e situações abstratas, em que vários jogadores podem atuar. Um contra o outro, ou coletivamente, como o próprio futebol, vôlei e basquete, o polo aquático, em que todos reproduzem estas condições, com regras específicas. Em um jogo não há inimigo, há competidores, adversários. Não é guerra, embora as possa simbolizar.
Os jogos, ensinam, inclusive, que há regras a serem seguidas e que devemos obedecê-las. Senão o jogo descamba para a animalidade pura, insensível, preto e branco, vida e morte. Crueza.
Sai Celular. Entra quem?
Para cada jogo há um tempo variável de aprendizado, não necessariamente relacionado com o número ou a complexidade das regras. Alguns jogos com estratégias profundas
(por exemplo, xadrez ou Go, Gamão) possuem conjuntos de regras relativamente simples, e mesmo assim podem ser mais difíceis de aprender. Jogos de tabuleiro não são apenas uma alternativa de lazer. Não vão apenas substituir os celulares, se proibidos em sala de aula com a sanção governamental. Estes terão o seu tempo de uso garantidos com coerência. Entretanto, a prática dos jogos de tabuleiro incentiva a capacidade de memória, ajudam a desenvolver o raciocínio lógico e abstrato, e claro junta a galera em momentos de convivência e alegria.