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“1984” – Semelhanças com as Redes Sociais

“1984” de George Orwell, suas semelhanças com a atualidade e o uso saudável das Redes Sociais. Clássico moderno publicado em 1949 continua promovendo reflexão sociopolítica.

Fadia Pereira Anaisse

Belém, PA – 07/05 de 2021.

2 Minutos

O último romance de George Orwell aborda a história de Winston, que vive em uma sociedade regida pelo totalitarismo, onde as atividades consideradas relevantes são feitas coletivamente. Porém as pessoas vivem sozinhas. Todos os membros da sociedade são vigiados diuturnamente pelo líder do partido, o Grande Irmão, de diversas formas, especialmente através de “teletelas” – dispositivos de telecomunicação que transmitem avisos e mensagens do Partido, e filmam tudo o que a população faz para controlar a grande massa – figura conhecida como onisciente e onipresente, que representa o mais absoluto poder da Oceania, local onde se passa a ficção.

Além disso, o partido manipula a história, ao alterar registros históricos, bem como implementar uma nova linguagem, a “novafala” (novilíngua) que eliminava boa parte das palavras existentes e criava outras com significados contraditórios, a fim de impedir pensamentos críticos, tidos como ilegais pelo partido, e uma possível reação contrária da população, frente à tantas formas cruéis de manipulação política. Outra estratégia usada pelo poder consiste no “Duplipensamento”, o qual representa a crença em ideias e pensamentos opostos, simultaneamente.

No decorrer da história, Winston se encontra extremamente frustrado por viver sob uma opressão extremamente rígida e rigorosa, e decide comprar secretamente um diário para escrever seus pensamentos, o que era considerado ilegal.

Em um determinado momento, o personagem principal conhece O’Brien, membro pertencente ao partido, que Winston, porém, pensava fazer parte da confraria, um lendário grupo, que seria o principal oponente ao partido, e trabalhava para derrubar o poder totalitário da Oceania.

Capa da 1ª Edição do livro 1984 de George Orwell em 1949. “1984” - Semelhanças com as Redes Sociais
Capa da 1ª Edição de “1984” em 1949. (Foto: Internet)
“Guerra é paz; Liberdade é escravidão; Ignorância é força”

Estas eram as palavras de ordem do partido. O Ministério da Verdade, departamento ligado ao poder absoluto, ironicamente inspecionava e alterava toda a produção musical, literária e jornalística local. Já o Ministério da Pujança controlava a economia, e o Ministério do Amor monitorava a polícia, as leis e a ordem. Por fim, o Ministério da Paz cuidava das guerras.

No seu local de trabalho, obviamente vinculado ao partido, Winston se depara com Júlia, e com o passar do tempo, os dois embarcam num romance secreto, o que passa a colocar a vida de ambos em risco, já que era proibido se relacionar amorosamente.

Com isso, é possível comparar certas questões presentes no universo de “1984” com a atual conjuntura da sociedade. A semelhança entre o controle exercido pelo Grande Irmão e os algoritmos é uma delas. É notório que a maioria dos usuários de internet são manipulados pelo bombardeio de propagandas e mensagens indesejadas aos quais são expostos diariamente. Além disso, as televisões altamente tecnológicas também divulgam informes publicitários a todo instante, e são capazes de nos observar.

O contraditório “duplipensamento”, que acredita em questões opostas ao mesmo tempo, e as fake news, que comprometem a verdade ao manipular notícias, e registros para favorecer determinadas ideologias na internet, fazendo com que muitas vezes as tecnologias sejam usadas para manipular e controlar as massas.

O Controle do passado, do presente e do futuro pode ocorrer atualmente mediante o uso da internet para se fazer pesquisas a respeito de algum tema, que pode ter suas referências registradas e editadas por qualquer indivíduo, tornando a veracidade de uma informação extremamente vulnerável, uma vez que qualquer pessoa pode modifica-la sem necessariamente comprovar a realidade.

Quem controla a informação detém o poder, e os indutores de falsas realidades!

Em relação ao controle das compras que os indivíduos podem efetuar na obra de George Orwell, é um aspecto semelhante ao vestígio da personalidade de pessoas que na maioria das vezes usam cartões de crédito e débito para fazer compras. A partir da coleta de dados a respeito das preferências, hábitos e gostos pessoais, as empresas passam a ter mais uma forma de criar conteúdos específicos para alcançar um determinado público.

Quanto às “teletelas” nas ruas da Oceania, alastrando mensagens e propagandas do Partido, estas podem ser comparadas à painéis digitais e outdoors em geral propagando mensagens que estimulam o consumismo na sociedade. Com isso, nota-se que a maioria das pessoas está sujeita e acostumada a visualizar diversos tipos de informações, sejam notícias ou campanhas publicitárias, diariamente.

É importante ter em mente que as empresas que controlam mídias digitais detêm informações diversas sobre seus usuários. O que faz com que tais ferramentas possam criar novos estímulos para induzir seus usuários a consumir mais, e torná-los viciados em redes sociais.

“1984” - Semelhanças com as Redes Sociais . Controle mental e distanciamento da realidade -  individualismos.
“1984” – Semelhanças com as Redes Sociais – Controle mental e distanciamento da realidade – individualismos. (Foto: Internet)

Inspirada em leituras sobre o tema, entendo que em tempos de pandemia, onde se passa a utilizar ainda mais a internet como opção de lazer, é fundamental que se faça o uso consciente das redes sociais.

Muita gente tem a impressão de levar uma vida medíocre quando se deparam com outras realidades, aparentemente perfeitas, na tela de seus celulares. É importante estar em alerta e não se deixar levar por esses pensamentos, que podem ser responsáveis por desencadear doenças como depressão, ansiedade, síndrome do pânico, dentre outras.

Com isso, percebe-se a necessidade de aprender a usar as redes de forma mais clara e concisa, útil, para agregar valor e conhecimento, e consciente, para não cair em armadilhas e ilusões de perfeição da vida alheia. É fundamental entender que há dias difíceis e bons para todo mundo, porém, nem todos, ou a maioria dos indivíduos prefere não expor suas fragilidades, fraquezas e momentos de dificuldade.

É possível evitar o descontrole

Uma dica para evitar frustrações desnecessárias é evitar se comparar. Ao se comparar com outras pessoas, corre-se o risco de pensar que os outros levam uma vida melhor, mais próspera, feliz, desejada e admirável.

No entanto, é imprescindível levar em conta que tudo o que se vê nas redes é apenas um recorte da vida dos outros, que muitas das vezes é bem planejado e pensado antes de ser postado. A maioria das pessoas não posta os seus momentos difíceis e suas dificuldades, o que pode criar uma falsa ideia de vida perfeita.

Outra dica relevante consiste em passar menos tempo em redes sociais. É necessário ter a consciência de que a internet não é a única atividade que pode proporcionar prazer às pessoas. Há diversas outras formas de se entreter, por exemplo, através da leitura, prática de esportes, principalmente em conjunto com outras pessoas, pintura, assistir à filmes, séries, documentários, ouvir música, dentre outras.

Por fim, ter senso crítico pode ajudar a lidar de forma adequada com as redes, de forma geral. Ter em mente que nem tudo o que se posta de fato é feito, e que nem todas as dicas servem para todos, ajuda a escapar da armadilha do consumismo exacerbado. Para quem gosta de assistir documentários, e tiver interesse em se aprofundar sobre o tema, há uma indicação interessante que está disponível na Netflix, intitulado “O Dilema das Redes”.

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Redação

ÆscolaLegal é um esforço coletivo de profissionais interessados em resgatar princípios básicos da Educação e traduzir informações sobre o universo multi e transdisciplinar que a envolve, com foco crescente em Educação 4.0 e além, Tecnologia/Inovação, Sustentabilidade, Ciências e Cultura Sistêmica. Publisher: Volmer Silva do Rêgo - MTb16640-85 SP - ABI 2264/SP

7 thoughts on ““1984” – Semelhanças com as Redes Sociais

  • Alexandre Bonna

    Nossa, que texto acessível, didático e ao mesmo tempo profundo. Nos coloca para pensar diversas questões morais controversas que assolam a sociedade atual. Parabéns!

  • Adriana Foz

    Excelente escolha literária, muito contemporânea, apesar das décadas, que separam dos dias de hoje. Bem escrito, leve e ao mesmo tempo contundente. Parabéns à autora do artigo e que venham outros!

  • Ana Carolina Macedo

    Artigo extraordinário, que aborda um dos temas mais relevantes da atualidade, fazendo o uso de uma linguagem objetiva.
    Parabéns a autora!! E desde já,ansiosa para as próximas publicações.

  • Mariana Franco

    Artigo excelente!! Transmite a nossa realidade de forma didática e coerente. Parabéns a autora !!! Muito enriquecedor. Quero ter acesso a outros artigos da autora.

  • Ilana Santiago

    Texto extremamente coerente e condizente com a realidade do mundo atual. Parabéns pela percepção da autora em correlacionar os pontos de forma tão didática!

  • Tereza Cruz

    O artigo está muito bem escrito. Aborda com muita propriedade a questão da manipulação dos meios de comunicação junto aos seres humanos. E os impactos e prejuízos tanto econômicos como emocionais.
    Parabéns à autora.
    Ressalto que gostaria de ler outros artigos de sua autoria

    • Obrigado Tereza Cruz. Transmitiremos a autora. A revista prima por selecionar seus colaboradores e a qualidade de seus textos. \continue nos prestigiando.

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