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Abelhas – Relações co’a Humanidade

Uma fantástica história das abelhas – relações co’a humanidade vem se desenrolando há pelo menos 8,5 mil anos, mas eles já estavam no planeta, talvez produzindo mel há uns 100 milhões de anos.

Gleycon Silva

São Paulo, 09/12 de 2020.

1 Minuto

Algumas pesquisas mostram que as abelhas sociais já faziam e armazenavam mel há quase 20 milhões de anos, muito antes de nossa existência. O fóssil de abelha mais antigo já encontrado é estimado em 100 milhões de anos e foi encontrado em Burma, no sudeste da Ásia, completamente preservado em âmbar (resina fóssil – Figura 1).

Figura 1 – Fóssil de Melittosphex burmensis.
Ela mede apenas 2,95 milímetros.

Neste fóssil foram encontrados também diversos grãos de pólen.

Estudos apontam que as abelhas se originaram a partir de um grupo de vespas, alteraram a sua dieta habitual de insetos e ácaros, passando a alimentar-se de néctar e pólen para obtenção de nutrientes.

Acredita-se que o surgimento das abelhas tem contribuído diretamente para a diversificação das angiospermas (plantas com flores) desde o início até a metade do período Cretáceo (de 145 a 65 milhões de anos atrás).

Podemos assim dizer que as abelhas estão diretamente ligadas ao equilíbrio da vida em nosso planeta.

O mais antigo uso documentado de mel se deu por volta de 25.000 anos atrás, como demonstram os registros encontrados na caverna de Altamira, na Cantábria, na Espanha, com representações de favos de mel, datadas de aproximadamente 25.000 anos atrás. (Fig.2)

Figura 2 – Primeira arte feita pelo ser humano sobre a coleta de Mel – 25 mil a.C. Pintura rupestre em Caverna em Valência, Espanha.

Já os primeiros registros de domesticação de abelhas, quando as pessoas começaram a cultivar e manejá-las para usar os seus produtos possivelmente em Anatólia, na Ásia, há pelo menos 8,5 mil anos.

Mesmo o cultivo de abelhas sendo tão antigo, as mudanças físicas entre as abelhas domesticadas e as encontradas na natureza são insignificantes, ao contrário que observamos em outros animais domésticos, como o Lobo e o Cachorro.

Através do tempo, ao longo da evolução humana da linguagem e do pensar sobre a vida, as pessoas começaram a homenagear cada vez mais, as características, os sentimentos e os seres da natureza que achavam importantes em forma de lendas, símbolos, deuses e deusas e desde o início, o respeito pelas abelhas tem sido revelado.

Um dos primeiros registros deste afeto data de 3 mil anos a.C. em Anatólia e consiste em uma peça que representa uma deusa das abelhas, que possuía uma tiara em forma de colmeia.

Fig. 3 – Deusa das abelhas com tiara em forma de colmeia

Ainda na Ásia menor, o mel era considerado sagrado e era usado para embalsamar os mortos, que eram enterrados em posição fetal em vasos especiais, o vaso era considerado o ventre da Deusa Pandora e o mel essência sagrada da vida, ali a expressão ”Cair no vaso com mel” era usada como significado para morrer.

Nesta localidade cultuavam também uma Deusa chamada Deméter, e em seu festival reservado apenas às mulheres, as oferendas eram constituídas de pães de mel e gergelim em forma de órgãos sexuais femininos (Teia de Theia, 2019).

Ainda podem ser encontrados registros sobre os mitos gregos, referências sobre o mel e as abelhas, como em os “pássaros das Musas”, que eram atraídos pelo aroma das flores do qual preparavam o mel, considerado aqui também como um néctar divino.

Acreditava-se, neste caso, que as abelhas eram as almas das sacerdotisas que serviram às deusas Afrodite e Deméter, que acompanhavam a passagem das outras almas entre os mundos.

No cristianismo, o mel é citado muitas vezes como um alimento precioso, pois foi a primeira substância adoçante conhecida da Antiguidade e considerado uma das duas dádivas da Terra da Promissão (a outra era o leite). A santa católica Gobnait, por exemplo, salvou sua paróquia de uma invasão segurando uma colmeia nas mãos, o enxame de abelhas cercando e cegando os bárbaros.

Fig.5 – Santa Gobnait – Católica

A apicultura de uma forma mais técnica surgiu no Antigo Egito, há cerca de 4.400 anos. Eles descobriram que era possível criá-las em recipientes de cerâmica para a formação de uma nova colônia. 

Foi aí que surgiram as expressões apicultura e colmeia, a fim de estabelecer para a atividade de criar as abelhas e o local onde elas seriam criadas. Nesta época já se nota a noção dos egípcios de que aquilo se tratava de um cultivo (do latim, appis = abelha + cultus = cultivo), uma situação inédita até então em relação a insetos. 

Naquela época os recipientes utilizados para abrigar os enxames eram em forma de sino e feitos de palha trançada. Esses trançados eram chamados pelos antigos de “Colmo” (do latim, Culmus = haste vegetal, talo, palha), numa menção ao material que utilizavam, surgindo assim o termo “Colmeia”, o qual utilizamos até os dias atuais.

Assim, durante milênios as abelhas foram consideradas animais sagrados e graças às propriedades medicinais do mel e do própolis e dos inúmeros benefícios da cera, atribuições mágicas e divinas eram muito comuns a estes animais. 

Fig. 6 – Abelha esculpida em parede – Anatólia 3.000 anos

Também na América latina os Maias há mais de 1000 anos já manipulavam geneticamente diferentes espécies de abelhas, realizando melhoramento genético para aumentar a produção de mel, garantir matrizes mais adequadas ao ambiente e manter a diversidade de forma sustentável.

Aqui no Brasil a convivência dos índios com as abelhas nativas renderam um profundo respeito por estes seres, refletido em lendas e seres sagrados. Umas destas lendas é a dos SATERÉ-MAWÉ, que conta que quando Anumaré Hit foi para o céu para transformar-se em sol, ele convidou sua irmã Uniawamoni a segui-lo.

Porém, ela decidiu ficar na Terra sob a forma de uma abelha para poder ajudar os índios Sateré-Mawé a cuidar das florestas sagradas de guaraná.

Gleycon Silva – Gestor ambiental – Mestre em Ciências Ambientais pela UNIFAL


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2 thoughts on “Abelhas – Relações co’a Humanidade

  • Arnaldo dos Santos Rodrigues

    Muito interessante esse artigo que apresenta de forma bem resumida e com linguagem acessível, alguns dados cuidadosamente escolhidos para explicar a origem e a importância desses insetos maravilhosos, as abelhas.
    É importante que se escreva com clareza, normalmente os pesquisadores esquecem que nem sempre quem está lendo é outro pesquisador. Neste caso não, o autor Gleycon Silva teve o cuidado e a preocupação de escrever um texto que pode ser compreendido facilmente e, portanto, estudantes em início do aprendizado não vão desistir depois de um parágrafo.
    Saber para quem você está escrevendo é uma arte e uma ciência que necessariamente precisa ser mais divulgado, de forma que tenhamos mais textos que ajudem e entusiasmar o jovem leitor a um caminho na leitura e talvez até siga para a Ciência! Um passo de cada vez…

    • Obrigado Arnaldo, por sua participação e comentários. Sim, um passo de cada vez!

Fechado para comentários.