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Agricultura Familiar nas Plataformas Digitais

Presente em 77% dos estabelecimentos rurais existentes no Brasil e responsável por 23% da produção de alimentos, já temos acesso a Agricultura familiar nas plataforma digitais.

Aline Oliveira

São Paulo, 22/05 de 2020.

2 Minutos

Ainda assim, enfrenta o estigma de ‘invasor’, em razão dos grupos que se mobilizaram em meados da década de 1980 para pleitear a redistribuição de terras ociosas, por intermédio da reforma agrária.

As políticas públicas de apoio ao pequeno produtor não atendem uma grande parcela do grupo social que representa 10,1 milhões de pessoas, as quais não conseguem acesso a linhas de crédito, saneamento básico, energia elétrica, água tratada e educação formal.

Mesmo com as dificuldades enfrentadas por muitas famílias, o último censo agropecuário realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2017 – https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/25789-censo-agro-2017-populacao-ocupada-nos-estabelecimentos-agropecuarios-cai-8-8) apontou um crescimento exponencial no acesso à internet, por parte desse público.

O aumento chegou a 1.900% no intervalo de uma década, passando de 75 mil pessoas com acesso a internet em 2006, para 659 mil a conectar-se pelo sistema de banda larga e 909 mil, via internet móvel.

Uma iniciativa que comprova os dados apresentados foi identificada em uma das maiores comunidades rurais existentes no país, o assentamento Nova Itamarati. Localizado no município de Ponta Porã, no estado de Mato Grosso do Sul, o local soma 15,8 mil habitantes que sobrevivem da atividade rural, os quais foram contemplados com lotes distribuídos pelo processo de reforma agrária em 2003.

Aplicativos da Embrapa - tecnologias TICs no apoio ao pequeno agricultor.

Pesquisa realizada pela autora em novembro de 2019 apontou que representantes dos moradores construíram uma ‘rede’ de informações possibilitada pelas plataformas digitais: Web Rádio, Facebook, Instagram, Twitter, Blog e Youtube. Os conteúdos variam de notícias e serviços de utilidade pública, até cobertura de campeonatos de futebol e o funcionamento de uma biblioteca virtual que disponibiliza gratuitamente, conteúdo técnico agropecuário.

É válido reforçar as dificuldades estruturais da comunidade para obterem acesso ao serviço de internet, em razão do distanciamento da capital, e ainda, pela questão financeira (contratação de serviços/combos). Assim como em outras regiões do Estado, a maioria dos acessos é feita pelo dispositivo móvel (smartphone), justificando a preferência do consumo e o alcance das redes sociais elencadas (empresas oferecem gratuidade sobre o pacote de dados, para acesso ao facebook e whatsapp, por exemplo).

Nessa perspectiva é válido reforçar que os moradores e trabalhadores de áreas rurais estão em busca da inclusão digital, seja por meio do consumo de informação e aplicativos disponíveis nos smartphones, ou ainda, utilizando as plataformas mais populares e gratuitas, a fim de divulgarem e compartilharem conteúdos presentes em seu cotidiano de trabalho e entretenimento.

Pesquisa e estudos sérios trazem ótimos resultados

É oportuno destacar que as pesquisas realizadas sobre consumo de tecnologia digital em grupos minoritários ou em situação de vulnerabilidade social é feita pelo Centro Internacional de Pesquisa Atopos desde 2006, por ocasião do projeto Mídias Nativas.

Entre os estudos que se destacaram estão: Rede Índios Online, Canal Motoboy, Rádio Heliopólis, Portal Bocada Forte, Videomakers Terena e Algoquin. Na ocasião foi identificado um protagonismo social inédito que diluiu as fronteiras entre centro e periferia.

Situação semelhante foi identificada no assentamento Nova Itamarati, aonde mais de 70% da produção publicada e transmitida nas plataformas citadas têm foco no cotidiano, suprindo as necessidades de informações dos agricultores familiares residentes no local.

O cenário identificado, bem como a organização demonstrada pelo grupo remete a uma afirmação feita pelo professor do Massachusetts Institute Techonology (MIT), Alex Pentland (2018) na qual defende que a humanidade pode redesenhar digitalmente o conceito de identidade, a partir do protagonismo e controle dos próprios dados.

No entanto, para alcançar esse objetivo será necessário primeiro superar a condição de “invisibilidade tecnológica” apontada por Cosimo Accoto (2018). O filósofo alerta sobre a importância de intensificar os estudos sobre os componentes que permeiam o cenário digital, visto que a perspectiva analisada ainda é ‘turva’ ou está ausente da nossa reflexão cultural e social.

Aline Oliveira – Mestre em Comunicação (UFMS) e pesquisadora associada do Centro Internacional de Pesquisa Atopos

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Redação

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