Amazônia Desmente Discurso na ONU
A despeito do discurso do presidente Bolsonaro na 76ª Assembleia-Geral das Nações Unidas, a Amazônia continua encoberta pela fumaça e marcada pela devastação criminosa e sem controle.
Redação/Amazon Watch
São Paulo, 21/09 de 2021.
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Foi o que comprovaram sobrevoos realizados na semana passada pela Aliança Amazônia em Chamas, formada pelas organizações Amazon Watch, Greenpeace Brasil e Observatório do Clima. A expedição ocorreu entre os dias 14 e 17 de setembro, nos municípios de Porto Velho (Rondônia) e Lábrea (sul do Amazonas).
“Enquanto Bolsonaro chegava a Nova York, sobrevoávamos a Amazônia para registrar a realidade de destruição da maior floresta tropical do mundo: desmatamento e queimadas ilegais. As imagens não mentem, já não podemos dizer o mesmo do discurso do presidente na ONU”, afirma Stela Herschmann, especialista em políticas climáticas do Observatório do Clima.
![Os primitivos adoradores do fogo](https://aescolalegal.com.br/wp-content/uploads/2021/09/Incendios-criminosos-na-Ama-300x200.jpg)
As primeiras imagens do projeto liberadas hoje mostram extensas áreas desmatadas em julho e já consumidas pelo fogo – polígonos de 1.550 a 2.450 hectares ou de 2.012 a 3.181 campos de futebol -, que estão entre os cinco maiores desmatamentos do estado do Amazonas.
Também foram detectados: cicatrizes de garimpo em meio a áreas protegidas, pistas de pouso clandestinas, grandes glebas em preparo para plantio e gado pastando junto a queimadas recentes.
Sob o governo Bolsonaro, o Amazonas superou Rondônia como o terceiro estado com o maior desmatamento, segundo o sistema Prodes, do Inpe.
De acordo com dados do Programa Queimadas, de janeiro a meados de setembro deste ano, foram cerca de 12 mil focos de calor no Amazonas. Só em agosto, registraram-se 8.588 focos no estado, superando o recorde do mesmo mês em 2020, que, por sua vez, tinha superado o de 2019. Lábrea é a área mais crítica do país, com 2.959 focos em 2021.
Ciclo do fogo criminoso
Porto Velho é o segundo município em quantidade de queimadas – com 2.700 focos – e a capital onde a floresta Amazônica mais queima.
“O que vimos foi a floresta encoberta pela fumaça do alto e marcada pela devastação criminosa e sem controle no chão”, conta Romulo Batista, porta-voz da Campanha de Amazônia do Greenpeace Brasil, que vive e trabalha na região há 15 anos. “Colocar fogo na floresta faz parte do ciclo de desmatamento que inclui a retirada inicial das árvores mais valiosas, ajudando, inclusive, a capitalizar quem investe na grilagem de terras, as quais, de maneira geral, acabam sendo transformadas em pasto.
E é crime, pois está vigente o Decreto nº 10.735, de 28 de junho, que proibiu o uso do fogo no Brasil.” Vale lembrar que na mesma data o governo Bolsonaro autorizou pela terceira vez o uso das tropas militares para combater delitos ambientais com ênfase no desmatamento ilegal, estratégia que já se demonstrou ineficaz no passado.
Ações estratégicas e coordenadas de inteligência são cada vez mais necessárias e urgentes para punir esses criminosos. “Órgãos de fiscalização como o Ibama precisam recuperar sua capacidade de atuação, com a liberdade e apoio que tinham antes, quando o Brasil se tornou referência mundial no combate ao desmatamento. Perder o sul do Amazonas, considerado o coração da Amazônia, pode nos colocar ainda mais próximos do ponto de não retorno da floresta.
O momento é para agir contra o crime e não para encobri-lo”, diz Ana Paula Vargas, diretora do programa para Brasil da Amazon Watch.
Aliança Amazônia em Chamas: parceria entre as organizações Amazon Watch, Greenpeace Brasil e Observatório do Clima para promover sobrevoos de monitoramento e divulgação de informações relativas a áreas de floresta desmatadas e/ou ameaçadas pelo desmatamento, fogo e garimpo.
As imagens estão disponíveis aqui e podem ser livremente utilizadas com os créditos:
Victor Moriyama/Amazônia em Chamas (fotos)
Fernanda Ligabue/Amazônia em Chamas (vídeos