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Arte-Educação no Brasil realidades

Invariavelmente, as aulas de Arte-Educação no Brasil na escola pública (principalmente) limitam-se a trabalhar com reciclagem de produtos descartáveis, o uso de cartolina, caixa de ovos e garrafas pet. Embora seja possível grandes resultados com isso, a Arte vai muito além.

São Paulo, 22/12 de 2020.

2 Minutos

O sistema educacional não exige notas em artes porque arte-educação é concebida como uma atividade, mas não como uma disciplina de acordo com interpretações da lei educacional 5692.

Algumas escolas exigem notas a fim de colocar artes num mesmo nível de importância com outras disciplinas; nestes casos, o professor deixa as crianças se auto-avaliarem ou as avalia a partir do interesse, do bom comportamento e da dedicação ao trabalho.

Apreciação artística e história da arte não têm lugar na escola. As únicas imagens na sala de aula são as imagens ruins dos livros didáticos, as imagens das folhas de colorir, e no melhor dos casos, as imagens produzidas pelas próprias crianças. Mesmo os livros didáticos são raramente oferecidos às crianças porque elas não têm dinheiro para comprar livros.

O professor tem sua cópia e segue os exercícios propostos pelo livro didático com as crianças. Este era o caso de 74,5% dos professores segundo pesquisa realizada por Heloísa Ferraz e Idméa Siqueira em1987. Visitas a exposições são raras e em geral pobremente preparadas.

A viagem de ônibus é mais significativa para as crianças do que a apreciação das obras de arte. A fonte mais frequente de imagens para as crianças é a TV, os fracos padrões dos desenhos para colorir e cartazes pela cidade (outdoors).

Apreciação artística e história da arte não têm lugar na escola. As únicas imagens na sala de aula são as imagens ruins dos livros didáticos, as imagens das folhas de colorir e, no melhor dos casos, as imagens produzidas pelas próprias crianças.

As crianças de escolas públicas, na sua grande maioria, não têm revistas em casa, sendo o acesso à TV mais frequente e mesmo que não se tenha o aparelho em casa, há a possibilidade do acesso a algum tipo de TV comunitária.

Mesmo nas escolas particulares mais caras a imagem não é usada nas aulas de arte. Eles lecionam arte sem oferecer a possibilidade de ver. É como ensinar a ler sem livros na sala de aula. Em São Paulo há somente duas escolas que usam regularmente imagens nas aulas de arte.

Arte em sala de aula deve ir além da ‘criação’ e expressão – existe um universo de Conhecimentos a serem explorados (Foto: Unsplash)

A primeira, uma escola para a elite, usa a imagem em um convencional curso de história da arte para alunos do 2º grau. A segunda é uma escola particular, preferida pelos intelectuais para suas crianças, que incorpora a gramática visual, a história e a prática.

Eu não quero parecer apocalíptica em afirmar que 17 anos de ensino obrigatório da arte não desenvolveu a qualidade estética da arte-educação nas escolas. O problema de baixa qualidade afeta não somente a arte-educação, mas todas as outras áreas de ensino no Brasil. A atual situação da educação geral no Brasil é dramática.

Mais de 50% das crianças abandonam a escola no primeiro ano (sete anos de idade, antes da alfabetização ser completada – dados do IBGE da década de 80). A profissionalização no 2º grau tornou-se um fracasso. As companhias não empregam os estudantes quando eles terminam os cursos porque sua preparação para o trabalho é insuficiente.

Os anos 80 foram identificados como a década da crítica da educação imposta pela ditadura militar e da pesquisa por soluções, mas estas não têm sido ainda implementadas no país porque a primeira preocupação depois da restauração da democracia em 1985 foi uma campanha por uma Nova Constituição que libertaria o país do regime autoritário.

A Constituição da Nova República de 1988 menciona cinco vezes as artes no que se refere a proteção de obras, liberdade de expressão e identidade nacional. Na Seção sobre educação, artigo 206, parágrafo II, a Constituição determina: “o ensino tomará lugar sobre os seguintes princípios (…). II – Liberdade para aprender, ensinar, pesquisar e disseminar pensamento, arte e conhecimento.”

Esta é uma conquista dos arte-educadores que pressionaram e persuadiram alguns deputados que tinham a responsabilidade de delinear as linhas mestras da nova Constituição. Os arte-educadores no Brasil são politicamente bastante ativos.

A politização dos arte-educadores começou em 1980 na Semana de Arte e Ensino (15-19 de setembro) na Universidade de São Paulo, a qual reuniu 2.700 arte-educadores de todo o País. Aquele foi um encontro que enfatizou aspectos políticos através de debates estruturados em pequenos grupos ao redor de problemas pré-establecidos como a imobilização e isolamento do ensino da arte; política educacional para as artes e arte-educação; ação cultural do arte-educador na realidade brasileira; educação de arte-educadores, etc.

Ana Mae Barbosa – Diretora do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo
Professora da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo

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Redação

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