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Chips de DNA e matrizes de Tambaqui.

Para produção de alevinos

Embrapa 47 anos: tecnologia garante o não-parentesco dos reprodutores e otimiza qualidade do tambaquium dos peixes nativos mais apreciados pelos brasileiros, especialmente os da região Norte.

Maria Devanir Heberlê
                                                        Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia

São Paulo, 05/05 de 2020.

3 minutos

Em 2013, a Embrapa desenvolveu o sistema intensivo de criação de tambaqui em tanque escavado com uso de aeração. O uso desta tecnologia permite produzir até 18 t/ha/ano, resultado três vezes superior à média dos sistemas então utilizados, otimizando a mão de obra, reduzindo custos, gerando vantagens ambientais e de sanidade. Além disso, permite abastecer o mercado durante o ano todo.

Apesar da existência desta tecnologia, persistia, como um dos principais problemas, o desempenho limitado das matrizes na oferta de alevinos, em função da consanguinidade, responsável por perdas de 10% e 30% na sua produção. Com o sequenciamento do genoma do tambaqui, pela Embrapa, em 2017, foram criados dois chips de DNA (vídeo) de tambaqui e integrá-los na ferramenta TambaPlus, capaz de certificar e gerir o genoma das matrizes do peixe, a serem utilizadas para a produção de alevinos.

O teste garante o não-parentesco entre matrizes e reprodutores e a pureza dos reprodutores, consequentemente garante a produção de alevinos de qualidade, fator importante para o desenvolvimento da produção em cativeiro do tambaqui no país. A Embrapa já realizou serviços de análise para criatórios de Mato Grosso, Roraima, Tocantins, Amazonas e Rondônia, levando alguns produtores a entregar uma média de 10 milhões de alevinos de tambaqui por ano para Rondônia, Acre, Mato Grosso e, até mesmo, para a Bolívia.

O TambaPlus

Este teste reúne ferramentas genômicas desenvolvidas para a análise e certificação de parentesco e pureza da espécie, requisitos fundamentais para aumentar a produtividade do tambaqui (Colossoma macropomum), o peixe nativo mais produzido no Brasil.

As ferramentas são fruto das informações obtidas com o sequenciamento do genoma do tambaqui, em que foram identificados milhões de marcadores genômicos denominados SNPs (do inglês “Single Nucleotide Polymorphism”). A equipe de pesquisa utilizou essas informações para criar dois chips de DNA para fazer testes diagnósticos de grau de parentesco e pureza específica.

DNA, genes e cromossomos – Pesquisa Embrapa sobre peixes em fazendas
(Img. Freepics)

Os marcadores SNP têm grande aplicação na caracterização de recursos genéticos e geração de tecnologias aplicadas para o melhoramento animal que, de modo genérico, envolve as etapas de coleta de dados produtivos, avaliação genética, identificação e seleção de indivíduos superiores e acasalamento, e depende de bons processos para identificar e marcar cada animal do plantel.

O controle genealógico (de pedigree) dos animais utilizados para a produção pecuária é fundamental para evitar o acasalamento entre parentes próximos (como irmãos, por exemplo), de forma a reduzir as perdas produtivas decorrentes da propagação de doenças genéticas, que impedem o desenvolvimento dos embriões e causam malformações, além de atrapalhar o crescimento dos animais que sobrevivem.

Melhorando a espécie e a produtividade em cativeiro

As perdas em decorrência de fenômenos como a depressão endogâmica chegam a percentuais entre 10% e 30% da produção.

O teste TambaPlus pode evitar essas perdas e melhorar a eficiência produtiva e a lucratividade do setor, exatamente porque analisa a pureza e a identifica o grau de parentesco das matrizes, o que proporciona  avanços importantes para o manejo genético dos plantéis de reprodutores, informa o pesquisador Alexandre Caetano, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia.

“A ferramenta desenvolvida para a certificação de pureza específica do tambaqui é capaz de identificar as introgressões, isto é, contaminações por até 3% do genoma de pacu ou carabina, espécies nativas com características ou aparências semelhantes ao tambaqui, utilizadas frequentemente na produção de híbridos destinados à engorda e consumo”, comenta o pesquisador.

Essas contaminações ocorrem em cruzamentos não intencionais com híbridos, levando à perda da variabilidade genética nos estoques de espécies puras, com consequências produtivas ainda desconhecidas. A ferramenta auxiliará os produtores a manterem linhagens de reprodutores puros e a consolidar a Coleção de Base de Germoplasma de Tambaquis na Embrapa.

“Muitas vezes o produtor nem está ciente do prejuízo que sofre com a falta de desempenho produtivo dos alevinos gerados com cruzamentos de matrizes aparentadas. Essa tecnologia inovadora ajudará o piscicultor a escolher as matrizes de forma precisa e rápida, a um custo acessível”, explica o pesquisador Michel Yamagishi, da Embrapa Informática Agropecuária (Campinas/SP). “Com isso, os piscicultores terão condições de manter e até expandir sua produção, com uma redução significativa nas despesas”, complementa.

Expansão dos peixes nativos
Peixes de interesse comercial das águas brasileiras – 70% deles estão no Norte do país.
(Img. Internet)

O Brasil produz cerca de 290 mil toneladas de peixes nativos, liderados pelo tambaqui (Colossoma macropomum), pirapitinga/caranha (Piaractus brachypomus), pacu (Piaractus mesopotamicus) e híbridos, especialmente tambatinga, conforme o Anuário da Piscicultura 2019.

As espécies nativas representam 39,84% da produção nacional e estão disseminadas, principalmente, nas regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste.

Os estados de Rondônia, Mato Grosso, Maranhão, Pará e Roraima respondem por quase 70% dos peixes nativos produzidos no País.

As tecnologias genômicas baseadas em SNPs vêm sendo empregadas em pesquisas para melhoramento genético de animais de interesse zootécnico desde o final da década de 2000. Com o avanço nas técnicas de bioinformática, especialmente devido à revolução da tecnologia da informação que propiciou o desenvolvimento de computadores de alto desempenho e os serviços de armazenamento de dados em nuvem, surgiram metodologias para a identificação e a genotipagem dos marcadores em larga escala.

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Redação

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