Sustentabilidade

Desigualdade Territorial em São Paulo

Quando se fala que o território da cidade de São Paulo abarca a Suíça e a Serra Leoa, não é exagero.

Mauricio Rezende Habert

São Paulo, 05/11 de 2020.

2 Minutos

Esta porção de terra de 1521 km², a 760m do nível do mar, com o maior PIB municipal do país, apresenta ao longo de seu mapa em formato de “r” uma variação muito brusca de realidades sociais. Esta diferença de realidades pode ser expressa em parte por alguns indicadores que escancaram estas desigualdades que existem (aqui não cabe o verbo coexistir) em São Paulo.

25 quilômetros em linha reta separam Moema da Cidade Tiradentes. A distância é grande, mas em um trajeto de uma hora pela Radial Leste é possível chegar de um ponto ao outro. Porém, há uma barreira invisível entre estes dois distritos da cidade, muito mais difícil de ser superada.

A idade média ao morrer em Moema é de 81 anos, enquanto na Cidade Tiradentes é de 57 (dados da Secretaria Municipal da Saúde). Além dos 25 quilômetros, 24 anos de sobrevida separam os dois locais.

É como se, ao sair de Moema em direção a Cidade Tiradentes, a cada quilômetro percorrido, você perdesse um ano de vida.

Ainda comparando os mesmos distritos: a cada 1000 crianças nascidas vivas em Moema, 3 morrem com menos de um ano de vida. Na cidade Tiradentes, 15. Com menos de um ano, uma diferença de 5 vezes se escancara quanto o direito a vida para bebês nascidos lá ou cá.

Estes são somente alguns exemplos de muitos que podem se verificar em diversas temáticas comuns a uma cidade. Dos 96 distritos de São Paulo, 52 não possuem nenhuma sala de cinema, 52 nenhuma sala de shows ou concertos e 42 nenhuma sala de teatro.

[N.E. são apenas 56 bibliotecas públicas na cidade]

A cada 100 crianças entre 5 a 8 anos, 84 delas estão plenamente alfabetizadas em Alto de Pinheiros, na zona Oeste, enquanto somente 54 no distrito de Anhanguera, na zona Norte.

Diante destas inúmeros indicadores, alguém poderia tentar inferir: “Mas então a Prefeitura de São Paulo deve investir muito mais de seu orçamento municipal de nas regiões que apresentam os piores indicadores, correto?” Errado! Os diversos números relacionados a quantidade de equipamentos de educação, saúde e cultura já são indicadores de que – na verdade – a lógica é oposta.

Além do voto – para mudar: pressão social

As regiões centrais, já com os melhores indicadores, recebem ainda as maiores parcelas do orçamento de 70 bilhões da prefeitura. Quanto mais rico o distrito, mais o Estado o prioriza.

E esta lógica ocorre há décadas em São Paulo, em boa parte porque as pressões econômicas capturam o poder público municipal para que priorize as regiões de maior interesse do capital econômico lucrativo dentro do espaço urbano.

A única contrapartida possível seria uma forte pressão da sociedade para que de fato seja feita uma inversão das prioridades do investimento público.

As regiões com piores índices de educação, precisam de mais e melhores escolas. As regiões com maiores índices de mortalidade infantil, precisam de mais programas de acompanhamento pré-natal e mais leitos hospitalares. E não o contrário.

Mas para isso, a sociedade civil deve estar munida das informações que escancaram estas desigualdades regionais da cidade. Embora sejam públicos, é muito provável que os paulistanos não tenham consciência plena da disparidade revelada por estes dados.

Divulgá-los amplamente até que estas diferenças deixem de ser somente números em uma tela de computador e transformem-se em políticas públicas potentes.

A amplificação destes dados é um passo necessário para melhorar a qualidade do voto da população paulistana, de forma que esta eleja cada vez mais gestores públicos que se comprometam com a reversão da desigualdade territorial em São Paulo.

Os dados existem, porém muitos deles estão confinados em planilhas de órgãos públicos, espalhados em diversos sites da internet.

Com o intuito de aumentar o alcance e acessibilidade desta informação, apresenta-se no link abaixo, um início do projeto – apoiado pela Conferência São Paulo Sua – de elaboração de um grande banco de dados regionalizado da cidade de São Paulo, divulgado digitalmente na forma de infográficos interativos.

A base já contempla todos os dados abertos reunidos em forma de planilhas pelo Instituto “Rede Social brasileira por Cidades Justas e Sustentáveis”. São dados oriundos das diversas secretárias municipais de São Paulo, assim como do IBGE e outros órgãos públicos.

Em seu estado atual, os infográficos elaborados apresentam variáveis e indicadores de diversos anos e para diversas temáticas urbanas, sempre disponibilizados em suas aberturas locais (distritos, subprefeituras ou regiões), fornecendo já um preciso raio-X das desigualdades territoriais da cidade.

Clique para ver o aplicativo funcionando em diversos critérios de pesquisa na cidade de São Paulo e as variáveis da desigualdade.

Mauricio Rezende Habert – Engenheiro eletricista

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Redação

ÆscolaLegal é um esforço coletivo de profissionais interessados em resgatar princípios básicos da Educação e traduzir informações sobre o universo multi e transdisciplinar que a envolve, com foco crescente em Educação 4.0 e além, Tecnologia/Inovação, Sustentabilidade, Ciências e Cultura Sistêmica. Publisher: Volmer Silva do Rêgo - MTb16640-85 SP - ABI 2264/SP