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EDUCAÇÃO 4.0 raça-gênero-interseccionalidade

Educação 4.0 é uma das mais sofisticadas discussões da atualidade, traz para o momento atual conteúdos que foram apenas sonhados por pessoas há algumas décadas e que grande parte acreditava não ser possível realizar.

Viviana Santiago

São Paulo, 02/08 de 2021.

1 Minuto

Ela implica um futuro muito sonhado que enfim chegou e se impõe.

Perceber as demandas de uma quarta revolução industrial  e toda a dinamização que ela traz para a maneira como se vive a vida, a maneira como estará organizado o mundo do trabalho é essencial nessa agenda e então surge a grande questão: Estaria a educação preparada para entregar pessoas com suficientes competências para esse “mercado”?

Colocada nesses termos essa me parece uma questão incorreta, pois enquanto profissional da educação eu me sinto particularmente incomodada com essa ideia de uma educação que tem seu propósito centrado apenas em atender as demandas de um “mercado”. É, para mim, equivocado reduzir o escopo da educação apenas à preparação para o trabalho.

A educação tem sim esse papel, mas é maior que isso: ela cumpre um importante papel na dimensão de socialização e construção da sociedade. Aporta o desenvolvimento de indivíduos que não apenas fazem parte desta, mas também a constroem, e esse para mim é o principal ponto da educação 4.0: uma educação que aporta o desenvolvimento de pessoas que criam a sociedade!

Trazendo para o centro da reflexão a percepção de uma dimensão ampla da educação e da escola, busco então posicionar a importância de uma visão ampla da sociedade: em todas as suas complexidades e, portanto as desigualdades daí advindas.

Educação 4.0 aprender fazendo
      EDUCAÇÃO 4.0 raça-gênero-interseccionalidade. (Ft.:                                                               Internet).

O Brasil é um dos países mais desiguais do mundo. Entre 2014 e 2018, a renda dos 5% mais pobres no Brasil caiu 39%. Nesse mesmo período, o país registrou um aumento de 67% na população que vive a extrema pobreza. E essa história faz do Brasil o sétimo país mais desigual do mundo segundo dados do PNUD, ficando atrás apenas de nações como Zâmbia, República Centro-Africana, Lesoto e Moçambique.

O levantamento tem como base o coeficiente Gini, que mede a desigualdade e distribuição de renda.  A parcela dos 10% mais ricos no Brasil concentra 41,9%  da renda total do país e a parcela do 1% mais rico concentra 28,3% da renda, e isso não é aleatório.

No Brasil, sabe-se, a desigualdade tem raça e gênero. O racismo estruturou a desigualdade no Brasil e tem sido fundamental em sua manutenção, ainda: a questão de gênero que  faz com que sejam as mulheres e especialmente as mulheres negras, as pessoas mais pobres e em condições mais precárias de emprego e renda no país.

Ter isso em conta é importante para que se reconheça que na sociedade brasileira, nem todas as pessoas vivem o contexto 4.0, alijadas que são do acesso a tecnologia, ao uso da internet a educação de qualidade e a inserção econômica em setores que reflitam o avanço dos tempos.

No Brasil, 80% das matrículas de EJA são de pessoas negras. A maioria das pessoas desempregadas é negra e a maioria da classe trabalhadora informal é composta por mulheres negras. Também é negra a maioria dos jovens nem-nem, aqueles que não estudam e não trabalham.

Como desenvolver a Educação 4.0 num contexto de tão profundas desigualdades, de maneira em que ela se constitua uma chave para enfrentamento das desigualdades em vez de (como notamos) servir à sua manutenção e ao seu aprofundamento?

Só será possível se e quando essa for uma educação profundamente transversalizada por uma análise sócio-histórica, que considere a maneira como a política pública especialmente nos municípios de menor arrecadação consegue –ou não– implementar a educação, e tendo como premissa a Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável que objetiva não deixar ninguém para trás. Somente a luz dessas decisões poderemos falar de uma Educação 4.0 no Brasil que seja para todas e todos.

Também e levando-se em conta o contexto da sociedade brasileira e dos investimentos na política pública de educação, num ano em que o governo assinala mais orçamento para o ministério da defesa do que para o ministério da educação, é preciso trazer para frente em que medida a escola pública está preparada para a promoção dessa educação?

Como trabalhar com vistas ao futuro se a falta de investimentos, precarização de infraestrutura, dificuldades aliadas a desvalorização da carreira docente são alguns dos elementos que fazem com que a educação pública permaneça em muitos estados congelada num passado desigual?

Viviana SantiagoPedagoga-UFPE, Ms Universidade Europeia do Atlântico.

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Redação

ÆscolaLegal é um esforço coletivo de profissionais interessados em resgatar princípios básicos da Educação e traduzir informações sobre o universo multi e transdisciplinar que a envolve, com foco crescente em Educação 4.0 e além, Tecnologia/Inovação, Sustentabilidade, Ciências e Cultura Sistêmica. Publisher: Volmer Silva do Rêgo - MTb16640-85 SP - ABI 2264/SP