Nacional

EDUCAÇÃO ALIMENTAR – Importante Demais

Educar para o consumo saudável e sustentável

Gustavo Porpino

São Paulo, 20/05 de 2020.

3 Minutos

O Brasil é um país “abençoado por Deus e bonito por natureza”, como canta Jorge Ben Jor. Somos, certamente, privilegiados por contar com imensa variedade de frutas e hortaliças ao longo de todo ano.

Os avanços da tecnologia agropecuária nos permitem, até mesmo, cultivar frutas de clima temperado no Vale do São Francisco, em pleno semiárido nordestino. Temos muita abundância no campo, mas o consumo per capita de frutas e hortaliças no Brasil ainda é muito abaixo das recomendações da Organização Mundial da Saúde.

As estimativas apontam para um consumo per capita diário abaixo de duzentos gramas, enquanto o ideal seria dobrar a quantidade que o brasileiro come de frutas, legumes e verduras. Mudar este comportamento, que vai além da relativa baixa renda da maior parte da nossa população, pode começar com atividades extra-classe nas escolas de ensino fundamental.

Já imaginou se toda escola de educação de base pudesse contar com uma horta pedagógica? Envolver crianças e jovens em atividades lúdicas e práticas sobre produção de alimentos permite aproximá-los do mundo rural, valorizar mais os alimentos e ainda contribui para a adoção de uma dieta mais saudável e sustentável.

O projeto Hortas Pedagógicas (https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/46962382/projeto-hortas-pedagogicas-apresenta-balanco-positivo) tem mostrado bons resultados no Brasil, e iniciativas e pesquisas realizadas  nos EUA mostram o quanto “colocar a mão na terra” e aprender de forma prática trazem benefícios até para a redução do desperdício de alimentos nas escolas.

Pesquisa da Escola de Saúde Pública de Harvard (https://www.hsph.harvard.edu/news/multimedia-article/reducing-meal-waste-in-schools-a-healthy-solution/ ) estimou que US$1,2 bilhão são desperdiçados ao ano em alimentos apenas nas escolas de ensino fundamental americanas. O tempo destinado à refeição foi uma variável que impactou no volume desperdiçado.

Além de necessitar de mais tempo para comer, as crianças também tendem a adotar alimentação mais saudável quando as frutas e hortaliças são apresentadas de modo criativo no refeitório e atividades extra-classe abordam os benefícios do consumo de alimentos in natura.

As boas práticas para uma alimentação saudável nas escolas de base envolvem capacitação das merendeiras para incrementar as receitas preparadas com alimentos saudáveis e melhorar também a apresentação, e ainda aplicar princípios de economia comportamental e marketing para mudar o comportamento de consumo.

As crianças precisam se sentir bem acolhidas no refeitório, que deve ser um ambiente agradável, com boa iluminação e, principalmente, com oferta de alimentos saudáveis de forma criativa.

Vale até criar personagens para dar nomes à cenoura, aos brócolis ou à sopa de legumes.

Cantinas e refeitórios das escolas podem ser também ambientes de aprendizagem conectados às hortas pedagógicas. Para os estudantes do final do ensino fundamental e ensino médio, as oportunidades de envolvê-los em atividades lúdicas sobre cultivo, preparo e consumo de alimentos são ainda maiores. Escolas podem, em parceria com ONGs, instituições governamentais e mentores do Sebrae, por exemplo, desenvolver desafios para os estudantes apresentarem soluções a problemas reais.

Uma ótima alternativa é utilizar a Agenda 2030 do Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas para identificar oportunidades para hackatons. Co-criar soluções com os estudantes ajuda a desenvolver o pensamento empreendedor e também a compreender a importância do desenvolvimento de políticas públicas.

O Concurso de Inovação Horta & Escola (www.embrapa.br/horta-e-escola), coordenado pela Embrapa Hortaliças e parceiros, é um exemplo de iniciativa que ajuda a conectar estudantes e professores com problemas reais da cadeia agroalimentar.

Educar é dos verbos mais bonitos que existe, e quando somado às oportunidades de ampliarmos a sustentabilidade, ganha contornos ainda mais promissores.

Gustavo Porpino – Analista da Embrapa Alimentos e Territórios. PhD Marketing- FGV-EAESP – Pesquisador Cornell Un. (EUA)
 

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Redação

ÆscolaLegal é um esforço coletivo de profissionais interessados em resgatar princípios básicos da Educação e traduzir informações sobre o universo multi e transdisciplinar que a envolve, com foco crescente em Educação 4.0 e além, Tecnologia/Inovação, Sustentabilidade, Ciências e Cultura Sistêmica. Publisher: Volmer Silva do Rêgo - MTb16640-85 SP - ABI 2264/SP

2 thoughts on “EDUCAÇÃO ALIMENTAR – Importante Demais

  • Obrigado por sua leitura e opinião Rita. Disseminar a informação foi muito correto de sua parte. Ficamos felizes.

  • Rita J Leira Aires

    Olha só! Minha irmã vai adorar este texto. Ele é Psicopedagoga e cuida de crianças até 4 anos de idade numa creche de ONG conveniada com a prefeitura. E a filha dela é Nutricionista. Vão ter assunto até… Obrigado. Parabéns ao profissional da EMBRAPA.

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