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Educação e a Ética da Inclusão

Ao lermos o título desta reflexão, certamente alguns se surpreenderão, pois, na realidade trata-se de três conceitos distintos, cuja combinação não parece ensejar qualquer lógica para tê-la como uma afirmação.

Ítalo Francisco Curcio

São Paulo, 15/06 de 2021.

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Afinal de contas, seria a Educação uma Ética, e ainda mais, uma Ética da Inclusão?
Pois bem, o que falar sobre esta afirmação aparentemente absurda, para que, depois de revista e repensada, seja aceita? Com este propósito, iniciarei falando um pouco de cada um destes três conceitos, distintamente, para depois argumentar em favor desta afirmação.

Educação, Ética e Inclusão são três vocábulos surgidos em diferentes épocas, mas que, de igual modo a tantos outros, referem-se a conceitos milenares, assimilados pela humanidade, independentemente de se ter uma palavra para identifica-los. Epistemologicamente, entende-se que a assimilação de certo conceito é muito mais importante que a memorização da definição tradicional, impositiva, ou de um significado reducionista.

Lembremo-nos de que não é raro termos pessoas confundindo educação com ensino, ética com conjunto específico de regras ou normas de conduta, e mesmo Inclusão com Integração ou Inserção. Estas confusões, embora recorrentes, não deveriam existir, sobretudo no meio político e menos ainda, no acadêmico. Tais confusões ocorrem pois geralmente não se pensa na assimilação dos respectivos conceitos, mas apenas em suas definições.

Grosso modo, a Educação, que tem o Ensino com uma das ações necessárias para que ocorra, mas não a única, refere-se à formação do ser humano como ser político, em seu conceito pleno, portanto, um cidadão com todas as prerrogativas que deverá ter, mediante sua própria dignidade.

Educação, a Ética da Inclusão. Pressupõe a diversidade. (Img: Internet)

Educar, do Latim, Educare, significa “conduzir para fora, para o mundo“. O conceito de Educação, portanto, é muito mais que ensinar. Educar é transformar conhecimentos em saberes, é construir um ser humano como ser político, na plenitude social, como gestor de uma família, bom profissional e construtor de um legado de grande proveito para suas sucessivas gerações.

Educar para a Vida

A Ética, por sua vez, estudada a partir da Grécia Clássica, e entendida como um dos ramos da Filosofia, já era assimilada por grandes nações, estabelecidas antes desta época. Os antigos egípcios e especialmente o povo hebreu são dois exemplos de culturas que possuíam o conceito de Ética desde muitos séculos da Filosofia Grega ou do surgimento do vocábulo que o identifica.

A Ética, muito mais que um pequeno conjunto de regras apresentado a um grupo de pessoas, está ligada a princípios e valores de natureza moral inerentes a uma cultura.

Por fim, a Inclusão, um conceito também polêmico, que não raras vezes é confundido com Integração e até com Inserção, pressupõe, sem redundância, a Exclusão. Ao se falar de Inclusão Social e, de modo particular, de Inclusão Escolar, é necessário dizer inicialmente que tal ato não se refere a um ou outro caso específico, como etnia, sexo, profissão, religião, classe social, ou de pessoas com deficiência, dentre outros, mas a um todo, a uma ação política plural, em nível nacional.

Inclusão implica em interação sem restrições por aversão ou mesmo certa fobia. Incluir é mais que inserir ou integrar, é criar condições de acessibilidade em todos os aspectos, com o mesmo grau de oportunidades disponível para toda a população.

Nesse contexto, entendo que é impossível formar um ser humano em sua plenitude política, se não existir este mesmo grau de oportunidades, portanto, se não se promover a inclusão social e particularmente a inclusão escolar, de acordo com seu mais profundo e abrangente conceito. A Inclusão deve ser assimilada como mais um princípio ético, inerente às diferentes culturas e, por consequência como mais um componente da Educação.

Só há inclusão do que está excluído

Educação é um ato político, de responsabilidade múltipla das instituições sociais basilares, como Estado, especialmente por meio da Escola; Família, com distinção para os pais; e, para o caso dos professos religiosos, a Igreja. Estas instituições devem ser cúmplices na Educação, desde a mais tenra idade do indivíduo, até seu último instante de vida.

Segundo o psicanalista alemão Erik Erikson (1902 – 1994), o ser humano se desenvolve continuamente, desde sua geração no ventre materno, até sua morte, por isso, sempre é tempo para educar e ser educado. Mais que termos uma Educação ética e inclusiva é termos uma Educação como uma Ética da Inclusão.

Ítalo Francisco Curcio  – Doutor e pós-doutor em Educação. Pesquisador no curso de Pedagogia da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

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Redação

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