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Educação e os altos índices de Violência Urbana

Para entender a relação direta existente entre Educação e Violência Urbana, primeiro precisamos compreender o cenário atual de cada um dos tópicos. Vamos lá?

Gabriela Righi  

São Paulo, 3/08 de 2020

2 Minutos

Problemas na Educação Brasileira

O sistema de Educação brasileiro possui inúmeros problemas, alguns ligados à formação e valorização do docente, outros à construção do currículo escolar, possibilidade de envolvimento da família, total atribuição do papel de educar à escola, à estrutura física das instituições de ensino, e por aí podemos continuar listando muitas outras questões, como os altos índices de violência urbana.

Porém, um dos maiores desafios e que vem se perpetuando desde muito tempo, é a disparidade e iniquidade do acesso à Educação.

Gráficos explicam em números os graves problemas da Educação e a geração da violência urbana no Brasil.

O Anuário Brasileiro de Educação Básica de 2020, publicado pelo Todos Pela Educação em parceria com a Editora Moderna, levantou dados que mostram uma decrescente taxa de conclusão dos ciclos de ensino ao longo dos anos. Ou seja, quanto mais velha a faixa etária, menos alunos terminam os estudos.

Porém, quando olhamos para as diferenças de recorte por nível socioeconômico, a porcentagem é ainda menor, escancarando a iniquidade citada acima. Além disso, a diferença nas taxas de aprendizagem adequada entre alunos de nível socioeconômico mais altos e mais baixos são mais assustadoras.

Em relação a alfabetização, o Plano Nacional de Educação previa como uma de suas metas elevar a taxa da população de 15 anos ou mais para 93,5% até 2015. Em 2019, essa meta ainda não havia sido alcançada, tendo um percentual de 93,4% dessa população alfabetizada.

Mais uma vez, a diferença entre brancos, pardos e negros, mais ricos e mais pobres, região urbana e rural, é absurda, reforçando a disparidade do processo de ensino e aprendizagem no Brasil.

Segundo o IBGE, em 2019 a taxa de evasão escolar no Brasil era de 7,6%, tendo as seguintes diferenças: Norte e Nordeste com 9,2% dos adolescentes fora da escola, enquanto no Sudeste o percentual era 6%. Na área rural atingia-se 11,5% e na urbana 6,8%. 8,1% eram homens e 7% mulheres. E, claro, 8,4% pretos ou pardos e 6,1% brancos.

Violência Urbana

O Atlas da Violência 2019, publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), apresenta dados alarmantes sobre a violência no Brasil. Em 2017 atingimos o maior número de homicídios da história, numa taxa de 31,6 por 100 mil habitantes. Tivemos um aumento de 6,7% na taxa de assassinato de jovens de 2016 para 2017 e de 37,5% de 2007 para 2017.

Um dos pontos mais assustadores é diferença nas taxas de homícidios entre negros e não negros: 75,5% das vítimas eram negras, o que significa que para cada indivíduo não negro assassinado, houve 2,7 negros mortos.

Tivemos 4.936 mulheres assassinadas (66% delas negras), o equivalente a 13 vítimas por dia. Entre 2012 e 2017, foi constatado um aumento de 17,1% de homicídios de mulheres dentro de casa.

Dentre tantos dados, devemos enfatizar um que poderia ser o ponto de partida para a grande virada de todos os outros: em 10 anos, entre 2007 e 2017, tivemos 618 mil vítimas de homicídio. 74,6% dos homens e 66,8% das mulheres possuíam até sete anos de estudos. Apenas.

Ligando os pontos

Dito tudo isso, é possível perceber várias vezes o abismo existente entre grupos mais privilegiados e grupos de minorias e, assim, refletir sobre a influência disso na violência urbana. Pensemos no caso de um rapaz de 14 anos, morador de favela, divide sua residência com sua mãe e 3 irmãos mais novos e a única renda é a de sua mãe, diarista.

Um amigo da rua trabalha no tráfico e possui uma renda muito maior e, assim, garante acesso a muito mais do que a família do rapaz em questão. Esse amigo lhe chama para começar a fazer alguns “serviços” que lhe renderão um dinheiro muito maior que o que sua mãe trás para casa.

Um rapaz com essa idade, nesse contexto, o que parece mais provável que aconteça: ele continuará estudando e vendo sua mãe trabalhando ininterruptamente para dar o mínimo do mínimo para ele e seus irmãos, ou ele começará a trabalhar com seu amigo para ter uma vida mais “digna” com sua família?

De acordo com o IBGE, entre 2017 e 2018, a média de despesas mensais de uma família residente do Sudeste foi de R$ 5.415,49. Em 2018, o índice de brasileiros em situação de pobreza (rendimento domiciliar até R$ 420,00 per capita) era de 25,3% e em situação de extrema pobreza (rendimento domiciliar até R$ 145,00 per capita) era de 6,5%.

Num país onde 13,5 milhões de pessoas precisam (sobre)viver com menos de R$145,00 por mês, não fica tão difícil perceber o porquê das altas taxas de evasão escolar e, consequentemente, violência urbana. A violência é gerada por desigualdade social. A desigualdade social é gerada pela falta de acesso à Educação.

Consegue entender o que a Educação tem a ver com os altos índices de Violência Urbana?



Gabriela RighiPsicóloga na TUCA Psicologia e Educação

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Redação

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