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Leitura Desaba com Netflix

Na verdade, a Internet e seus efeitos facilitadores derrubaram o tempo, o prazer e as vantagens de ler um bom livro impresso, em que pese a produção do papel ser uma das maiores preocupações atuais quando se fala em sustentabilidade, a fabricação de tinas, as máquinas de impressões, energia, ecologia, proteção ambiental etc… Aí surgiu o kindle, mas é mesmo uma boa opção? A questão é: quanto de recursos naturais não renováveis ele também retira da terra?

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São Paulo, 18/08/2022.

4 Minutos

Infância e adolescência eram tempos de desenhar e de muita leitura. Para os pequenos do ensino público na fase básica – da 5ª à 3ª série final do ensino fundamental -, as recomendações feitas pelos professores tinha uma razão óbvia: a TV não substituía os livros. Existia, sim o modelo rápido-preguiça, facilitador para quem dispunha de pouco tempo – os gibis e os pocket books (conceito) estavam até em bancas de jornais.

Muito antes disso, histórias completas poderiam ser lidas em jornais. A edição em formato livro chegou tarde ao Brasil, aparentemente bem depois no início dos anos de 1800, data em que a família real portuguesa chegou aqui, a responsável pela criação dos primeiros jornais. A Gazeta do Rio de Janeiro e o Correio Brasiliense foram, segundo estudos, os dois precursores no país.

À época, a censura já existia no Brasil, e até a chegada da família real era proibida qualquer circulação de informativos. O rei não deixava. Tanto que o Correio Braziliense era publicado em Londres, e claro, se opunha criticamente à Gazeta do RJ, o ‘periódico’ permitido pelo novo reino português-brasileiro.

Uma das razões pode ter sido a ideia recorrente de separar o Rio Grande Sul do resto do país. Espanhóis estavam por trás desta intenção, e claro, a eles hoje se juntaram outras nacionalidades: alemães, italianos, poloneses (cada com sua determinada medida) e de acordo com as famílias imperiais ainda em voga na Europa, donas de grandes e rentáveis negócios, mesmo apenas fazendo parte dos conselhos administrativos.

Já os livros vieram bem depois, só a partir de 1850 ganharam espaço. Escritores famosos como Machado de Assis, José de Alencar, Lima Barreto, por exemplo, próceres da nossa literatura, em diferentes tempos espaços, usaram o expediente editorial jornalístico para lançar diversas de suas histórias, fossem contos ou romances, ou crônicas de conteúdo sócio-político-psicológico (não nesta ordem), semanalmente.

Leitores diminuem todos os anos

Leitura Desaba com Netflix
Ler um bom livro abre as portas para diversos mundos. (Img Web)

Tempo, Tecnologia e História traçam caminhos paralelos e complementares, e se desviam constantemente uns dos outros quando o caso é de política e geralmente se vê associado (em um grau que as elites odeiam) aos casos de polícia.

Desde a “inocente” participação de filhos ilustres com banditismo barato, até as relações sexuais e interações promíscuas da corte. Sempre poder, sexo e dinheiro.

Sexo, drogas e rock’n roll só surgem no cenário a partir dos anos 1950/1960 para tentar substituir o tríptico milenar anterior que ergueu e sustentou impérios. Considere, também, que o termo dinheiro (moeda: dólar) veio “substituir” a palavra ouro, sendo ela, a palavra, a ferramenta ideal para o mimetismo social que sustenta a validade do metal e o mercado em questão.

É assim até hoje, e o tal pluralismo democrático atribuído às famílias e grupos que detém órgãos de imprensa, sejam jornais impressos ou eletrônicos (Rádio, TV, Internet) funcionam como fachada, afinal os negócios precisam se manter. Os organismos legais que promulgam a liberdade de imprensa (ou de expressão) são módulos petrificados ao sabor de determinados e iluminados interesses. Isso, contudo, não dá sustentação legal alguma ao espetáculo grotesco do slogan/ladainha recorrente: “e a minha liberdade de expressão!?” Mas, se alterar as relações econômicas com algum patrocinador importante, tudo pode ir por água abaixo, estruturalmente.

Então, grandes fabricantes de sinônimos, contrações, justaposições, vírgulas e outros elementos (con)formadores das palavras, da sintaxe e do estilo da língua escrita (até onde estes podem se separar) estarão sempre na linha de frente dos profissionais mais procurados, ainda que os salários sejam aviltantes. As fake news ficam para as camadas mais baixas da inteligência média e destratada da sociedade. Mas, são negociáveis.

Está claro também que tais profissionais devem manter-se bem informados sobre questões políticas e empresariais, e quanto maior e melhor posicionada no mundo dos negócios forem as empresas patrocinadoras, (a saber – bancos internacionais ou grupos financeiros nacionais), grandes multinacionais com filiais e IPOs estabelecidos há mais de 4 décadas no país em bolsas com moedas fortes (médias ponderadas – a idade é fundamental para dólar, euro, libra e onça troy!), maior será seu poder de influência nas esferas decisivas. Imprensa e poder copulam incestuosamente sob a coberta do mercado-dinheiro desde que uma surgiu em detrimento-necessidade do outro. Se existem inescrupulosos? Ora, que pergunta ingênua!

Empresários de comunicação sabem que precisam de dados e por isso buscam as fontes mais confiáveis. Elas não estão em qualquer lugar. A mineração destes dados requer conhecimento, objetividade, inteligência crítica e estratégia. Universidades de renome detêm bancos de dados muito úteis, e somente um governo que trabalha contra seu o seu país e sua sociedade, movido por razões dúbias, atacam as universidades e os profissionais da educação, da ciência e pesquisa que recolhem estes dados, os analisam e produzem sínteses e diretivas úteis. A questão é como usa-los.

Agentes e atores dispersos em buscas e entregas constantes

Empresas de Comunicação são agentes publicitários e de marketing de negócios, a serviço do grande capital internacional e do capital nacional mais bem adaptado/estruturado; deem-lhes os nomes que quiserem. São olhos, ouvidos e gargantas operando em prol de um cérebro gigantesco e sinapticamente multifacetado, diverso. “In puts e put outs!” Mas, são conservadores até certo ponto, e usam até IA para isso.

Claro, investem noutros setores: cultura, esportes, transportes, tecnologia, mercado de capitais, sustentabilidade, educação etc. Esta variedade é fonte de renda segura porque é básico da humanidade, da civilização. E se é civilização é cultura – são inseparáveis. Como pão e refeição. Pra que mudar?

Os árabes, por exemplo, conseguiram tirar uma parte do poder do ouro e os transplantaram para o petróleo. Está dentro de uma cadeia produtiva poderosa espalhada em todo o planeta (no Ocidente leia VolksWagen, Ford, GM, Fiat, Mercedez e derivados, Bentley, Rolls-Royce, Landrover, Jaguar, Aston Martin ingleses, entre outras, no segmento automobilístico). E, não só combustível, em fase de transição, mas uma série de produtos dali derivados que movem ativos, indústrias e empresas em todo mundo se relacionam com o dólar.

O Brasil tenta atrair o capital para os alimentos, indústria produtiva básica (de risco, claro – que o digam as ondas verdes, a preservação das florestas, do patrimônio natural da humanidade e tudo o que isso implica). O país também investe em biocombustíveis e alternativas energéticas ligadas a certos metais e
recursos renováveis. Mas, isso é outro assunto para outro texto, com experts e estrategistas, analistas de setores específicos que compõem a base da economia nacional e sua viabilidade. Faltam vontade política e investimentos na pesquisa, na indústria local e na forte dependência com o poderoso mercado global.

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Carro híbrido – esquema interno (Img. Web)

Por isso, certos governantes vivem atacando os canais de comunicação. Os contratos amarrados com empresas norte-americanas, europeias e asiáticas impedem que as empresas nacionais cresçam nos mercados mais competitivos, porque os donos já estão lá há séculos. O jogo dos interesses deixa de lado questões fundamentais, já que os números não revelam tudo, pelo contrário, eles velam.

Em vez de destruir o que funcionaacionar o que estava parado, e funciona

Ao mesmo tempo, na quebra de braço pelo poder do Brasil, outros governantes, partidos e políticos se destacam e garantem a sua permanência no poder, porque entendem que os negócios feitos no passado garantem um fluxo econômico estável (parece piada, mas são sim, estáveis).

Não há porque rompe-los e se isolar. Baseado nas grandes empresas já estabelecidas que rolam dados nas mesas mundiais, são tidas como as transações mais seguras e, ainda assim, devem ser constantemente analisadas por equipes complexas, críticas e inteligentes, uma constante que não lhes dá o direito de abandonar o pensamento no amanhã. Reestruturar é condição sine qua non .

Cuidar da Saúde, da Educação e da Ciência/Pesquisa, ampliar a base e a diversidade de negócios, e ao mesmo tempo concentrar as atividades do estado
em áreas prioritárias – políticas públicas de geração de renda e empregos (um base eleitoral forte, consistente), com banco central forte/técnico e agências de fomentos dispostas e capazes de investir no que dá certo, reformas fiscal e administrativa visando justiça social e crescimento equilibrado em um estado de direitos. Enfim, acabar com o estatuto binário do poder brasileiro.

Para tanto precisa tempo, trabalho, Educação e Cultura -, fundamentalmente, continuidade e o uso correto das tecnologias disponíveis, ao invés de substituir
o que dá certo por novidades nem sempre produtivas, ou que surgem a título de teste/aventura para captar recursos e jogar para o final da fila os investidores desatentos.

Ouço por aí: “A Educação é uma barca furada. A canoa quebrou“. Então, vamos encostá-la, concertá-la enquanto buscamos entender que nem mesmo o rio continua o de sempre!

Fica a dica: nem tudo que é novidade tecnológica é boa, mas saber ler e escrever suficientemente bem, para entender e redigir um contrato é básico. O livro ainda é um recurso precioso para quem quiser avançar e sair da superfície, ou aprender a surfar! Ainda assim, não se pode dispensar uma boa série televisiva-streaming. Não daquelas que vasculham as profundezas do comportamento humano e de seus anseios mais entranhados.

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volmer rego

jornalista, professor, escritor, publisher