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No Museu Judaico – São Paulo

Memória e Testemunho em novo livro marcam o início do projeto Judeidade e Negritude e contam com o apoio de editora famosa.

Redação

São Paulo, 06/06/2022.

2 Minutos.

Museu Judaico de São Paulo, o Instituto Brasil Israel e a Casa Sueli Carneiro realizam o debate Memória e Testemunho e o lançamento do livro “Nada os trará de volta” (Cia. das Letras), do autor e militante do movimento negro Edson Cardoso, no dia 11 junho, sábado, às 16h.

No debate, Edson Cardoso e o professor e crítico literário Márcio Seligmann-Silva irão refletir sobre o papel da memória e do testemunho para a afirmação das narrativas dos oprimidos, obliteradas pela história escrita do ponto de vista dominante e hegemônico.

Nada os trará de volta” reúne 151 textos publicados por Cardoso ao longo de quase quarenta anos. Inspirado em Hannah Arendt, o autor lembra que são escassas as possibilidades de que a verdade factual sobreviva ao assédio do poder. Como narrativa dos vitoriosos, a história tende ao apagamento dos fatos — daí a importância do testemunho.

O debate é o primeiro da série “Judeidade e Negritude”, iniciativa do Museu Judaico de São Paulo, do Instituto Brasil-Israel e da Casa Sueli Carneiro, com colaboração dos editores Ricardo Teperman e Fernando Baldraia, que irá promover conversas acerca das aproximações e tensões relacionadas à judeidade e à negritude, passando pela pesquisa de alianças e clivagens históricas entre os dois grupos, intersecções entre as duas identidades e reflexões de interesse comum nos campos da arte, da cultura, da antropologia, da psicanálise, entre outros.

No Museu Judaico - São Paulo
Lançamento de livro denúncia do racismo histórico-estrutural

Sobre o Livro Nada os trará de volta – Em 1987 uma denúncia do então assessor parlamentar do deputado Florestan Fernandes, colocou em evidência a raiz racista do Brasil. Edson Cardoso

Em junho daquele ano, os muros da Universidade de Brasília amanheceram pichados com inscrições como “Morte aos negros!

A administração da UnB descartou abrir investigação sobre o caso, e os criminosos não foram identificados.

Talvez a história não guardasse nenhum registro desse ataque supremacista em plena redemocratização se Edson Cardoso não o tivesse imediatamente denunciado no artigo “Furor genocida”, escolhido para abrir a presente coletânea de escritos.

Inspirado em Hannah Arendt, o autor lembra que são escassas as possibilidades de que a verdade factual sobreviva ao assédio do poder. Como narrativa dos vitoriosos, a história tende ao apagamento dos fatos — daí a importância do testemunho.

Ex-chefe de gabinete do deputado Florestan Fernandes e um dos principais organizadores da célebre Marcha Zumbi dos Palmares contra o Racismo, pela Cidadania e pela Vida, que reuniu mais de 30 mil pessoas em Brasília, em 1995, Cardoso tem larga experiência na vida política e no ativismo. Como ele mesmo afirma, seu projeto intelectual se confunde com a militância, opção incomum num país de célebre cultura bacharelesca.

O que evidencia o ineditismo e a potência dos textos que compõem as três primeiras partes do livro — “Movimento Negro”, “Denúncia do genocídio negro” e “Incidência política”. Se por vezes a violência racial escancara os dentes, em tantas outras ela se oculta da maneira mais pérfida. Leitor arguto e dono de formidável bagagem literária, Cardoso manteve constante debate com os principais veículos de comunicação do país. Seu diagnóstico é implacável, como demonstra na quarta seção, “O jornalismo em revista”.

Na última, intitulada “Imaginário”, o autor interpela figuras como Machado de Assis, Caetano Veloso e João Ubaldo Ribeiro, em análises tão sofisticadas quanto surpreendentes — como a que recupera depoimento de Manuel Faustino, um dos líderes da Conjuração Baiana, em 1798 (Revolta dos Alfaiates). Faustino defendia que o Brasil tivesse um governo do qual as pessoas participassem por seus méritos e não pela cor da pele. Foi enforcado e esquartejado, mas quem ainda se lembra disso?

Edson Cardoso nasceu em Salvador, em 1949. Bacharel em Letras (UFBA), mestre em Comunicação (UnB) e doutor em Educação (USP), é coordenador do Ìrohìn — Centro de Documentação e Memória Afro-Brasileira. Foi editor dos jornais Raça & Classe e Jornal do MNU (Movimento Negro Unificado), e publicou Bruxas, espíritos e outros bichos (1992) e Negro, não (2015), entre outros livros.

Márcio Seligmann-Silva é Doutor pela Universidade Livre de Berlim, pós-doutor por Yale e professor titular de Teoria Literária na UNICAMP. Foi professor visitante em Universidades na Argentina, Alemanha, Inglaterra e México. Autor, entre outros, de O Local da Diferença (segunda edição 2018, vencedor do Prêmio Jabuti em 2006).

Museu Judaico de São Paulo (MUJ) cultiva e mantém viva as diversas expressões da cultura judaica, em diálogo com o contexto brasileiro e com os debates contemporâneos. O Museu foi inaugurado em dezembro de 2021, conta com uma biblioteca e mais de mil livros para consulta pública.

Instituto Brasil-Israel produz e dissemina conhecimento sobre Israel em diálogo com a sociedade brasileira e combate o antissemitismo.

Casa Sueli Carneiro tem como propósito constituir articulação do pensamento ativista-intelectual de Sueli Carneiro em expressões e linguagens negras de continuidade de memória e resistência.

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Redação

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