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O “Imediatista”

Um amigo meu, Carl Gachet, acadêmico americano especialista em linguística, me pergunta sobre o sentido cultural que atribuímos à palavra “imediatista” na língua portuguesa, com nuances diferentes que em outras línguas, e que ele classifica como “brilhante!”

Ricardo Guedes

Belo Horizonte, 05/04/2022.

1 Minuto

Um amigo meu, Carl Gachet, acadêmico americano especialista em linguística, me pergunta sobre o sentido cultural que atribuímos à palavra “imediatista” na língua portuguesa, com nuances diferentes que em outras línguas, e que ele classifica como “brilhante!” Respondi que o Brasil é a “cultura da última chamada ou do último momento”, boa na solução de problemas imediatos, pois é isto que fazemos o dia inteiro no nosso dia a dia, para ser redundante, e ruim em proposições e planejamento. Mal conseguimos programar o dia futuro, o oposto dos Estados Unidos.

O “Imediatista”
                                   Mapa do Brasil – Sec. XVII – (Img. Internet)

Assim é na nossa economia e na nossa política. Na economia, dependendo da conveniência, ora somos liberais, ora somos keynesianos, ora somos social-democratas, ora somos estatistas.

Depende do problema da hora, e o que devemos fazer para resolvê-lo segundo nossos interesses imediatos. Na política, como dizia Magalhães Pinto, nada pode se prever ou se esperar. A política é como “nuvens no céu”, que mudam de configuração a cada momento. O furo do teto de gastos no Brasil, com propósitos eleitorais e sob a égide do auxílio aos mais necessitados, desarranjando a economia do país relativamente em equilíbrio há mais de 20 anos, é caso clássico e notório deste comportamento.

Li em uma crônica que um francês não gostava do Brasil por causa da bagunça, e que outro francês gostava do Brasil por causa da bagunça. Em outra crônica, que o então designado cônsul de um país escandinavo em São Paulo ao ser convidado por um empresário para jantar em sua casa às oito horas da noite se surpreendeu ao chegar, em trajes formais, e saber que o anfitrião estava ainda no banho, o qual uma hora depois desceu as escadas da casa de camiseta. Convidado novamente para um evento profissional na mesma residência, teve o cuidado de chegar com uma hora de atraso e com roupas informais, sendo surpreendido por todos terem chegado na hora certa e estarem todos de terno.

Em seu livro “O Brasil para Principiantes”, Peter Kellemen cita que “como país verdadeiramente onírico e surrealista, o Brasil é a terra em que ‘em se plantando tudo dá’, onde ‘Deus é brasileiro’, ‘o país do amanhã’, e do ‘se não chover… quem sabe…” É, também, cenário de “contrastes e paradoxos, por vezes violentos, por vezes engraçados”. Phillipe Schmitter, brasilianista, cita que o Brasil, depois da Itália, é o país de geração do maior número de gírias e termos na área política, com a transformação contínua do sentido das ações.

O que é o “imediatista” em nossa cultura? É chegar na última hora do último momento, o “imediato do imediato”.

 

Ricardo Guedes – Ph.D. pela Universidade de Chicago – CEO da Sensus

 

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Redação

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