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Odontologia e Autismo

Cirurgião-Dentista é fundamental no atendimento a pacientes com Transtorno do Espectro do Autismo Profissionais precisam estar prontos para o acolhimento

Redação

São Paulo, 01/04/2023

4 Minutos.

No Dia Mundial da Conscientização do Autismo (2/4), o Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP) destaca a importância do atendimento especializado aos pacientes com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). Em geral, o transtorno é caracterizado por dificuldades de interação social, comunicação e comportamentos repetitivos e restritos. Por isso, é essencial que o Cirurgião-Dentista esteja pronto para receber, acolher e tratar esse paciente e, também, informar familiares e cuidadores sobre saúde bucal.

Segundo a Cirurgiã-Dentista Dra. Cristhiane Olivia Ferreira do Amaral, especialista e membro da Câmara Técnica de Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais (OPNE) do CROSP, o paciente com TEA é único, pois ele tem espectro em intensidades diferentes, que variam entre os níveis de apoio e suporte 1, 2 e 3. “O nível 1 é quando o indivíduo precisa de pouco suporte. O nível 2, quando o grau de suporte necessário é razoável. E o nível 3, quando o indivíduo necessita de muito suporte e apoio”.

O mais importante, segundo ela, é que o Cirurgião-Dentista seja inserido pela família na equipe multiprofissional que atende o paciente autista, já que normalmente ele vai a diversas terapias: fonoaudiologia, terapia ocupacional, psicologia, fisioterapia, entre outras. Porém, a Odontologia não está inserida de forma plena e efetiva como deveria. “Nós, Cirurgiões-Dentistas, temos que estar prontos para este acolhimento. As pessoas com autismo nos ensinam que os sentimentos não precisam de palavras e que o melhor tipo de comunicação é o amor”.

Dra. Cristhiane explica que essa inclusão da Odontologia é importante para que haja rotina, adaptação e criação de vínculo por parte do paciente e profissional. “Se houver prevenção, ela não precisará passar por um atendimento odontológico invasivo e de alta complexidade”.

Modalidades de atendimento

A especialista esclarece que a modalidade de atendimento prestada ao paciente autista é determinada de acordo com nível de dificuldade de cada um. A abordagem odontológica pode ir desde o atendimento no consultório de uma forma lúdica, com a utilização de métodos de manejo indicados para conseguir a cooperação para o tratamento, até o atendimento hospitalar.

Odontologia e Autismo
Estruturas técnicas, conhecimento e interações. Necessárias no trato de TEA. (Img. Web)

“O nível de suporte e apoio que o paciente autista se encontra ou a reação dele frente ao tratamento odontológico e a necessidade odontológica acumulada, é que determinarão o tipo de modalidade de abordagem que o Cirurgião-Dentista vai utilizar”.

Ela explica que, em alguns casos, diante da presença de um procedimento complexo e depois de tentativas de abordagem com manejo do comportamento sem a colaboração do paciente, poderá haver a necessidade de sedação com profissionais habilitados e capacitados.

Em casos mais invasivos, é necessária a intervenção em ambiente hospitalar com anestesia geral.

Desafios

A desorganização sensorial que pode acontecer no consultório por parte do paciente autista não é incomum. Nesses casos, é necessário fazer de tudo para que esse paciente não se desorganize. Por isso, o vínculo formado é fundamental.  Existem várias técnicas que podem ser utilizadas para ajudar nesse sentido.

“O Cirurgião-Dentista pode, por exemplo, preparar o consultório com uma pré-ambientação. Podemos deixá-lo mais colorido, colocar um motivo de interesse do paciente (interesse restrito a determinados itens ou temas). Pode ser: um personagem, jogos, objetos, brinquedos que o paciente é focado e goste muito”.

Outra coisa importante, segundo ela, são as sequências visuais, pois o autista tem necessidade de referência física, materiais estruturados,
para diminuir a ansiedade e para não se desorganizar sensorialmente. Nesse caso, os pais podem, por exemplo, mostrar sequência de várias figuras ou fotos de um atendimento odontológico. A cirurgiã explica que essa técnica permitirá ao paciente uma sequência visual do que acontecerá durante o atendimento, antecipando a sua ida ao consultório, que já estará estruturada em sua mente.

A previsibilidade de tempo e ambiente é um item importante no atendimento ao autista. A especialista diz que a previsibilidade corresponde à necessidade de antecipação dos acontecimentos de forma estruturada e regrada. “O paciente com TEA tem essa necessidade de previsibilidade de acontecimento e de tempo de cada procedimento. Vale ressaltar que os sistemas sensoriais, como visão, audição, paladar, olfato e tato, dentre outros, são alterados no autismo. Se esse paciente tiver uma rotina ao tratamento odontológico, ele estará mais adaptado e organizado em relação aos estímulos sensoriais provocados durante o atendimento”.

Outras técnicas

Além das técnicas já citadas, a especialista destaca que existem inúmeras possibilidades que podem ser utilizadas no atendimento ao paciente com autismo, entre as quais:  O reforço positivo – correspondente à uma recompensa cada vez que há colaboração com comportamento desejado. Esse reforço pode ser um item, um objeto; interações ou atividades que acontecem como consequência de uma resposta. “‘Aqui pode ser utilizado o incentivo com o próprio reforçador dele, que pode ser o brinquedo que ele gosta ou a tela do celular que ele vai poder olhar assim que terminar”.

A dessensibilização dos sons – O uso de equipamentos como a caneta de baixa rotação deixa o som e a vibração ruins. Uma boa estratégia proposta, pode ser a utilização da escova elétrica para que haja uma antecipação dos ruídos e dos movimentos vibratórios em casa. A antecipação dos sons por meio de recursos como imitação do ruído da caneta de alta rotação também é válida.

Por fim, abordagens como adaptação de rotina, condicionamento, gerenciamento de comportamento, limitação de ruídos intensos e luz diretamente nos olhos, eliminação de reforço negativo ou punição, adoção de um ritual de procedimentos estabelecidos e horários programados. Somados a isso a ajuda dos pais em tarefas sequenciais por meio de figuras e desenhos, ordens claras e curtas e sessões bem planejadas auxiliarão na formação do vínculo, como um sentimento bilateral. A Cirurgiã-Dentista aconselha aos pais que nunca mintam quando se tratar de levá-los ao Cirurgião-Dentista. “Dizer que vai levar à casa de um amigo ou no shopping não é uma boa estratégia, pois ocasiona a quebra da confiança”.

Higiene bucal

A higiene bucal em casa costuma ser difícil em muitos casos, pois o paciente pode ter aversão à escovação. Contudo, ela nunca deve deixar de ser realizada. A especialista orienta a driblar a dificuldade por meio de associações e aproximações sucessivas. Lembra que se trata de ensinar, não apenas um comportamento, mas um conceito. “Nem sempre é fácil, mas não deve deixar de ser feita. Se não for realizada não entra na rotina, e se não está na rotina, piora a qualidade da saúde bucal”.

Dados

A Organização Mundial da Saúde (OMS), estima que, em todo o mundo, uma em cada 160 crianças tenha autismo. Porém, a última pesquisa divulgada nos Estados Unidos pelo Centro de Controle de Prevenção de Doenças (CDC), em 23 de março de 2023, apontou que 1 em cada 36 crianças de 8 anos são autistas. No Brasil, aproximadamente 2 milhões de pessoas têm Transtorno do Espectro do Autismo.

 

CROSP – O Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP) é uma Autarquia Federal dotada de personalidade jurídica e de direito público com a finalidade de fiscalizar e supervisionar a ética profissional em todo o Estado de São Paulo, cabendo-lhe zelar pelo perfeito desempenho ético da Odontologia e pelo prestígio e bom conceito da profissão e dos que a exercem legalmente. Hoje, o CROSP conta com cerca de 170 mil profissionais inscritos. Além dos Cirurgiões-Dentistas, o CROSP detém competência também para fiscalizar o exercício profissional e a conduta ética dos Auxiliares em Saúde Bucal (ASB), Técnicos em Saúde Bucal (TSB), Auxiliares em Prótese Dentária (APD) e Técnicos em Prótese Dentária (TPD).

 

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Redação

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