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Roupa Velha é Lixo?

Brasil produz por ano 170 mil toneladas de resíduos têxteis e recicla apenas 20%. Pra onde vai o resto? Na contramão da fast fashion, empresas abraçam cada vez mais o desafio de produzir moda circular e tornar o setor mais sustentável.

Redação

São Paulo, 25/04/2023

3.4 Minutos.

A indústria têxtil cresce a passos largos. A previsão para este ano é de que 6 bilhões de peças de roupas sejam vendidas no Brasil, segundo o Instituto IEMI – Inteligência de Mercado. Os números acompanham a velocidade da chamada fast fashion, em que as roupas são consumidas e descartadas com rapidez. Esse padrão de consumo, porém, tem um grande impacto ao meio ambiente. O Brasil produz por ano 170 mil toneladas de resíduos têxteis e apenas 20% desse material é reciclado, segundo o Sebrae. O restante, 136 mil toneladas de roupas, acaba em lixões e aterros sanitários.

No maior polo têxtil do Brasil, o Brás, em São Paulo, 16 caminhões de lixo têxtil são descartados diariamente, principalmente com sobras de produção. Ainda segundo uma pesquisa do Sebrae, no mundo, o número chega a 50 milhões de toneladas de roupas que são jogadas fora a cada ano, parte delas levadas para países da África, como Gana, e da América do Sul, como o Chile. A maioria não é biodegradável.

Pesquisas indicam que tecidos sintéticos levam de 100 a 300 anos para se decompor e o poliéster leva até 400 anos. As roupas de algodão demoram entre 10 e 20 anos para se decompor. Todo esse material pode ter um destino mais nobre que os aterros e os lixões. O relatório A New Textiles Economy: Redesigning fashion’s future, da Fundação MacArthur, estima que mais de US$ 500 bilhões são perdidos ao ano por falta de reciclagem do vestuário.

Moda desnecessária – desperdício, poluição e utilidade pública

De acordo com o estudo, o setor têxtil produz 1,2 bilhão de toneladas anuais de gases do efeito estufa, mais do que todos os voos internacionais e de transporte marítimo juntos. Ainda segundo o documento, quando lavadas, algumas peças de roupa libertam microfibras de plástico, que somam meio milhão de toneladas todos os anos lançadas em cursos de água.

Roupa Velha é Lixo?
Estima-se um desperdício de US$ 500 bilhões anuais… (Img Web)

Na contramão do modelo fast fashion, a moda circular vem ganhando cada vez mais adeptos mundo afora, nas fábricas, passarelas, nas vitrines das lojas e no comportamento dos consumidores.

A proposta, que já vem sendo adotada por designers, estilistas e algumas redes varejistas, é valorizar produtos com um ciclo de vida mais duradouro e sustentável, e reduzir os impactos negativos à sociedade e ambiente.

“A democratização da moda e a criação do modelo fast fashion, na década de 1990, mudaram o comportamento das pessoas, que passaram a consumir roupas com maior velocidade.

Hoje vivemos uma nova realidade, de rever hábitos e repensar o consumo para que possamos conter as mudanças do clima e dar mais fôlego ao nosso planeta.

A economia circular é um dos principais caminhos para atingirmos esses objetivos”.

Estudos avançados seculares

Edson Grandisoli, coordenador pedagógico do Movimento Circular, Pós-Doutor pelo Programa Cidades Globais (IEA-USP) do Movimento Circular comenta: – ” Na economia circular o lixo não existe. Os resíduos se transformam em matéria-prima para as empresas praticarem o upcycling, processo que reaproveita os materiais sem perda de valor ou qualidade. A circularidade se inspira na natureza e seus ciclos. Nela, nada se perde, tudo se transforma”.

A economia circular é uma alternativa à economia linear, baseada em extrair, produzir, usar e descartar, modelo capitalista que já se mostrou insustentável. Na circularidade, os materiais são mais duráveis e reaproveitados, até que nada vire lixo. “Para que esse modelo se torne realidade, todos nós temos um papel a desempenhar. É um círculo colaborativo, que alimenta a si mesmo, e ajuda a regenerar o planeta e nossas relações”, comenta o professor Edson. Várias empresas já abraçaram o desafio de tornar a indústria da moda mais saudável para o meio ambiente.

Parcerias com Movimento Circular

Projeto de um adolescente que cresceu rapidamente e perdeu muitas roupas, nasceu na cidade de São José dos Campos. Com o apoio da mãe, e engajamento da comunidade, a iniciativa  progrediu. “Em um ano, meu filho cresceu 20 centímetros e perdeu todas as roupas e calçados. Ele imaginou como seria se pudesse trocar essas peças com outras pessoas”.

Com ajuda de professores e da Pastoral da Educação da cidade, ganhou espaço na Escola Franciscana em agosto de 2020. A proposta conquistou adeptos, cresceu e, no final do ano passado, outras duas unidades foram abertas, na escola de Pedro e na paróquia da cidade. Nas escolas, o projeto conta ainda com palestras para os alunos repensarem hábitos de consumo e o respeito ao meio ambiente.

As peças encalhadas são customizadas. “A camiseta não precisa virar lixo. Ela pode virar matéria-prima para uma ecobag, que vai durar mais um tempão, e depois ainda pode virar um pano de chão”, explica. Ela contabiliza 4 mil peças trocadas, entre roupas e calçados, envolvendo mais de 700 pessoas, o que equivale a 14 mil quilos de gases do efeito estufa que deixaram de ser lançados ao meio ambiente e economia de 20 milhões de litros de água. Agora busca apoiadores para levar o projeto para mais escolas.

O Movimento Circular foi criado em 2020. Ecossistema colaborativo que se empenha em incentivar a transição da economia linear para a circular. A ideia de que todo recurso pode ser reaproveitado e transformado é o mote da Economia Circular, conceito-base do movimento.

Inovação é cultura

É uma iniciativa aberta que promove espaços colaborativos com o objetivo de informar as pessoas e instituições de que um futuro sem lixo é possível a partir da educação e cultura, da adoção de novos comportamentos, da inclusão e do desenvolvimento de novos processos, produtos e atitudes.

 

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Redação

ÆscolaLegal é um esforço coletivo de profissionais interessados em resgatar princípios básicos da Educação e traduzir informações sobre o universo multi e transdisciplinar que a envolve, com foco crescente em Educação 4.0 e além, Tecnologia/Inovação, Sustentabilidade, Ciências e Cultura Sistêmica. Publisher: Volmer Silva do Rêgo - MTb16640-85 SP - ABI 2264/SP