ConteúdosDestaquesMulherPolítica

Sobre Feminismo(s) e Política

Ao classificar e sobrepor as duas categorias discussionais e seus atributos lógicos podemos facilmente chegar a uma conclusão – paroxismo – próxima do absurdo. Gênero e política têm raízes bem próximas, mas, não devem ser confundidas. Ambas estão na linha de frente da luta pelo poder – milenarmente. Uma estratégia contundente foi gerar a confusão entre gêneros, a partir mesmo de distinções neurobiológicas. Já não há mais uma disputa binária, assim como não há mais direita ou esquerda. O palco chega ser ilusório, mas eles podem subir.

Rosilene Marcelino

São Paulo, 12/08/2022.

2 Minutos

Volte algumas casas no jogo da vida caso você pense feminismo como uma agenda cara a uma dada ideologia política. E outras tantas se ainda imagina o feminismo como oposto ao machismo. Retroceda um pouco mais caso não note a existência de feminismos (isso mesmo, no plural, reconhecendo toda sorte de vivências). E recomece a partida se segue julgando feminismo(s) como algo restrito às mulheres.

Em um mundo polarizado (bipartido, do isso e daquilo, do é assim e do é assado, do certo e do errado, do bem e do mal, de direita e de esquerda, de santos e profanos, analógicos e digitais, do cliquei e do não cliquei e não sei mais o quê…). É provável você já ter se deparado com o (lamentável, raso e frágil) juízo de valor dos feminismos caracterizados como coisa de comunista, esquerdista e socialista, com essas expressões sendo proferidas a plenos pulmões como espécie de xingamento.

Tal articulação, carregada nas tintas de matizes pejorativas, não passa de um mergulho no pires daqueles que abrandam como os nervos milimetricamente estivessem à flor da pele para afugentar qualquer possibilidade de reflexão e consciência. No âmbito político, tem sido no grito a estratégia de silenciamento das diversidades e, consequentemente, o retardo de possibilidades de exponenciar políticas públicas inclusivas.

Dá-lhe barulho, de caso (bem) pensado, para tentar manter o patriarcado no poder. Em meio a quebra de braço e a opacidade de extremos forjados, brasileiros, parecem praticamente arremessados a uma saída perigosa: que trincheira integrar? Acena aí o risco, entre tantos, da subtração dos indivíduos da potência do diálogo e da reflexão, desde muitas perspectivas, para a busca de saídas conjuntas e responsáveis aos desafios de muitas ordens em termos de País.

Sobre Feminismo(s) e Política
Sede do Executivo da União em Brasília. (Img. Web)

De uns tempos para cá, na esteira de crises socioeconômicas, políticas e sanitárias, tem-se tornado recorrente a expressão “terceira via”. À beira das eleições 2022, o termo recuperado d’outras épocas, representa a fração da população que rejeita os, até aqui, líderes das intenções de voto: o Presidente Bolsonaro (PL) e o ex presidente Lula (PT).

Na tentativa de pavimentação nada tranquila da terceira via, seja nos “quiproquós” de bastidores ou sob holofotes, não se pode dar de ombros para os eleitores que não querem “isso ou aquilo”, mas outras respostas para a retomada de um projeto de Brasil.

Com a distância de alguns dias da oficialização da candidatura da Senadora Simone Tebet (artigo editável no Wikipédia) à Presidência sob a tríade MDB, PSDB e Cidadania, assenta-se finalmente a promessa recente de uma chapa feminina com a confirmação da Senadora Mara Gabrilli (artigo editável da Wikipédia) à vice.

Ter, agora, a constituição de uma alternativa de “terceira via” efetivamente composta por mulheres (emedebista e tucana) na corrida presidencial de 2022 soa emblemática e como um convite para se colocar em curso mais visibilidade para a luta por igualdade de gênero na política brasileira. A candidatura evidencia, ainda, que “mulheres no poder” não é caro a um dado espectro político apenas.

Está se perguntando sobre o(s) feminismo(s) mencionados no início do texto? Para os efeitos destes dois dedos de prosa, fica a ciência de que essa movimentação política e intelectual abriu caminhos para a escrita desta reflexão. As palavras aqui partilhadas logo se dão na esteira de quem foi ponta de lança para denunciar a dominação masculina. Dito isso, lembre-se: Gabrilli não era a primeira opção dos “caciques” dos partidos envolvidos. E, ao final de julho, no sindicato dos Metroviários, foi anunciada pelo PSTU a primeira chapa integralmente feminina na disputa à eleição presidencial de 2022 formada pela cientista social Vera Lúcia e pela vice, a pedagoga Raquel Tremembé, indígena da etnia Tremembé, do Maranhão. Isso deixa o fio da meada para pensar visibilidades, invisibilidades e invisibilizações.

Bora colocar os olhos no jogo político; ele diz respeito a todos.

Rosilene Marcelino – Professora do curso de Ciências Sociais da ESPM
Doutora em Comunicação e Semiótica (PUC).

[N.E.: Feminismo não é lema-tema de minoria. Elas são mais de 50 da população e do eleitorado. Contudo, como parte da população, como tal representam sim posições ideológicas (e pragmáticas). Tirando o lado ‘assustador’, (alguém lembre-se de defender Dilma Roussef, sem a hipocrisia de quem tramou e apoiou – mesmo por omissão seu impeachment arranjado em 2016 elevou Temer ao poder) , deve-se ter em conta que a luta delas é socialmente importante, construtiva e produtiva, mas que há mulheres na linha de frente assumidamente inertes nas lutas das classes sociais. E que a luta das classes está bem acima dos gêneros, pode e deve ser discutida. Assim, a pergunta é: o Marxismo é machista ou igualitário?]

Compartilhar

Redação

ÆscolaLegal é um esforço coletivo de profissionais interessados em resgatar princípios básicos da Educação e traduzir informações sobre o universo multi e transdisciplinar que a envolve, com foco crescente em Educação 4.0 e além, Tecnologia/Inovação, Sustentabilidade, Ciências e Cultura Sistêmica. Publisher: Volmer Silva do Rêgo - MTb16640-85 SP - ABI 2264/SP