Sustentabilidade no Setor do Turismo
“O turismo sustentável leva em conta sua atualidade, os impactos econômicos sociais e ambientais futuros, atendendo às necessidades dos visitantes, da indústria, do meio ambiente e das comunidades locais. ”
São Paulo, 03/08 de 2021.
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Por que o setor turístico tem investido cada vez mais no ecoturismo?
Por razões pelas quais integram-se o turismo na agenda de desenvolvimento: A) Crescimento Econômico Sustentável – Estimula o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto); aumenta o comércio internacional e impulsiona o Investimento Internacional; impulsiona o Desenvolvimento da Infraestrutura e apoia economias de baixa renda. B) Inclusão Social, Emprego e Redução da Pobreza – Cria empregos de forma eficiente; promove o crescimento inclusivo; fortalece Comunidades Rurais; revitaliza áreas urbanas; melhora o acesso à renda por meio da tecnologia de viagens; benefícios para as mulheres e estimula os artesãos. C) Eficiência de recursos, proteção ambiental e mudança climática – Facilita a Conservação; aumenta a Conscientização sobre as Mudanças Climáticas e impulsiona a economia azul. D) Valores culturais, diversidade e patrimônio – Protege os locais culturais e sustenta a cultura intangível. E) Entendimento mútuo, paz e segurança – Divulga a Filantropia; cultiva a compreensão intercultural e ajuda na recuperação pós-conflito: nesse ponto, o turismo tem servido como uma ferramenta de recuperação pós-conflito para muitas situações de fragilidade e conflito (FCS).
O conceito de turismo sustentável* está em ascensão no setor, com todos nos tornando muito mais conscientes dos impactos ambientais e sociais das escolhas que se faz como consumidores, e isso se reflete nas experiências de viagem que se escolhe. Cada vez mais os viajantes estão abandonando as férias tradicionais oferecidas por grandes organizações multinacionais, em favor de experiências mais autênticas de empresas menores. Essas empresas menores geralmente respeitam mais o ambiente natural, as culturas e as tradições dos destinos que cobrem.
Mas será que o turismo sustentável é um conceito que realmente pode ser implementado, em um sentido completo? O impacto das viagens nas economias em desenvolvimento e nas comunidades vulneráveis é simplesmente grande demais para que o turismo seja verdadeiramente sustentável?
O que é turismo sustentável?
O turismo sustentável trata de garantir benefícios positivos para as comunidades locais e eliminar os efeitos negativos. Simplificando, o conceito é projetado para preservar os serviços e experiências de turismo de hoje, para que possam ser desfrutados por muito tempo no futuro. A sustentabilidade envolve aspectos sociais, econômicos e ambientais, todos intimamente ligados e interdependentes. Por exemplo, comprar apenas de empresas locais durante uma viagem impulsiona a economia local, o que também tem um impacto social positivo nos padrões de vida locais. Por sua vez, isso contribui para uma melhor proteção ambiental na região, preservando os recursos do planeta e garantindo que o mundo natural ainda possa ser usufruído pelas gerações futuras.
O respeito pelo meio ambiente também é uma parte importante da sustentação das culturas e tradições dos povos indígenas quando visitamos suas terras tradicionais. Além disso, apoia a biodiversidade e a sobrevivência de espécies nativas de animais e plantas, protegendo o ambiente natural como um todo e garantindo que o turismo seja uma experiência harmoniosa e construtiva para todos, e não conflitante e destrutiva.
Mas há muitos fatores em jogo na indústria do turismo; o ethos das grandes empresas nem sempre coopera com a ética do turismo sustentável. Por esse motivo, há um debate acirrado dentro da indústria do turismo sobre se as empresas de ecoturismo estão fazendo mais mal do que bem e se, de fato, o turismo verdadeiramente sustentável é realisticamente possível.
Os benefícios econômicos do ecoturismo
Para que viagens verdadeiramente sustentáveis se tornem uma realidade, as principais empresas de viagens precisam estar satisfeitas de que há algo para elas para fazer valer a pena mudar suas práticas atuais. Isso já está começando a ser percebido. A indústria do turismo sustentável está crescendo rapidamente em todo o mundo, à medida que os viajantes se tornam mais conscientes do impacto de suas atividades.
Um levantamento mostra que 73% dos viajantes pretendem agora ficar em resorts e acomodações sustentáveis ao fazer seus planos de viagem para o próximo ano, com 70% dizendo que seria mais provável que reservassem acomodações que fossem ecológicas. Isso se aplica independentemente de eles estarem ou não procurando especificamente por uma experiência de viagem sustentável. Além disso, 45% dos viajantes agora levam em consideração as credenciais de sustentabilidade dos provedores de viagens ao reservar seus destinos. Este número quase dobrou desde 2014 (Organização Mundial do Turismo).
Essas estatísticas mostram como os resorts sustentáveis e as opções de turismo são importantes para os viajantes modernos. O desenvolvimento do turismo sustentável é algo em que todos os provedores de viagens precisarão se concentrar se quiserem continuar a fornecer a seus clientes as experiências de viagem que procuram. As empresas cujos históricos não são impressionantes o suficiente quando se trata de ecoturismo, rapidamente se verão perdendo sua base de clientes, à medida que as questões ambientais e éticas se tornam cada vez mais importantes para o mercado consumidor como um todo.
O aumento nas reservas esperado por empresas de ecoturismo e resorts sustentáveis demonstra claramente os benefícios econômicos dessa mudança. No entanto, esta é apenas uma pequena parte da imagem. Esses benefícios econômicos vão muito além das próprias empresas de viagens. Uma das questões mais importantes para viagens sustentáveis é a entrega direta de benefícios econômicos às comunidades locais.
No passado, o turismo muitas vezes colocou uma pressão financeira e social nas comunidades e culturas indígenas. Seus estilos de vida foram interrompidos por um grande número de turistas invadindo suas terras natais, trazendo suas próprias culturas com eles e não entendendo os modos de vida tradicionais.
Com muita frequência, grandes empresas de viagens multinacionais proporcionaram essas experiências, de modo que trouxeram seus próprios trabalhadores em vez de empregar pessoas locais.
Entretanto, a pandemia pela Covid-19 derruba chegadas de níveis de 1990 com redução de 72% nos primeiros 10 meses do ano de 2020; com restrições de viagens, pouca confiança do consumidor e luta global para conter o vírus, ou seja, o mundo viveu seu pior ano da história do setor. A Organização Mundial do Turismo (OMT) informou que 2020 sofreu uma redução de 900 milhões de turistas internacionais entre janeiro e outubro. Os dados da agência da ONU foram comparados ao desempenho do setor no mesmo período de 2019. A perda de US$ 935 bilhões em receitas de exportação representa mais de 10 vezes o prejuízo registrado em 2009, quando o mundo sofria o impacto da crise econômica.
Mais do que viajar
Em um contexto pós-pandêmico, os destinos questionam o turismo de massa, focando em segmentos mais sustentáveis, em busca de turistas mais responsáveis. Isso requer a obtenção de informações relevantes para avaliar que tipo de turistas visitam o destino e, ao mesmo tempo, monitorar as mudanças no comportamento e nas atitudes dos turistas.
O turismo é capaz de distribuir riquezas e participar substancialmente do desenvolvimento econômico de muitos países. Porém, para garantir esses benefícios, o planejamento, a gestão e o monitoramento de uma oferta sustentável tornam-se fundamentais. Apesar da atenção cada vez mais difundida à sustentabilidade neste setor, no entanto, o conceito de turismo sustentável ainda parece fragmentado e confuso. Os referenciais teóricos usados em muitos estudos muitas vezes reduzem a sustentabilidade aos seus aspectos ambientais ou sociais e consideram esses pilares como questões distintas.
Além disso, embora a maioria dos estudos reconheça que um número potencialmente amplo de interessados desempenha um papel na produção de turismo sustentável, até agora eles se concentraram nas comunidades anfitriãs, nos produtores turísticos ou nos próprios turistas de forma independente. Menos explorações abordaram simultaneamente diferentes partes interessadas, suas percepções da experiência de turismo sustentável e as várias preocupações e tensões que possam surgir.
Nas últimas décadas, o turismo cresceu continuamente e agora representa 10% do emprego global e 10% do produto interno bruto (PIB) global. Com o número de chegadas domésticas e internacionais estimado em 15,6 bilhões e 1,8 bilhões de dólares em 2030, respectivamente, o turismo deve continuar gerando benefícios significativos em termos de desenvolvimento socioeconômico e criação de empregos em todo o mundo (Organização Mundial do Turismo e Fórum Internacional de Transporte, 2019).
Os riscos do turismo são muitos, incluindo a poluição, a deterioração dos destinos e a ausência de um sistema regulatório internacional consolidado (Organização Mundial do Turismo e Fórum Internacional de Transporte, 2019). O turismo representa assim um contexto único para estudar a sustentabilidade e comportamentos sustentáveis, tanto em nível individual como organizacional.
Uma definição comumente reconhecida de ecoturismo afirma que qualquer forma de turismo pode ser definida como sustentável quando os efeitos econômicos, sociais e ambientais atuais e futuros atendem às necessidades dos visitantes, do meio ambiente e das comunidades anfitriãs (Organização Mundial do Turismo e Nações Unidas Programa de Meio Ambiente, 2019).
Nos últimos anos, as políticas e programas de turismo na Itália, por exemplo, têm se concentrado explicitamente na sustentabilidade. Conforme relatado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) -2020 -, a visão é “gerar sustentabilidade em termos econômicos, sociais e culturais, aproveitando o valor da oferta turística mais ampla sustentada por empresas locais”. Um número crescente de turistas e operadores turísticos também parece sensível à sustentabilidade.
Organizações como o Global Sustainable Tourism Council, denominado Travel Forever, além de estabelecer critérios de sustentabilidade para destinos turísticos, também apresentam regras e indicadores de desempenho para hotéis e operadoras de turismo. A preocupação envolve a eliminação da pobreza e a sustentabilidade ambiental para beneficiar: social e economicamente, as comunidades locais; herança cultural; e o meio ambiente, buscando sempre minimizar os impactos negativos (Kanni, 2011*). No campo do turismo, as práticas sustentáveis devem ir além dos conceitos puramente ambientais para considerar também os problemas das populações locais.
Considerando os princípios de relevância global e nacional, entende-se que qualquer ação, realizada por indivíduos e organizações públicas ou privadas, para ser considerada sustentável, deve buscar a conservação dos recursos naturais e culturais, a viabilidade econômica do turismo e a equidade social.
*Referência – Kanni, F. (2011). Desenvolvimento turístico e gestão da sustentabilidade: perspectivas de novos processos de certificação. In: Teles, R.M.S. (Org.). Turismo e Meio ambiente. Capítulo 9, p. 205 – 217, Rio de Janeiro: Elsevier.
Eliane da Silva Fernandes – Doutora em Ciências Ambientais (UEM).
Pós-graduanda em Direito Ambiental pela Universidade Estácio de Sá.
Sistemas de Informação em Biodiversidade (Meta-análise)
Políticas Ambientais, Macroecologia e Avaliação de Impactos Ambientais em rios neotropicais.
