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Cassino – Esperança -Fé – Jogos

No conflito ético que as religiões despejam sobre os humanos, pode-se encontrar na base um tripé estrutural, psicoemocional e mental: Fé, Esperança e Caridade. Militares e Políticos também usam a estrutura. O Ocidente cristão, seja ele romano ou ortodoxo, com o tempo impôs a lógica do poder à frente: um método (meios e ferramentas), em um campo para análises dos objetos e sínteses, cujas finalidades seriam alcançar um ou mais objetivos.  Aí inventaram cenários experimentais: VUCA e Bani. E querem com grandes empresários, reconstruir o mundo a partir disso! Mas, só para eles e seus escolhidos. Para ficar no jogo tem de ter cacife – nenhum ser humano o faz isoladamente, sozinho – É um tanque de tubarões em que também se pratica autocanibalismo. Como os lobos fundadores de impérios.

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São Paulo, 03/06/2022.

Alguns Minutos

Este não é um texto religioso e ainda cabem estudos e críticas-…

Lá pelos séculos XI e XII a Igreja Católica Apostólica Romana do Ocidente (na verdade onde estivesse) vivia um período tenso de sua história, empunhando e lutando contra o domínio da razão (Ética e Política), com a espada e o escudo da Fé (princípios religiosos). Mas, para entender esta dilema crítico, portanto, a raiz da crise, torna-se necessária uma imersão na caldeira de sua formação. Em poucas palavras: império romano, guerreiro, expansionista, rico e dominador. Suas legiões se impunham sobre todos os povos em seu caminho pela espada – a guerra. Com o tempo impunham a sua religião (mas, nem sempre obtinham 100% das vitórias). Reveses são empurrões para frente, É como se deve encarar.

Como suporte dado às práticas desumanas e terríveis da guerra, estabelecia-se a interposição de práticas religiosas e teorias afins (conhecimentos absorvidos historicamente de outros povos já conquistados) e com isso tendiam minimizar as tensões. Um mistura refinada cujo resultado imediato é lógico: divisionismo. Dividir para conquistar era um lema! Mas, quem eram aqueles deuses, os vitoriosos e os derrotados?

O paganismo romano estava fundamentado no grego (povo dominado depois de várias guerras), e historicamente constituído em parte nas crenças das forças da natureza, como os antigos povos africanos subsaarianos, os egípcios, babilônicos, sumérios, hititas, judeus, cananeus etc. Pequenas tribos miseráveis que almejaram tornar-se impérios – o Egito conseguiu, a Babilônia, os persas idem etc,; viviam próximas às florestas ou à beira dos desertos, brigando por pedaços de terra agricultável e água, ou campos de caça. Milenares, seculares, mas não conseguiram suportar as forças e as riquezas romanas. Jamais se uniram, de fato, contra estas, não conseguiram. Mas, souberam negociar algum exercício de poder, geralmente balanceados pelo pagamento de taxas e impostos.

Quando os gregos iam à guerra (também eram expansionistas  e invasores) eles consultavam antes o Oráculo. Uma forma de obterem permissão e entendimento dos avisos que as forças sobrenaturais davam aos guerreiros. O que poderia vir pela frente. Signos e símbolos eram observados, ‘lidos’ e interpretados por pitonisas, sacerdotes e conselheiros como presságios dos resultados possíveis das batalhas. Deuses sempre estiveram à frente das guerras! Atualmente, uma equipe de estrategistas, analistas, especialistas, administradores, estudiosos com domínio de informações, táticas, técnicas e muita capacidade de processamento de dados (IA) – quantidade, velocidade e qualidade apuradas – colocam deuses em outros locais e os deixam ‘fora’ de suas decisões. O Vaticano, na Itália, por exemplo, é hoje um pequeno país com cerca de 600 habitantes e se sustenta encravado entre as colinas romanas há mais de 2 mil anos já. E lá atuam em nome de Deus (ou deuses) . O(s) deles, claro!

Romanos também tornaram-se poderosos guerreiros. De acordo com a história, eram povos lídios fugidos da destruição de Tróia que se estabeleceram no sul da Itália com permissão do rei local. Seus deuses, àquela época, foram inúteis, foram massacrados pelos gregos, mas alguns se salvaram e fugiram. Valeu à pena! Eles voltaram e renasceram nas costas da Itália (então conhecida como Magna Grécia). Pelo menos foi o que escreveu Virgílio em sua Eneida, substituindo, em atenção à solicitação do imperador, aquela história deprimente de 2 irmãos criados por uma loba. É que o antigo sentido interpretativo não combinava mais com a grandeza do império, em franca expansão. Loba vem de lupus (do latim, uma besta carniceira, além da doença!), e um covil de lobas é um lupanar – ter nascido e ser amamentado e criado num lugar assim, por uma de suas frequentadoras, não torna as coisas muito poéticas!  Dignidade à arte, era bom para ser usado em tempos  e locais e guerra etc. Mesmo Rudiyard Kipling, no seu conto sobre a selva indiana e o menino lobo não teria pensado em tal redução ética. Mas, é da natureza humana se aproximar dos cães e tentar dominar-lhe os instintos! Mais simples do que os felinos individualistas (à exceção dos leões)…

Toda a fé carece de recursos para se manter
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Cerco Romano a Corinto – Pintura de Tintoretto. (Img Web)

Os vaticínios proferidos pelos oráculos e pitonisas funcionavam (ou funcionam ainda) como uma questão de fé, que alimentava a coragem e o moral das tropas. Os generais consulentes iam aos templos, pagavam uma taxa e recebiam as orientações.

Tinham de manter a igreja em pé, pois a fé era uma arma notável. Assim, com a proteção dos deuses, exultavam a matilha e excitavam os instintos básicos da soldadesca. “Você tem sede de que, você tem fome de que?”

Os videntes passavam estas orientações aos chefes guerreiros, que, por sua vez as passavam aos seus majores, que as repassavam aos capitães, que as dirigiam aos tenentes, depois aos sargentos, estes aos cabos e só depois de muita conversa e reinterpretações chegavam no soldados (os que iam botar o peito e a cabeça na frente das lanças e das espadas inimigas, e geralmente, pagos com pratos de comida, uma espada, um lugar para dormir e um sestércio, ou no máximo um soldo.) Lá em Roma, ‘do lado’ do Vaticano tem um bairro, um ghetto chamado Salario, deveria ser onde os rasos do exército se reuniam antes, durante ou após as guerras. Os que voltavam, claro. E, parece que se deram bem depois de muito tempo!

Como parte de seus pagamentos ficavam disponíveis também alguns espólios de guerra (butim), ou seja, depois de matar o soldado ou qualquer um que fosse considerado inimigo, eles poderiam pegar/carregar o que encontrassem, incluindo mulheres, crianças, velhos, animais, utensílios domésticos, comida etc., desde que os seus superiores tivessem deixado algo para trás. Tudo poderia ser traduzido em riqueza, assim que os levassem aos mercados. Crianças, mulheres bonitas e produtivas, bem como rapazes saudáveis e boa forma física, os melhor aproveitados! Tinham valores diversos, davam bons escravos e serviam aos diversos propósitos militares. Só precisavam voltar vivos das campanhas.

Esta é a constituição e hierarquia básica de um exército militar. Mas, há outra hierarquia que diferencia os generais, os coronéis, os majores, os tentes e sargentos, e talvez os cabos (acho sargento e cabo duas palavras curiosas!), além das especializações que cada qual escolhe dentro da corporação. Tudo dentro de uma disciplina, teoricamente rígida. Como na Igreja. E a ideia dos heróis – modelos campeões das virtudes, abençoados dos deuses, já caminhava à frente conduzindo os mortais para a sangria. É coisa bem antiga! Aquiles , Hércules (ou Maciste), Sansão (que pode ter gerado a versão judaico-romana de Jesus Cristo), Gilgamesh, Zoroastro, Mohamad, Lao Tsé, Budha, Orum (ou Olurum) personagens com articulações divinas e capacidades sobre-humanas que sustentam e sustentaram por séculos e milênios, estruturas culturais e civilizatórias de tradições fortes e sempre atualizadas  e preservadas.

Cassinos: Esperança - Fé e Jogos.
Voltou vivo, inteiro? Então pode gastar o valor do prêmio, até a próxima batalha. Boa sorte!
Quem queria ser herói?

A grande jogada para se tornar um protagonista era ter origem desconhecida, e portanto, propícia a receber uma versão, uma narrativa convincente de que pudesse ser divina!  A natureza de seus feitos o enviavam a um pai ou mãe deuses que mantiveram relações com uma mortal (o lado “machista” da história e da mitologia sempre propunha, na maior parte das vezes que o(a) filho(a) de deus com uma mulher mortal era personagem do bem, enquanto que o de uma deusa com um homem mortal era do mal. Até que a história da loba teve utilidade. Os deuses estavam sempre prontos para criar um filho capaz de bater nos inimigos e conquistá-los pela força e pelos feitos. O Cristo pode ter sido um dos únicos que quebraram a rigidez desta tendência (assim como Gauthama Budha – o iluminado).

Manter um exército sempre foi muito caro, e os militares sabiam e sabem disso. Logística não é para qualquer um, lembre-se do general e estadista cartaginês Aníbal Barca, que arrepiou os pelos dos romanos. Mas, estas ações só se justificam se houver inimigos, e se eles forem fortes e perigosos. No caso de um ministério da saúde é apenas da mais infeliz mediocridade. 

Ocorre que fazer guerras também é muito dispendioso. E perigoso. Pode arrastar um país à miséria dependendo do resultado. Já sabiam disso, e por essa razão o império romano (ou qualquer outro império que goste de fazer guerras, mesmo utilizando os recursos dos outros) decidiu dar uma chance e aprenderam a aceitar bons negócios. Depois de dar uma surra no “inimigo” começavam  as barganhas – coletas de impostos para a manutenção da a paz e proteção contra outros inimigos, “coisa e tal”. Como as máfias fazem nos rincões abandonados pelo estado.) Assim, tornavam-se meros adversários, e no desenrolar dos acontecimentos e fatos históricos e memoráveis, iam disputar entre si em arenas olímpicas (a Olimpíada de Berlin é memorável), em ginásios e estádios de futebol (o episódio entre a seleção de futebol alemã contra o Dínamo de Kiev, no período durante a segunda guerra, é simbólico), basquete, e outros esportes em geral.

Mais impostos, tempo e concessões, sempre favoráveis ao império dominante, com o tempo evoluíam as relações e tornavam-se “aliados”. A partir daí poderiam transitar entre os territórios dominados e fazer negócios, desde que os dominados continuassem a pagar os impostos e cumprir as regras impostas pelo império. Isso criou a classe rica e dominante local, vassala da classe dominante imperial. O Brasil fez assim no Paraguai sob o tacão de Pedro II, menos para o império português, em si um fracasso histórico e histriônico, intestinamente acometido/corroído pelos interesses espanhóis, e mais para o império britânico de sua majestade Vitória.

Os espanhóis, notáveis invasores do continente americano, principalmente do Sul, (Texas para baixo) tinham um termo para este tipo de gente, essa ‘elite’ local: “creoulos”. Estes creoulos usaram sua riqueza para se dividir dos outros e desta divisão nasceram os pobres e a polícia, que seria uma espécie de braço armado concedido pelo exército supremo do império dominante, para deixar tudo como estava. Os judeus, pastores de ovelhas residentes na Palestina, então representados pelos sacerdotes do Sinédrio – a elite religiosa local – também aderiu/rendeu-se ao poderio do império romano. Impossível resistir, então com ele fez alguns acordos. Não pode com eles, junte-se a eles, diz o adágio!

Bois de piranha a serviço dos reis

A ideia de um herói local, de origem duvidosa, mas cuja narrativa o colocasse como filho do divino, disposto a dar sua vida por uma causa, capaz de amplificar as reclamações das péssimas condições de subordinação em que mantinham seu povo repetiu-se ali, mas com uma condição excepcional e inusitada, audaciosa mesmo para um império guerreiro. “Podemos prosseguir juntos? Sem armas. Sem guerras sanguinolentas.” Pesou a astúcia dos judeus, povo pequeno, dominado, tribo pastoril que resultou do esfacelamento do antigo império grego, mas, segundo relatos, ambos com razoável influência dos egípcios. Ali residiam 2 grandes troncos do conhecimento ancestral. Os romanos aceitaram a proposta e o plano foi posto em prática. Valeu a aposta.

Cassinos: Esperança - Fé e Jogos.
Bem alto e de costas para o interior do território. Ele diz: “podem vir! Estamos aqui!” (Img. Web)

Mais tarde um imperador decidiu parar com a perseguição aos judeus cristãos e aderiu a ideia: “não precisamos mais de guerras por aqui – vamos só cobrar impostos e negociar cabras e camelos! Temos uma rota comercial próspera na região.”

E o império romano está aí até hoje – Roma, na Itália de fato, é a sede administrativa de uma parte do império no Ocidente (uma questão de respeito histórico) e porque daria uma tremenda ‘dor de cabeça’ logística transportar aquelas riquezas milenares todas para outro país – criaram um banco central, abriram filiais e tocam o negócio até hoje. Pareceu bem mais simples. Mas, não foi. A Aristocracia romana nunca foi tão feliz, embora com muitos problemas. Como sempre! Não é fácil fazer inimigos!

Até porque o império já teve a sede na França por pressão de Napoleão Bonaparte, a Espanha também o pretendeu e dominou por um tempo, a Alemanha idem. 2 mil anos de intrigas, política, guerras entre reinos, invasões e quedas.  No Oriente as forças otomanas (tribos turcas e outras) e muçulmanas unidas botaram os templários e romanos e bizantinos cristãos para correr, ali pelos anos de 1450. Os bárbaros, os mongóis…Batalhas e mais batalhas…Constantes, cruéis, e festas sem fim!

Cristãos romanos estavam e ficaram na Europa. O império é ocidental graças ao imperador alemão Carlos Magno e ao papa Leão III. Unidos, o conhecimento e o poder bélico, conseguiram pacificar os reis (Europa era um conglomerado de tribos, com coroas e monarquias simbólicas e politicamente ineficazes até hoje, mas cheias de regalias e riquezas – muitas tem ramificações empresariais, tecnofinanceiras e constituem famílias para manterem seus negócios, com fortes interesses nas sociedades colonizadas durante séculos na África, Ásia e Américas. Leia-se também sua maior colônia ao sul da linha do Equador: – aquele traço imaginário no mapa que separa o Norte do Sul…) – Brasil – em eterna crise financeira e econômica – por que será? Ingleses, portugueses, franceses, espanhóis, alemães, holandeses, italianos, belgas, norte-americanos, e  ultimamente, países do extremo e do Oriente Médio também tem muitas respostas…

Reabrindo as torneiras (*segue em breve…)

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Redação

ÆscolaLegal é um esforço coletivo de profissionais interessados em resgatar princípios básicos da Educação e traduzir informações sobre o universo multi e transdisciplinar que a envolve, com foco crescente em Educação 4.0 e além, Tecnologia/Inovação, Sustentabilidade, Ciências e Cultura Sistêmica. Publisher: Volmer Silva do Rêgo - MTb16640-85 SP - ABI 2264/SP

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