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O dia do Gato

No horóscopo Chinês, vietnamita, ou oriental, animais domésticos e selvagens são colocados como signos de atribuição direcionados aos humanos. Dentre todas as relações possíveis, uma, é de fato, inteligente: a de que os animais estão por aí, entre nós, aparentes ou invisíveis e que devemos entender quais são, efetivamente, os modos e os porquês destas interações com eles. Mas, o gato não aparece.

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São Paulo, 08/08/2022.

Minutos.

Por exemplo, para os nascidos na década de 1960 o signo, que se renova de 12 em doze anos (uma sequência, portanto, dodecábula) são simbolizados pelo rato. O rato carrega pulgas, e estas os microrganismos da peste bubônica que destruiu parte da Europa no medievo. A aparência inofensiva do pequeno animal surge na pantomima astrológica chinesa de forma surpreendente, em uma festa nos céus.

Sua presença no encontro dos animas, que rendeu fábulas memoráveis, demonstra a sua sagacidade, humildade e a enorme capacidade de sobreviver e de se adaptar ao meio, em diversas situações de perigo e desastre. Foi ele que salvou o leão das redes. E o primeiro que saudou os deuses na festa dos céus. Ele foi de carona, nas costas do boi.

No atol de Mururoa, o bicho sobreviveu aos testes atômicos das bombas nucelares. Ele nada, mergulha, escala, pula, se retorce, corre e morde. Ataca se acuado. Mas, também serve de comida (alimentação) para centenas de predadores. Das suas muitas vantagens adaptativas, umas se destacam: reproduzem-se com extrema rapidez, sobrevivem em quase todos os ambientes extremos e ‘conhecem’ as serpentes.

Chega a ser bonitinho, e alguns podem ser mantidos como animaizinhos de estimação, numa gaiola, sob controle. A natureza o trouxe para perto dos seres humanos, como muitos outros animais domesticados por uma simples razão: segurança alimentar. Pra eles, lógico. Na, verdade foram os humanos quem os estragaram (esta afirmação depende do ponto de vista!) Comem qualquer coisa que os humanos produzem, abandonam, armazenem e disponham. Por aproximação vieram também gatos, cães, cobras, lagartos, aves, e animais de grande porte.

O dia do Gato
Inimigos naturais. Uma convivência treinada e forçada! Viva as diferenças. (Img Web)

Alguns se adaptam bem e podem ficar dentro de casa ou no quintal, como as plantas. Podem ser úteis, dependendo da necessidade humana e para tanto foram adaptados, treinados, moldados, manipulados e experimentados.

O dia internacional do Gato não é, portanto, só dele. A data é, inclusive, contraditória. Sabe-se que um gato nunca está sozinho. Ele traz consigo, em função desta proximidade, comida enlatada, sachês de ‘bolinhas’ especialmente preparadas para manter o equilíbrio de sua saúde, com proteínas, carboidratos, sais minerais e sabores dosadas em medidas estudadas e balanceadas em sua composição.

Traz também caminhas especiais, brinquedinhos, poste para arranhar, uma série de produtos comerciáveis e medicamentos que fazem dele um excelente agente –hotspot de merchandinsig – no amplo setor de pets , de profissionais a amadores (uma fatia do mercado bastante ativa e lucrativa). Mas, assim limpinhos e ‘fofinhos’ permanecem no sofá ou no colo apenas enquanto as crises não aparecem.

Churrasquinho e Tamborim

Quem nunca ouviu falar em churrasquinho de gato, coxinha de pombos, codorninha e rãs fritas é porque nunca saiu de casa ou não teve avós. A ‘destruição’ da família pobre de três ou quatro gerações, em convívio num mesmo ambiente, pode mesmo ter sido bem aproveitada pelo sistema que defende seus interesses, estrategicamente de forma ampla, mesmo sem ter noção imediata sobre isto e os resultados. Mas, a necessidade e a ocasião criam oportunidades ideais. Os vegans vão estrebuchar, mas eis como a humanidade caminha e por quem os sinos dobram, a cada curva do grande rio! Não é fácil criar um boi em um apartamento.

O certo é que isso era comum há 80 anos atrás, assim como a escravidão negra no Brasil, as ruas de barro, e postes de madeira sem luz, carência de saneamento básico e tratamento de águas em 40% das cidades, ou, há muito mais tempo, a exploração do homem pelo homem, independentemente de cor, credo, opção sexual etc. Ainda é, principalmente em comunidades carentes e não assistidas pelo estado, em mais de 2000 mil cidades do país, pelo menos. As sociedades industrializadas foram afastando o ser humano da natureza, execrando-os conjuntamente (ela mora perto do mato!), e ao mesmo tempo, resgatando alguns valores importantes para sua manutenção e desenvolvimento.

Exploração desenfreada, incentivada, sem amanhã, o que ficava de fora, por conta dos mecanismos imperfeitos que engendram a ganância, a violência e outros derivativos do mercado e da competitividade a ele implantada, acabaram por gerar soluções ainda mais imperfeitas (numa relação direta, por exemplo: bancos, dinheiro e polícia – homicídios e pontos de vendas de drogas, prostituição etc…) O ponto sem nó na evolução social é um quimera!

Dali, daquelas regiões abandonadas surgiram e surgem as doenças (físicas e sociais) e seus ‘remédios’, a medicina, as noções sanitárias (a palavra vem de saúde – a tradução/adaptação portuguesa para sane – do latim salus), e as tentativas de cura (análises mais amiúde da indústria farmacêutica deixam dúvidas sobre o que é cura e sua importância/necessidade, de fato!) incorporando os cuidados a serem tomados em função do maior ou menor grau de exposição ao core do problema.

Quando o rato chegou muito perto do ser humano, o gato foi resgatado, não mais para ser vir de alimento (o ser humano vem refinando suas preferências desde quando era caçador, coletor, plantador, agricultor e criador de animais de maior porte – mais carne por unidade, daí menos trabalho), ou para morar em um apartamento, desfilar em um concurso da vaidades humanas. O gato foi trazido para dentro do domus e seus novos habitus para combatê-lo. O gato era um símbolo de defesa.

O dia do Gato
No antigo Egito o gato tinha funções sagradas. (img Web)

Desde o Egito antigo enquanto perambulava solto entre as paredes e colunas dos templos caçando ratos, aranhas, escorpiões, escaravelhos, sapos ou pequenas serpentes (estas são seu verdadeiro pesadelo), mesmo que Cleópatra as mantivessem por perto.

Do lado de fora ficavam os cães – outro animal domesticado, testado, manipulado, experimentado e distribuído em diversas raças para satisfazer as necessidades humanas, dentro do padrão formal de adaptações necessárias, e que já foram de caça, segurança, alimentação, vanidades e soberba (tudo a ver com forma e conteúdo: tamanho, instinto, “caráter”, funcionalidade etc.)

Razão e sensibilidade

As relações de proximidade entre estas três espécies de mamíferos: hominídeos, felídeos e murídeos já promoveram inúmeras situações e complexos de subjetividade e práticas diárias. Por ocorrerem há tanto tempo na história, e graças às narrativas adaptadas a elas, é que relacionamos uma moça ou rapaz bonito aos gato(a)s. As razões são diversas. Em oposição as que nos remetem aos ratos e às suas atitudes tendem a nos causar asco. Por que? Um gato que caça um rato doente, um pombo doente, uma pássaro ou um inseto infestados por vírus ou bactérias resistentes, pode não ser bom para se ter em casa.

A transposição destas relações gerou antipatia e ao mesmo tempo simpatia por estes animais. Se preto era amigo das bruxas e poderia significar azar ou reveses. Se branco poderia apresentar sinais de genética deformada: surdes e baixa visão…Na fome, durante um período de crise braba não importava. Nem os cães. Tudo dependendo das circunstâncias. Para todos os outros seres vivos no planeta, o que mais dificulta esta proximidade com os seres humanos é a nossa espiral e especial condição de maior predador do planeta, capaz de organizar racionalmente o que podem, quando e como devemos consumi-los, para os fins que determinarmos. Uma das vantagens evolutivas é essa: previsão e provisão. Estamos errados? Olha o mundo à sua volta… Ainda podemos corrigir estes desvios ou somos o que somos, e fim?

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Redação

ÆscolaLegal é um esforço coletivo de profissionais interessados em resgatar princípios básicos da Educação e traduzir informações sobre o universo multi e transdisciplinar que a envolve, com foco crescente em Educação 4.0 e além, Tecnologia/Inovação, Sustentabilidade, Ciências e Cultura Sistêmica. Publisher: Volmer Silva do Rêgo - MTb16640-85 SP - ABI 2264/SP