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Papel das Escolas na Sociedade

O desenvolvimento de habilidades significativas para a sociedade contemporânea é um dos papéis mais importantes da escola, seja pública ou privada, para alunos se tornarem cidadãos comprometidos com a sociedade onde vivem. 

para Redação

São Paulo, 17/11/2022.

4 Minutos.

Estima-se que 33% da população brasileira tenha entre zero e 19 anos de idade. Se hoje em dia vivemos em meio a um bombardeio digital de informações, que impactam nossa produtividade e foco, e exigem de nós priorização, organização, pensamento crítico e autogerenciamento, imagine como será no futuro próximo, quando essas crianças da geração Alpha (nascidos a partir de 2010) e esses adolescentes da geração Z (nascidos entre 1996 e 2010) chegarem ao mercado de trabalho?

São 69,8 milhões de crianças e adolescentes crescendo em pleno Mundo BANI, conceito criado em 2018 pelo antropólogo futurista Jamais Cascio para sintetizar a dinâmica do mundo atual. A sigla em inglês traz as iniciais das palavras Brittle, Anxious, Nonlinear e Incomprehensible, que em português significam frágil, ansioso, não linear e incompreensível. É uma realidade imprevisível, que coloca a saúde mental no paredão o tempo todo.

A vida atualmente parece um stories do Instagram, que a cada 24 horas muda o que está em destaque, tem a velocidade dos vídeos do Tik Tok e, num piscar de olhos, pode nos transformar em avatares na realidade virtual do Metaverso.

Esse cenário intenso e em constante movimento tem causado uma verdadeira reviravolta na forma de aprender de crianças e adolescentes. As escolas não podem mais se limitar ao conhecimento estático dos livros e aos ensinamentos compartilhados por professores em sala de aula. É necessário incorporar as infinitas possibilidades de interagir com o conhecimento e, ao mesmo tempo, instrumentalizar os jovens para que sejam capazes de
utilizar as tecnologias emergentes com responsabilidade e consciência, utilizando-as para atuar na sociedade de forma significativa.

Papel das Escolas na Sociedade

Além disso, para gerar impactos positivos no mundo contemporâneo, não basta ter contato com um grande volume de informações, é necessário possuir uma série de habilidades bem desenvolvidas, como por exemplo fazer uma boa gestão do tempo, ser capaz de se autorregular e demonstrar resiliência e criatividade diante de situações não previstas. É uma verdadeira desconstrução de paradigmas e mudança de mindset, mas é extremamente necessária.

Com isso, o grande desafio do sistema educacional é oferecer uma rotina escolar dinâmica, utilizando metodologias que promovam o engajamento dos estudantes em situações diversas e permitam aprendizagem contextualizada. Essa atualização é essencial para proporcionar oportunidades reais de aprendizado e desenvolvimento das habilidades, tanto socioemocionais quanto cognitivas, necessárias para lidar com toda essa realidade.

É bom lembrar também que existe um choque de gerações entre gestores escolares/ professores e alunos, o que pode desencadear uma certa resistência em romper padrões de ensino que, em tese, sempre funcionaram. Isso faz com que a decisão sobre quando é importante – ou não – trazer o “mundo lá de fora” para dentro da escola e como fazer isso de uma forma responsável seja complexa.

Papel das Escolas na Sociedade
Microcosmo, a escola é a indústria do cidadão o civilizado. Nela ele se forma humano. (Img. Web)

Porém, não se trata de julgar se dar esse passo é bom ou ruim para o aprendizado. Essa evolução é um caminho sem volta para as instituições de ensino que querem manter o interesse de seus alunos em aprender e garantir que eles estejam preparados para encarar os desafios da atualidade.

Material pode estar no quintal

Na Lumiar, estimulamos que os estudantes definam projetos com temas do interesse deles e que possibilitem tanto a aprendizagem de conteúdos escolares, presentes na BNCC, quanto a prática de habilidades adequadas ao nível de desenvolvimento de cada um. Tivemos no ano passado, por exemplo, o projeto “A cisterna do Infantil 3”, que surgiu do interesse de estudantes de 4 e 5 anos em construir “uma máquina” para salvar a natureza.

A partir disso, junto com os educadores, pesquisaram quais problemas da natureza poderiam ajudar a resolver. Estudaram diversos conceitos de ciências, ecologia e meio ambiente, em especial, de onde vem o fluxo de água urbano e como a água da chuva pode ser reaproveitada.

Com isso, decidiram que iriam construir uma cisterna para coletar a água da chuva e contribuir com a redução do consumo de água tratada. Com o suporte técnico do especialista em manutenção da escola e mediação da professora tutora aprenderam habilidades importantes como: planejar, medir, utilizar ferramentas, manter o foco, gerenciar recursos, pesquisar, expressar ideias e colaborar, além de desenvolverem responsabilidade social e discutirem conceitos de sustentabilidade.

Após finalizarem sua “preciosa máquina”, agendaram uma reunião com a gestão da escola com o objetivo de disponibilizá-la para a utilização de todos. Neste encontro, explicaram que a cisterna seria muito útil para lavar os pátios e regar as plantas, economizando a água que vem da Sabesp.

Não são só os estudantes mais novos que trabalham com projetos na Lumiar. Para nós, a gestão participativa do aprendizado e as práticas de metodologias ativas são importantes para qualquer idade. Os adolescentes do ensino médio da unidade Pinheiros (SP), por exemplo, realizaram um projeto bem interessante de culinária.

Durante a etapa inicial de apurar informações, descobriram um curso on-line gratuito, em inglês, oferecido pela Universidade Harvard, que associava conceitos de física e química com a gastronomia. Com o suporte de um profissional especializado, criaram receitas novas com base em um referencial teórico, trabalhando conteúdos específicos da área de Ciências, conhecimentos em inglês e ainda exercendo a criatividade.

Esse trabalho, com foco no desenvolvimento de habilidades, irá agregar muito valor à jornada desses estudantes quando ingressarem no mundo do trabalho. Estamos falando de aprender a planejar um projeto, realizar boas escolhas, pensar com responsabilidade social, respeitar a opinião dos colegas, reconhecer a importância de ter objetivos claros, fazer a gestão dos recursos, relacionar conhecimentos, ter um olhar multidisciplinar, aprender sobre ética e assim por diante. Essas habilidades farão com que estejam muito mais preparados para, num futuro próximo, atuar na sociedade com autonomia, de forma autoral e consciente.

Tem um estudo recente da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE) – https://read.oecd-ilibrary.org/education/beyond-academic-learning_92a11084-en#page11 ,
uma organização econômica intergovernamental com a participação de 38 países, que faz uma avaliação comparativa internacional de habilidades sociais e emocionais de crianças e adolescentes que mostra que inovar a educação é mais do que necessário.

O levantamento aponta que estudantes de 15 anos apresentam níveis de curiosidade e criatividade menores do que os de 10 anos, sugerindo uma perda da criatividade quando crianças entram na adolescência. Embora os fatores de desenvolvimento de cada país sejam diferentes, o estudo indica que a causa principal é o modelo obsoleto das escolas, que mata a curiosidade e a criatividade à medida que os alunos crescem.

Atividades que ultrapassam os limites físicos da escola, que ampliam o repertório curricular a partir do que acontece diariamente no mundo e que são construídas com a participação também dos estudantes proporcionam oportunidades para que eles desenvolvam competências essenciais para a superação dos desafios hoje presentes em nossa sociedade.

Há quantos anos estamos repensando os modelos de liderança nas empresas e desconstruindo modelos rígidos e autoritários, descobrindo que modelos de gestão mais ágeis e horizontais funcionam melhor para o cenário atual? Quantas vezes ouvimos que as pessoas são contratadas pelas habilidades técnicas (hard skills) e demitidas pelas comportamentais (soft skills)?

Já passou da hora de compreendermos que os tempos são outros e que é necessário oferecermos às nossas crianças e jovens escolas que oportunizem seu desenvolvimento integral, através da aprendizagem significativa, contextualizada, dinâmica e prazerosa.

O caminho para desenvolver as áreas do pensar, pesquisar, criar, sentir, expressar, conectar, observar, mover e agir, sem dúvida, não está nas páginas dos livros analógicos. Está no convívio e na experimentação do conhecimento na prática e na liberdade do pensamento para que cada um desenvolva suas aptidões conforme seus interesses e suas necessidades de aprendizagem. É como se diz no popular: devemos ensinar a pescar, não adianta dar o peixe – até porque temos a certeza de que amanhã o fluxo do rio será outro e os ensinamentos de hoje se tornarão obsoletos.

Graziela Miê Peres Lopes – Diretora Geral Lumiar.

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Redação

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