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4 coisas que (re)aprendi mediando uma mesa de debate.

Spoiler: essa leitura não é técnica.

Júlia Kauane

São Paulo, 21/10 de 2020.

No último dia dos professores eu tive o prazer de atuar como mediadora em uma mesa de debate promovida pela AEscolaLegal.

A mesa contou com as potências: Alessandra Benedito, Gabriela Ferreira e Mariana Moura discutindo sobre educação 4.0 e a representatividade da mulher nesse cenário.

Conversamos sobre a origem da Educação 4.0; sobre a realidade da educação no Brasil hoje (no que confere a educação básica e também ao ensino superior); a comunidade científica e o quanto precisamos valorizar o seu trabalho; políticas públicas para educação, ciência e tecnologia; sobre as responsabilidades do mercado; além de ideias, propostas (e torcida) para que o avanço da indústria 4.0 não intensifique o cenário de desigualdade que já é uma realidade no nosso país.

As mulheres na Mesa de debates – Feminismo e Educação 4.0

O Debate na íntegra você encontra aqui.

Não preciso nem dizer que aprendi muito sobre educação, não é?! Mas, hoje peço licença para as queridas professoras que dividiram essa mesa comigo, para compartilhar o que (re)aprendi através da experiência de mediar esse debate. E como falei lá em cima: essa leitura não é técnica.

1. Um pouco de medo faz bem.

Quem me conhece sabe que eu falo pelos cotovelos. Falo sem parar! Nos encontros entre amigos, nas reuniões corporativas ou nas apresentações escolares: às vezes preciso ligar o cronômetro para não exagerar.

Outra paixão que eu possuo (com a qual o linkedln colabora bastante) é a escrita. Eu me considero uma espécie de aprendiz de escritora. Mesmo engenheira e em um relacionamento sério com os números, sempre gostei de escrever e procuro praticar sempre, buscando me desenvolver um pouco mais a cada texto.

O que você provavelmente não sabe é que eu detesto as câmeras e estou sempre fugindo delas. Mas, aí surgiu o convite para mediar essa mesa de debate. Online, mas ao vivo. E ainda ao lado de mulheres extremamente potentes.

Veio aquele frio na barriga (e era medo). Pensei em declinar. Cheguei a escrever uma mensagem respondendo que não aceitaria, mas apaguei.

Tenho familiares e amigos que não param de me incentivar, então senti que era uma oportunidade interessante de encarar meu medo. Acabei transformando-o em preparo.

Passei a ler, assistir vídeos e trocar ideias com quem entende mais do assunto do que eu. E tenho certeza de que meu desempenho não foi perfeito (mas foi o melhor que eu pude oferecer na minha estreia).

Então, sim: um pouco de medo faz bem.

Não o medo congelante, que nos faz parar e abaixar a cabeça. Aquele medo na medida, que nos impulsiona a estudar e crescer. É o tipo de coisa que a gente domina na infância, e que – às vezes – precisamos (re)aprender na vida adulta.

um pouco de medo faz bem
2. Ser multifuncional é necessário; fazer tudo ao mesmo tempo é prejuízo.

Hoje em dia, dedicarmos 100% da nossa atenção a uma única atividade se tornou uma raridade: É um olho na reunião pelo zoom e outro nos aplicativos de mensagens do smartphone; é um ouvido na ligação pelo celular e outro no jornal que está passando na TV; é um olho na leitura do livro e outro nos posts do linkedln.

Esses exemplos podem não ser totalmente adequados à sua realidade, mas garanto que são semelhantes. Porque, de uma maneira ou outra, todos estamos vivendo com pressa.

No fim, na maior parte das vezes, nos esforçamos para resolver tudo ao mesmo tempo, correndo alto risco de cometer muitos erros, porque não dedicamos 100% da nossa atenção a nenhuma das atividades.

Mas, nessa mesa de debate eu fiz diferente. Na maior parte do processo, eu me dediquei única e exclusivamente a escutar. Desconectei o e-mail do meu desktop, silenciei as notificações do meu celular, tranquei a porta do cômodo em que eu estava – e simplesmente parei para ouvir.

E, me dedicando totalmente a tudo que estava acontecendo naquela mesa, meu desempenho foi melhor e eu pude aprender muito mais.

“Ah, Júlia, mas eu já sabia de tudo isso!” – Tudo bem, eu também sabia.

Só que às vezes nós precisamos reaprender.

Ser multifuncional é necessário; fazer tudo ao mesmo tempo é prejuízo.

3. Não adianta falar se ninguém consegue entender.
Se ninguém consegue entender, não adianta falar.

Parece clichê! Mas, o óbvio também precisa ser dito.

As profissionais com quem eu dividi a mesa são extremamente potentes.

As graduações, os mestrados, os doutorados e toda a experiência acumulada ao longo da carreira, as qualificam como referências técnicas em suas respectivas áreas.

Então, acredito não ser inadequado afirmar que elas poderiam passar os (quase) 90 minutos do nosso bate papo gastando o português extremamente técnico que elas dominam. Não foi isso que aconteceu.

Vou abrir a porta de casa para ilustrar o que estou dizendo.

Estou passando essa (extensa) ‘quarentena’ na casa dos meus pais. Eles têm acompanhado minha jornada de estudos e, inclusive, meu preparo para mediar essa mesa.

Antes do início do debate, encaminhei o link da live para a minha mãe. Não era meu desejo que eles se sentissem obrigados a acompanhar, mas queria deixar as portas abertas caso assim quisessem. E eles escolheram assistir.

Quando acabou, bateram aqui na minha porta – com toda a simplicidade do mundo – para me parabenizar por meu desempenho e elogiar a participação das professoras:

“Nossa, a Alessandra é tão elegante, né?! Pensei que não entenderia nada, mas o jeito que ela fala é muito fácil de entender.” – refletiu Dona Cida (minha mãe).

Isso é extremamente significativo.

As perguntas foram respondidas e as mensagens foram passadas de modo que – quem não é da área (como eu e como a minha mãe) – também pudesse compreender perfeitamente. Então, eu insisto: Se ninguém consegue entender, não adianta falar.

4. A prática da generosidade é ainda mais bonita do que seu significado no dicionário.

Já na reta final do debate (durante as considerações finais) a querida Gabriela agradeceu pelo convite e também a todos que trabalharam para que o evento pudesse acontecer. Além disso, agradeceu às três mulheres com quem compartilhou a mesa e por toda a gentileza e generosidade que se viu por ali:

“É preciso ser generoso! A generosidade tá aí na base do conhecimento, seja ele qual for.” – enfatizou Gabriela.

Essa mensagem não saiu de mim até agora. Oxford Languages (via Google) define generosidade como: virtude daquele que se dispõe a sacrificar os próprios interesses em benefício de outrem.

A definição é bem bonita, mas repito: Praticar generosidade é mais bonito do que seu significado no dicionário.

Para que uma voz potente pudesse ecoar naquela mesa, outra voz potente se silenciou.

Simples. Mas nem sempre acontece.

Quantas vezes você interrompeu seu colega para contar o que você julgava ser mais importante? Quantas pessoas você colocou em cópia naquele e-mail que só interessava a uma? Quantas vezes você se esforçou para destacar “que entende bem mais” de determinado assunto do que o outro?

Ninguém está vendo, então pode assumir essa responsabilidade. Eu também o fiz, e (re)aprendi, que: Escolher permanecer em silêncio também é um ato de generosidade.

Júlia Kauane – Engenheira civil, gestora de qualidade, pós-graduanda em gestão de projetos e se considera uma aprendiz de escritora.
Postado originalmente no Linkedln.

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Redação

ÆscolaLegal é um esforço coletivo de profissionais interessados em resgatar princípios básicos da Educação e traduzir informações sobre o universo multi e transdisciplinar que a envolve, com foco crescente em Educação 4.0 e além, Tecnologia/Inovação, Sustentabilidade, Ciências e Cultura Sistêmica. Publisher: Volmer Silva do Rêgo - MTb16640-85 SP - ABI 2264/SP