Cidades Inteligentes – Agentes II
Miséria e pobreza não são sinais de inteligência, mas podem revelar as estratégias de dominação e poder exercidas de cima para baixo, a fim de manter um modelo de economia diversionista, ideológico, baseado em castas, oportunidades e ficção.
São Paulo, 01/01/2023
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Cidades inteligentes para todos! Numa sociedade democrática, as disputas pelo poder se dão entre 2, e apenas duas, vertentes ideológicas: os que têm recursos, sejam de ordem econômica e financeira (base), material e humanas, afeitos às diversas atividades humanas, de um lado e pelo outro os que não têm estes recursos, sejam chamados de pobres, miseráveis, despossuídos, carentes, desassistidos etc… Depois que a comunicação de massas virou um grande negócio, eles se tornaram experts em criar este colar de nomenclaturas, flexível e adaptável aos tempos.
Estas duas forças, contudo, lutam pelo poder político e econômico. A plutocracia (ricos) se vale de vários apoiadores e se concentra no modo conservador de direita, e passeia com desenvoltura na classe media, media e alta e acima. Empresários, líderes militares e religiosos, especuladores financeiros, proprietários de terras (todas são devolutas, mas eles negam isso. Afirmar ter feito benfeitorias não os torna donos – a terra é de todos, portanto, de ninguém.)
Isso não quer dizer que do outro lado não existam os que se tornaram ricos. É a contradição do sistema: forças de esquerda também podem ter riquezas. A diferença começa talvez no modo como estas foram adquiridas. Os liberais, seguiram o exemplo, de certo modo forçado e inspirado em John Locke, na defesa daquilo que constroem e o fruto dos esforços realizados para tal, que sejam dele, intransferíveis, mas passados de pai para filho – direito de herança. Isso entra em choque com JJ. Rousseau que condenou o ato de cercar de um pedaço de terra com tudo o que houvesse naquele espaço como propriedade privada. Nas origens de vikings e celtas.
Esta discussão, na base moderna da filosofia política ganhou contornos acadêmicos e científicos e parece estar no cerne das lutas e desavenças, desde os primórdios descritos da humanidade. Na Bíblia os povos viviam se matando em guerras por terra, e cada um punha um deus na frente de sua espada e arrancava o sague do “inimigo”, naturalmente.
Carne, capim e ouro
Em outros tratados religiosos do planeta também se vêm estes (des)encontros sangrentos. Gregos, persas, hindus, mongóis e chineses, xavantes e tupinambás… A capacidade de negociar vem com a política. Um pilar civilizatório para a sobrevivência de todos. Difere do direito do poder natural romano. Mas, mesmo estes também evoluíram!
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Não exatamente pela terra, pelo espaço, mas pelo que se podia tirar dela, seja na caça, na plantação, nos recursos disponíveis sobre e sob o solo. Invariavelmente, dizem que tais fatores determinam a qualidade cultural ou o caldo civilizatória de um determinado povo.
A Geopolítica se baseia nisso, segundo alguns estudiosos alemães.
Porém, está mais do que claro que esta simplificação determinista desconsidera os aspectos dialéticos surgidos e amplificados pela ação dos seres vivos sobre o espaço geográfico ocupado, especificamente dos humanos.
Cultivar e revirar o solo atrás de subsistência e riqueza é coisa antiga.
É sempre bom relembrar os pastores e criadores de rebanhos animais domesticados e suas relações profícuas com os domadores de vegetais e plantadores agrícolas.
As necessidades aprimoraram as técnicas de tirar da terra e dos animais o sustento humano. As religiões simplificaram isso ainda mais, principalmente àquelas que separam o humano do resto da vida do planeta. Reforçando a ideia de que viemos/descendemos de deuses etc, e por isso somos especiais e diferentes uns dos outros, o projeto de avançar sobre os recursos naturais, pulando muros ou criando cercas, ganhou força.
Gerou territórios, países, estados, nações, cidades, burgos, exércitos, excedente populacional, bandeiras e moedas, as economias (esta vista como modo de pensar o que se tem e como tirar o melhor proveito disto, cuidando, dividindo, multiplicando, negociando, acumulando), desenvolveu-se a política, a ciência, as organizações, instituições, tecnologias. Mais batatas e mais espadas.
O novo limite.
![Cidades Inteligentes - Agentes II](https://aescolalegal.com.br/wp-content/uploads/2023/01/pobreza-planejada.jpg)
Passou o tempo e chegamos ao limite. As divisões se acentuaram. As riquezas materiais acumuladas deram origens aos bens virtuais. Hoje, temos o passado sanguinolento das guerras por terra e recursos como modelo indesejável. Mas, só na virtualidade.
As cidades inteligentes jamais abrirão mão de seus sistemas de segurança. Ainda carecemos do básico como espécie ligada à natureza, por mais que tenhamos a capacidade de transformação.
Do básico aos seres mais criativos, todos carecem de alimento, água, moradia, vestuário, educação, lazer…
O que é gerado pela energia gera energia. Cada uma destas singularidades existenciais evoluiu, ganhou conteúdo e contornos, superdiversificação porque sempre existiu a capacidade planetária de sustentar a vida. E hoje?
O problema todo aparentemente resume-se na equação capacidade de recuperação versus a velocidade de consumo. Voracidade é aquele lugar comum do descontrole. Consumo desenfreado e na outra margem a impossibilidade de reposição, porque o básico, o necessário e o suficiente perderam lugar para o supérfluo. E tome logística, ‘suplay chain’, ecologia, agronegócio, sustentabilidade, lixo rico, reciclagem e uma análise profunda sobre o desperdício alimentar, de recursos naturais não renováveis.
A riqueza gerou a miséria. Esta cobra respostas, soluções imediatas. Tudo o que temos até agora são propostas. O futuro está aqui.