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Folclore: Pessoas e Natureza

Europeus, africanos das duas costas oceânicas, povos do Norte, do Oriente Médio, e depois asiáticos mais ao Oriente vieram povoar o novo Mundo. Trouxeram histórias, mitos, dramas, doenças, suas guerras e mesquinharias, mas também festas e alegrias, porque aqui era o Novo Mundo. Hora de entender e rever os diversos erros cometidos e não repeti-los, para deixar o espírito do novo sobreviver, e aprender com o antigo saber dos povos originários.

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São Paulo, 17/08/2022

Minutos.

O termo folclore deriva, grosso modo de folk: pessoas e lore: costumes. Na língua espanhola llore quer dizer choro. (Lamento?) Ainda brincando com a nossa língua – retirando uma letra ficamos com core: coração. …) De fato, folclore são histórias, contos, narrativas de fatos que relacionam as pessoas de uma determinada região (continente, país) com ocorrências/situações humanas e naturais, na maior parte das vezes.

Grande número das histórias folclóricas carregam um fundo moral (como as fábulas). Ditam uma norma que não deveria ser quebrada, mas que ao sê-lo acabam causando um enorme problema para os protagonistas e próximos, envolvidos em tramas e situações complicadas. O normal é que no fundo tudo acabe bem, mas deixe um ensinamento para que não se esqueçam facilmente, por séculos.

Folclore são basicamente histórias comuns em todos os países, e começaram a ser narradas, inicialmente sem registro escrito. Como todas as histórias – tradição oral. Algumas passaram pela música (em forma de poesia ou narrativa cantada, como Mozart, Beethoven, observadores animados pelos folguedos populares) e acabaram transpostas de um país a outro, de uma cultura a outra, sofrendo pequenas adaptações locais a partir das trocas e inversões/invasões culturais, popularescas e elitizadas, comuns aos movimentos civilizacionais e sua tradição.

Pequenas companhias de teatro (mambembes, saltimbancos), carregavam-nas e as distribuíam em festas, nos encontros, nas rodas de bate-papo e conversas, em casa, bares, estalagens, nas praças etc… Via de regra, o folclore tem algum fundamento histórico, como por exemplo, o dia das bruxas – ‘raloín‘ para nós halloween, de origem saxônica (ou pelo menos, brancas-cristãs-europeias, em que se invocam santos e mortos).

Estes se impuseram mais firmemente pela via da indústria cultural moderna (fins do Sec. XIX em diante, no rastro das tecnologias intrusivas), outras chegaram com as levas históricas humanas e seus encontros, movidas por razões distintas.

O ciclo gigantesco que gira o mundo

Conhecemos os irmãos Grimm, Goethe, as Mil e uma noites, Jorge Luiz Borges, Guimarães Rosa, Luiz da Câmara Cascudo, Ariano Suassuna, Mario de Andrade
dentre outros, antigos e modernos rastreadores, cultores de origens e temas populares recorrentes. Muito do folclore tem origem nas lendas (que se remoldam na medida em que o tempo avança), nos mitos e em invencionices.

Folclore: Pessoas e Natureza
Origens diversas, histórias e lições que nascem e estão com o povo. (Img. Web)

Destas, várias têm a intenção de divertir, de entreter, dando vazão ao gênio artístico-criativo humano, descontrair a plateia envolvendo a todos em fantasias alegres e dinâmicas.

Peças folclóricas podem ser só faladas, narradas por uma única pessoa, ou por um grupo, ocasiões em que o acompanhamento musical, as danças, comidas, vestimentas e uma parafernália dos recursos disponíveis são utilizados para dar cor, vida e gerar a participação coletiva. Este é o espírito do folclore – o popular – o povo.

Nisso se aproxima muito do teatro, pelo lado comédia, talvez, o mais popular dos dramas poéticos, mas as temáticas são tão ou mais importantes do que arroga para si o teatro intelectual, acadêmico e profissional moderno.

Aliás, ao se aproximar daquela simplicidade, cuja complexidade reside exatamente em abrir mão de recursos, o teatro moderno torna-se apenas um adereço desta arte popular.

No Brasil é comum tê-las nas festas populares não urbanas (que já descaracterizaram sua efetividade catártica) e podemos participar e citar algumas com forte poder de atração, dado o seu caráter religioso como São João, Santo Antônio, São Pedro, originalmente ligadas às festas pagãs de louvor à agricultura, à fertilidade e ao convívio mais próximo com a natureza que o império romano do Ocidente manteve entre seus tesouros.

A relação delas com os calendários, para a medição do tempo e sua ocorrência é o registro fiel da importância dada a sobrevivência humana. Árabes e semitas antigos traduziam estes conhecimentos escritos nos seus Almanaques – o melhor tempo para plantar, para colher, para preparar a terra, a escolha de sementes e seu lanço, de acordo com os movimentos a lua.

Ensinavam também sobre os animais usados e seu tratamento adequado, aqueles a serem evitados, armazenamento e outras técnicas refinadas até hoje utilizadas com novos equipamentos, e em seguida as preces e orações, os cantos e os festejos comemorativos em agradecimento pela riqueza alcançada (não pelos lucros, mas à capacidade de alimentar-se, e à tribo que participou dos esforços, coletivamente).

Não eram apenas atos relacionados a agricultura e ao pastoreio animal, marco estabilizador e afirmativo da civilização emergente do Nilo Fértil, mas também encontrados nos relatos persas anteriores – Gilgamesh – nas narrativas bíblicas judaicas, até na mitologia grega (e depois romana).

Um canto-festa para o futuro melhor do que uma missa ou culto (comparam-se?)

Outro exemplo brasileiro é o Saci Pererê – produto do cruzamento do branco invasor europeu com o negro africano e trazido para a colônia como escravo pelos portugueses. Negrinho do pastoreio é outra adaptação folclórica deste (des)encontro entre pretos e brancos, em circunstâncias históricas críticas e desfavoráveis para ambos, mas com evidente desvantagem para os menos favorecidos pelas tecnologias do ferro, da pólvora e do uso dos recursos disponíveis e oferecidos pelas necessidades.

Mula sem cabeça, Boi Tatá, Curupira, Boto cor de rosa, Cobra grande, e outros contos folclóricos que ainda não alcançaram o sucesso midiático (graças às lutas e disputas raciais e de classes em um país binário) não chegaram a ter os espaços garantidos e propostos pelas ocasiões e festividades.

Não tem data, calendário, não são festejados pelo mercado e por se relacionarem às tradições mais ‘orgânicas’ e antigas do país – populações indígenas inteiras já foram varridas da terra – e, por conta da violência contra elas aplicada, atualmente seus remanescente preferem se manter isolados, com o mínimo de contato com os invasores colonialistas brancos detentores do progresso e do desenvolvimento.

São, apesar de tudo, garantidores de conhecimento ancestral e de receitas milenares da vida, obtidas em contato direto com a natureza. Se deixados como estão e, se todos os brancos, negros, amarelos e não autóctones fossem embora do Brasil, sumissem num relance, como numa lenda folclórica futura contada em torno de uma fogueira noturna, possivelmente recomporiam o habitat quase totalmente devastado pela atividade econômica de predação e do uso indiscriminado dos recursos.

Por exemplo: uma sugestão simples : – “aumentem o tamanho e perseverem as matas ciliares – nelas existem nascentes e olhos d’água responsáveis pela manutenção da vida! Quem pode ser os seus guardiões? Indígenas…!” Talvez venha ser outra peça folclórica futura, no corolário da decantada inteligência superior dos adoradores das guerras e de seus artefatos nucleares de aço. Quero dizer, isso se sobrevivessem às doenças já plantadas no solo e nas almas.

Em resumo – Folclore pode ser a história de um povo capaz de se adaptar a outros povos, e assim assumir características próprias, o que as torna transcendentais.

Vídeo: https://youtu.be/3zwDg1SPecY

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Redação

ÆscolaLegal é um esforço coletivo de profissionais interessados em resgatar princípios básicos da Educação e traduzir informações sobre o universo multi e transdisciplinar que a envolve, com foco crescente em Educação 4.0 e além, Tecnologia/Inovação, Sustentabilidade, Ciências e Cultura Sistêmica. Publisher: Volmer Silva do Rêgo - MTb16640-85 SP - ABI 2264/SP