Sustentabilidade

Reflexões sobre a humanidade

No que você mais despreza pode estar a sua salvação?! Pensar ofende? Então eu escrevo.

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São Paulo, 29/07 de 2020

2 Minutos

Numa leitura rápida, despretensiosa, um homem médio, de cerca de 80 Kg deve defecar em média 300 gramas diárias, se houver regularidade do seu trato intestinal, e alimentar-se normalmente.  

Considerando, então, que o faça todos os dias, em um ano teremos 127.750 Kg de fezes, se minha calculadora não falhou. Em dez anos teremos 1.277.500 kg, ou uma tonelada e meia de merda (acha este nome feio?)

Um cálculo também rápido nos leva analogamente a uma caixa de água de mil litros cheia até a borda com sobras. Um desperdício desagradável. 

Em dez anos teremos um silo de dez metros cúbicos. É bastante coisa se soubermos que apenas um homem produz tamanha quantidade de dejetos orgânicos.

Ao multiplicarmos isso pelos 500 mil habitantes de uma cidade média, pequena capital de um estado qualquer do interior do país, teremos então um google de 6.387.500.000.000 quilos de cocô.

Elevando nosso raciocínio a um patamar mais digno, numa hierarquia das naturais teratologias morfológicas da humanidade, à qual poderemos dar o nome abrangente e substancioso de sustentabilidade podemos imaginar uma dada situação paradigmática: destes 500 mil habitantes, consideremos 400 mil como sendo normais em condições específicas, necessárias e suficientes de saúde, ou seja, não são portadores de doenças ou degenerações graves, infecciosas, transmissíveis etc.

Sim, sabemos, não existe, mas têm uma alimentação razoavelmente saudável e equilibrada, vida ativa, produtiva economicamente ( o que conta em sociedade sistemática de economia aberta, livre mercado, neoliberal etc, ou controlada pelo estado, socializada) e fazem parte assim, conceitualmente, da população interessante da cidade, a que alimenta os gráficos de desenvolvimento, crescimento e suas curvas… Isso deveria nos levar a reflexões sobre a humanidade.

E nem só de orgânicos vive nosso lixo – de fato, tudo o que o ser humano transforma e produz vira lixo com o tempo.

Menino aproveita peças descartáveis para criar...
Reciclar é base da sustentabilidade. Deve ser ensinada desde a infância.

Consideremos ainda, deste contingente que 60% está na fase adulta. Tudo o que excretam (defecam, cagam), escorre e é captado pelos sistemas ordinários de drenagem de resíduos residenciais, comerciais e industriais (e, claro do pessoal da cadeia quaternária da ‘produção’ econômica: além dos prestadores de serviços), vai parar em rios, córregos, aterros etc, mas e se forem armazenados, acondicionados num enorme silo central da cidade e, à esta merda (fezes, cocô, bosta) toda, se acrescentarem alguns elementos químicos já consagrados pela indústria e saberes humanos acadêmicos, científicos…?

Além de terra, serragem de madeira, cascas de cereais e de plantas, cascas de ovo, húmus de minhoca, várias sobras vegetais recolhidos nos finais de feiras, supermercados, centros de distribuição e coleta alimentar vegetal (um espetáculo dantesco da indústria do desperdício, da (falta de) boa vontade, quem sabe, e também da falta de planejamento) para se decomporem juntos de muitas minhocas, que ao fim e ao cabo terminam por acrescentar um fundo proteico animal à mistura etc, em forma de pó, líquido, granulado, barras… Veganos me desculpem, mas vida é uma interligação ‘endoexointracêntrica‘ de fatores indissociáveis…

Ou seja, produzir-se-ia uma compostagem bastante curiosa, fértil e, portanto, útil na adubagem de plantações destinadas à alimentação humana, mas não só. Os jardins e parques ficariam felizes! De fato, a melhor das compostagens, o melhor adubo, sem falar da possibilidade de uso nesta composição do esterco e decompostos de outros e comuns animais de pequeno porte, como porcos, galinhas e outras aves já cultiváveis, além de gado bovino, caprino, e… equinos?  Etc….

Numa sociedade organizada e inteligente este seria, de fato, um paradigma a se fixar na estrutura sociocultural que orienta seus habitantes, a partir da Educação básica.

A arquitetura das casas, e mesmo a das cidades seriam reformuladas, reprojetadas e pensadas para concentrarem este tesouro num lugar próprio e seguro, tratável, distribuível de acordo com as necessidades e aplicabilidades recorrentes, e uma ou várias novas categorias profissionais surgiriam – “merdólogos, fezeologistas, bostaleiros”, profissionais especialistas equipados adequadamente para realizarem seu trabalho na coleta, nos laboratórios de análise, separadores, identificadores, fornecedores, tratadores, distribuidores,  limpadores etc, em suma, muito se aproveitaria das cadeias produtivas já existentes, apenas adaptando-se os novos produtos aos canais sistematizados e funcionais já criados, e outros se formariam.

Os gases (butano, metano) derivados e emitidos desta comp(b)ostagem serviriam muito bem como subprodutos energéticos – luz e calor poderiam ser gerados por usinas adaptadas para este fim. Não haveria restos, sobras, mas, surgiria porém, um círculo virtuoso a ser formado e em que tudo se realinha, reaproveita, regenera, recomeça, recicla e se refaz.

É economicamente viável, seguro e revolucionaria o próprio conceito de vida (tão distante e perdido em propagandas e projetos de assepsias artificiais e ilusórias que não fazem o menor sentido.) 

Talvez seja esta a maior missão da sustentabilidade, seu sentido circular aplicado ao ciclo da vida, de forma organicamente adequada, estudada, cientificamente apropriada aos novos tempos e condições para quem no planeta coexista.

As grandes concentrações humanas em espaços cada vez mais disputáveis, a geração de uma superpopulação, normalmente em torno de fontes produtoras de águas ainda potáveis, que carecem urgentemente de serem tratadas, respeitadas e colocadas para todas as formas de vida que dela precisem, acabam por trazer este problemas à tona.

Lixo e luxo eterno ciclo
Todo o lixo produzido pelas sociedades “organizadas” tem um destino… Uma perigosa riqueza que não se pode desprezar.

E todas as soluções para isso devem ser tomadas com muito cuidado – água e alimento! Talvez tenhamos de voltar a esta base, muito em breve, como força de pandemia! Conditio sine qua non!

Claro está, se quisermos manter a vida e a existência humana de acordo com o que o planeta nos oferece para sustentá-las, harmoniosamente. Antes que seja tarde. A resposta imediata é: Sustentabilidade.

Volmer S do Rêgo – Publisher da revista AEscolaLegal

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Redação

ÆscolaLegal é um esforço coletivo de profissionais interessados em resgatar princípios básicos da Educação e traduzir informações sobre o universo multi e transdisciplinar que a envolve, com foco crescente em Educação 4.0 e além, Tecnologia/Inovação, Sustentabilidade, Ciências e Cultura Sistêmica. Publisher: Volmer Silva do Rêgo - MTb16640-85 SP - ABI 2264/SP