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Jovens de Periferia – Trabalho e Futuro

E Educação!… Se por um lado as empresas buscam, cada vez mais, profissionais com conhecimentos em Tecnologia – e as vagas operacionais de Técnicos e Júniores estão concentradas em médias e grandes empresas, com remuneração mensal média que vai de um salário-mínimo até R$ 3.500,00 – por outro lado, o maior grupo de desempregados no Brasil é formado por jovens…

Redação

São Paulo, 04/04/2022.

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Para alcançar essas vagas, milhares de oportunidades de qualificação, com cursos gratuitos são anunciadas diariamente na Internet, inclusive com iniciativas patrocinados por empresas de Tecnologia. Se há vagas e oportunidades de qualificação para esse público, por que então que esta conta não fecha? Seriam os jovens desinteressados? Por que eles não estão ativos na internet, nos cursos, estudando, aprendendo?

A falta de qualificação é o motivo número 1 que depõe contra o ingresso de jovens nas primeiras experiências de trabalho. Na pandemia, a oferta de cursos online (até gratuitos) aumentou consideravelmente. Porém, para os jovens das classes D e E é quase impossível acompanhar esse mundo digital.

A realidade deles não está conectada no Wi-Fi, não tem celular de última geração para acompanhar as aulas (a maioria nem tem celular ou outros dispositivos) e, principalmente, boa parte desses cursos é focada em pessoas mais letradas no tema. Por contar com apenas um aparelho celular para toda a família, muitos pais tiveram que escolher qual filho ia estudar no sistema online durante a pandemia. Daí, quanto mais digital o ensino, mais excluímos esses jovens sem acesso às tecnologias. Essa é a realidade da maior faixa da população do país.

Portanto, é melhor abdicar do velho discurso da juventude desinteressada. Os jovens estão cada vez mais pressionados pelas exigências das empresas, restando a eles pouco tempo e nenhum recurso financeiro para incrementar sua educação.

No Brasil, 58% da população brasileira está na classe D (até 4 salários-mínimos de renda familiar mensal) e classe E (até 2 salários-mínimos). Está cada vez mais evidente que as políticas públicas e os investimentos das empresas em projetos de formação devem estar focadas nos jovens da periferia. Capacitar os jovens periféricos em Tecnologia, por exemplo, certamente é um grande passo social para a redução da falta da mão de obra neste mercado, e o principal parceiro das empresas que tem mais velocidade de transformação social, menor burocracia e chances reais de menor custo é justamente o Terceiro Setor.

O projeto atual da Educação Brasil não é para os pobres

O jovem de periferia, em geral, se forma no ensino médio e precisa primeiramente de um emprego para poder entrar na faculdade – e ela costuma ser paga. Prova disso é que 74% dos jovens no Brasil cursam a graduação no ensino particular. Na contramão dessa realidade, as empresas exigem primeiro a formação no ensino superior para depois dar a oportunidade de trabalho. Esse descompasso é o que mais prejudica o ingresso do jovem no mercado de trabalho.

De acordo com os cálculos da comissão para modernização da Lei da Aprendizagem, o Brasil tem um potencial de contratação de jovens aprendizes de 1,1milhão, porém apenas 400 mil estão empregados. Soma-se a esse cenário, o levantamento do Semesp (instituto que representa as mantenedoras do ensino superior no Brasil), que apontou o dado alarmante de cerca de 3,5 milhões de alunos que se evadiram de universidades privadas em 2021, uma taxa de 36,6% de evasão.

O estudo revela ainda que apenas 18% dos jovens de 18 a 24 anos no país estão no ensino superior e que a meta do Plano Nacional de Educação é aumentar esse índice para 33% até 2024. Ainda segundo o Semesp para um país desenvolvido, é necessário que cerca de 2/3 da população tenha escolaridade superior, pois só assim é possível ganhar em eficiência, em competitividade, em desenvolvimento de indústrias de ponta.

Os estudantes mais afetados são aqueles com maior vulnerabilidade social, e que com a pandemia, acabaram perdendo seus empregos e rendas advindas do trabalho informal, que exige menos qualificação, mas que remunera mal.

A inclusão não se baseia apenas na contratação. É mais que dar um emprego. É preciso entender que o jovem que mora na comunidade nem sempre tem infraestrutura física e familiar para fazer o home office. É preciso ter um espaço na empresa para que eles possam se sentir acolhidos e para que aprendam com colegas mais experientes. Compreender a realidade que os cercam que é exatamente aquela que evitamos conhecer de perto. Tem a ver com fome, com a falta de recursos, com a violência e a falta de perspectivas.

É preciso dar oportunidades reais, estar disposto a ensinar, incluir e pagar bem para esse jovem. Isso tudo começa pela sensibilização dos líderes. Antes mesmo de buscar um meio de capacitar seus recrutados jovens é fundamental que conheçam as dificuldades de acesso e de oportunidades que eles enfrentam para merecer estar empregado.

Enquanto as empresas buscarem os melhores alunos formados nas melhores universidades, o que vamos assistir é a continuidade do movimento conhecido em RH como “rouba monte” — constantes assédios a colaboradores por outras empresas. Inclusive, é na base da pirâmide dos técnicos e júniores que as empresas registram as maiores taxas de turnover nos primeiros 24 meses de trabalho.

A “humanização das lideranças” é essencial para que as empresas possam entender a situação social em que o Brasil se encontra e, principalmente, que é na classe D e E que está a massa bruta a ser trabalhada para estas vagas que não param de crescer. O 3º Setor, é um parceiro que reúne as principais qualidades para apoiar as empresas e as escolas a fazer este “match”, afirma Kelly Lopes.

Kelly Lopes é empreendedora social e superintendente do Instituto da Oportunidade Social – IOS.
Vice-presidente voluntária do Projetos Amigos das Crianças – PAC. 

IOS  – Comprometido com a empregabilidade de jovens e pessoas com deficiência que tenham menor acesso às oportunidades do mercado de trabalho, desde 1998 o IOS desenvolve projetos de formação profissional gratuita em temas variados. Mais: clique aqui 

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Redação

ÆscolaLegal é um esforço coletivo de profissionais interessados em resgatar princípios básicos da Educação e traduzir informações sobre o universo multi e transdisciplinar que a envolve, com foco crescente em Educação 4.0 e além, Tecnologia/Inovação, Sustentabilidade, Ciências e Cultura Sistêmica. Publisher: Volmer Silva do Rêgo - MTb16640-85 SP - ABI 2264/SP