Sustentabilidade

Meliponicultura – Uma Doce Atividade

A meliponicultura é a atividade de criação de Meliponíneos, popularmente conhecidas como abelhas sem ferrão. Educação e Ciência para a Sustentabilidade reforçam a Economia.

Gleycon Silva

São Paulo, 04/11 de 2020.

3 Minutos

Melipona são abelhas grandes, podendo atingir até um centímetro e meio de comprimento. As abelhas deste gênero costumam fazer a entrada de seus ninhos usando barro e própolis.

As mais conhecidas entre elas são a jupará, a uruçu, a jandaíra e a mel-de-pau. Já as Trigona são abelhas pequenas como abelhas irapuá, lambe-olhos, enrola-cabelo, mosquito e canudo. Estas abelhas costumam fazer a entrada de seus ninhos em formato de tubo e são construídos com cera.

Na meliponicultura, as colmeias são organizadas em meliponários, cultura praticada há muito tempo pelos povos nativos da América Latina. Os primeiros registros históricos da criação de Meliponíneos são dos antigos Maias, na península do Yucatan – México, que criavam a Melipona beecheii, conhecida por eles como Xunan-kab (senhorita real).

Para os Maias as abelhas eram a ponte entre o mundo físico com o espiritual, a qual os ligavam com o deus Ah Muzen Cab.

Espécies, sabores e utilidade por toda America Latina e Brasil

Elas foram de grande relevância para esse povo nos seus rituais religiosos, assim como uma forma de movimentar a economia local. O mel era amplamente o mais utilizado para rituais religiosos, remédio, adoçante, na fabricação de bebida fermentada, no comércio ou até como pagamento de tributo, mas também utilizavam a cera e a resina.

No Brasil, os índios Kayapós conheciam e classificaram cerca de 34 espécies de abelhas sem ferrão. Eles utilizavam suas resinas e cerume em seus artesanatos, em medicamentos e nas cerimônias religiosas.

Esses índios conheciam muitos aspectos biológicos das abelhas, como estágios de desenvolvimento das larvas, aspectos do comportamento, distribuição e já utilizavam como polinizadores em suas colheitas.

Utilizavam fumaça para manejar espécies mais agressivas como, por exemplo, a Oxitrigona e encontravam os ninhos através do barulho feito pelas abelhas para ventilar a colônia.

Os Kayapós exploravam principalmente Melipona seminigra pernigra, M. melanoventer, M. rufiventris flavolineata, Scaptotrigona nigrohirta, e S. polystica. Outras espécies como Tetragonisca angustula e T. dallatorreana eram mantidas em suas casas dentro de cestas feitas com folhas de bananeira.

As abelhas sem ferrão são muito dependentes de seus ambientes naturais para sobreviver, isso se deve pelos recursos florais disponíveis para elas. Assim sendo, a melhor forma de escolher as espécies que deseja criar, é escolher as espécies que existem naturalmente na região onde deseja instalar um meliponário.

Abaixo segue uma tabela com as principais espécies de abelhas sem ferrão de cada região do país para auxiliar os iniciantes na meliponicultura.

Tabela 1 – Principais espécies de abelhas sem ferrão produtoras de mel criadas nas diferentes regiões do Brasil.

1. Existem várias espécies do gênero Scaptotrigona, de diferentes regiões, chamadas “canudo” ou “tubiba”.
2. Espécies da tribo Trigonini. Fonte: Villas-Bôas, J. 2012

Fonte de Renda e Saúde

Os objetivos da meliponicultura estão na produção e comercialização de colmeias (ou parte delas), mel, pólen, resinas, própolis e outros substratos como atrativos e ninho-iscas.

Além das abelhas serem os principais agentes da polinização, criar abelhas sem ferrão favorece a conservação/proteção da biodiversidade dessas abelhas contra a extinção.

As abelhas sem ferrão possuem 52 gêneros e mais de 300 espécies identificadas com distribuição catalogada na Austrália, África, Nova Guiné, América do Sul, América Central, Ásia e Ilhas do Pacífico.

No continente americano, as Meliponini ocorrem com mais frequência em florestas tropicais (aproximadamente 60%), e diminuem na direção sul do Brasil e ao Centro Norte do México.

No Brasil, há registradas cerca de 250 espécies de abelhas pertencentes à tribo Meliponini, as quais são criadas principalmente com o objetivo da obtenção do mel, o qual tem sido cada vez mais valorizado para fins gastronômicos.

É importante saber que os Meliponíneos se dividem em dois grandes grupos, Trigona e Melipona. O grupo Trigona possui como principal característica a presença de célula real. Esta célula é onde a rainha é criada, ela possui altura e diâmetro maior comparado as demais células. O grupo Melipona se caracteriza pela ausência de célula real.

Esse grupo possui os gêneros Trigona, Tetragonisca, Scaptotrigona, Nannotrigona, Oxytrigona, Cephalotrigona, Friesella, Frieseomelitta, Aparatrigona, Schwarziana, Paratrigona, dentre outros.

Algumas abelhas do grupo Trigona são bastante agressivas, como a Oxiotrigona tataíra (caga-fogo), ela libera uma substância ácida que causa queimaduras na pele.

Suas células de cria possuem o mesmo tamanho e contém volume semelhante de alimento para suas larvas.  Dessa forma, cerca de 25% de suas crias femininas de um único favo podem nascer como rainhas. Há registros de algumas espécies desse grupo que possuem capacidade de produzir até 8 litros de mel.

Favo de mel – resultado de meliponicultura e muita polinização – uma doce atividade.

Ao longo dos anos muitas abelhas sem ferrão vêm sofrendo exploração predatória por meleiros, os quais realizam a retirada do mel sem o devido manejo, a consequência é que acabam destruindo suas colônias e causando a diminuição de suas populações em algumas regiões.

Uma resposta a este fato é a meliponicultura, que além de favorecer a produção de diversos tipos de produtos além do mel, ainda contribui de forma direta para a conservação de inúmeras espécies de abelhas sem ferrão.

O Nordeste brasileiro se destaca com muitos polos bem estruturados de meliponicultura, se destacando os estados do Maranhão, Rio Grande do Norte e Pernambuco.

A meliponicultura vem se mostrando como uma ótima alternativa de geração de renda.

Seu manejo é fácil e não toma muito tempo para ser realizado no dia a dia. A meliponicultura tem sido bem aceita pela população, e um fato que tem contribuído para essa grande aceitação, é a grande valoração cultural que o mel das abelhas sem ferrão possui, além disso possui finalidades terapêuticas, pelas características medicinais a ele atribuídas. A Meliponicultura é uma doce atividade

Outros produtos além do mel como o geoprópolis, própolis, pólen e cera, têm grande potencial alternativo para contribuir na renda dos criadores de abelhas sem ferrão, pois possuem uma agregação de valor maior comparado aos produtos produzidos por Apis mellifera.

Uma das principais vantagens para a criação de abelha sem ferrão é a sua vasta distribuição em todo território nacional, além disso, são abelhas que não exigem a obtenção de roupas e materiais especiais para sua criação.

Dicas para o iniciante

Antes de começar a criação de abelhas sem ferrão, é fundamental obter o devido conhecimento das espécies que pretende criar e definir claramente quais serão seus objetivos, ou seja, quais plantas possui na sua região e quais abelhas se alimentam delas?

As espécies que pretende criar são naturais de sua região? São perguntas importantes que devem fazer parte do planejamento antes de iniciar uma criação.

É importante também definir claramente quais produtos pretende obter com sua criação (mel, própolis, cera) e é crucial manter contato com criadores que possuem experiência, a fim de buscar informações e saber qual a melhor maneira de iniciar seu meliponário.

Outro fato que se deve levar em consideração, sempre que possível participe de grupos de produção organizados em associações para fortalecer a meliponicultura, a fim de aumentar seus conhecimentos e trocar experiências.

Gleycon SilvaGestor ambiental – Mestre em Ciências Ambientais pela UNIFAL

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Redação

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3 thoughts on “Meliponicultura – Uma Doce Atividade

  • Humberto Pereira da Silva

    Parabéns pelo artigo. Não fazia ideia da quantidade de espécies do gênero (As abelhas sem ferrão possuem 52 gêneros e mais de 300 espécies identificadas). A exploração sustentável é de suma importância para a preservação e estabelecimento dessas espécies.

  • Humberto Pereira da Silva

    Parabens pelo artigo. Não fazia ideia da quantidade de especies do genero (As abelhas sem ferrão possuem 52 gêneros e mais de 300 espécies identificadas). A exploração sustentavel é de suma importancia para a preservação de estabelecimento dessas especies.

    • Muito obrigado Humberto, fico muito feliz por ter compartilhado algo que lhe gerou este conhecimento! E concordo contigo, precisamos pensar em como explorar de forma sustentável nossas abelhas e nossos recursos para que não falte lá no futuro.

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