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Mosquito – Febre amarela e Mortes.

Com a abolição em 1888, houve a necessidade de suprir a falta de mão de obra. A solução encontrada para a resolver a questão foi a imigração de trabalhadores europeus, em especial italianos. Mosquito, febre amarela e mortes foi só um dos resultados.

Alessandra Alves da Silva

São Paulo, 07/05 de 2020.

4 minutos

A entrada dos imigrantes acontecia pelo porto de Santos no Estado de São Paulo que aguardavam na Hospedaria dos Imigrantes para realizarem o contrato com o fazendeiro e prosseguirem para o seu local de destino. E aglomerações resultavam na propagação de doenças como a febre amarela e a varíola. O que propiciava a propagação das epidemias?

As aglomerações desde o desembarque no porto de Santos até o período que   os imigrantes permaneciam na hospedaria em São Paulo, proporcionava um ambiente para a propagação de doenças entre elas a febre amarela e varíola, que rapidamente acabavam   gerando muitos óbitos. Como isso prejudicava o desenvolvimento da cidade então foram tomadas medidas para sanar esse problema. Devido a ocorrências de epidemias de febre amarela em São Paulo o saneamento tornou-se uma das prioridades São dessa época a criação do Instituto Vacinogênico, Instituto Bacteriológico, Desinfectório Central.  

Segundo Telarolli, desde 1850, a febre amarela manifestava-se em Santos, mas, foi em 1899, na cidade de Campinas, que a epidemia se manifestou violentamente através dos desembarcados em Santos. Tomadas providências quando a epidemia prosseguia em direção interior de São Paulo colocando em risco a expansão do café e a política de imigração, o estado assumiu a responsabilidade de elaborar um serviço de saúde pública e assim começar o saneamento do porto. Em 1889, o governo italiano proibiu a imigração para o Brasil por decreto, e mesmo não sendo seguido à risca houve uma entrada de imigrantes italianos no país, em 1889 e 1890.

Durante a gestão de Antônio Silva Prado aconteceram algumas intervenções na cidade   de São Paulo, e o engenheiro Theodoro Sampaio apontou a necessidade de criar também uma infraestrutura sanitária.     

Medidas e contra-tempos

O Serviço Sanitário criado em 1892, e tinha em sua direção o secretário do Interior e na sua composição continham o Conselho de Saúde Pública, a Diretoria de Higiene e o engenheiro sanitário. A febre amarela era uma preocupação e o serviço sanitário a colocou como prioridade. Entre os serviços da Diretoria de Higiene estavam:  vacinação, fiscalização de escolas hospitais fábricas era incumbência também do diretor   a direção do isolamento de contagiados.

No ano de 1893 em respostas as crescentes reclamações ocasionadas pelo crescimento em São Paulo, o intendente do município acabou designando uma comissão cuja responsabilidade era fazer uma avaliação das condições de higiene. O relatório foi coordenado por Luís Cesar do Amaral Gama e Theodoro Sampaio. Para eles era necessário manter um nível alto de higiene e cuidar das habitações é importante considerar que vários nomes designavam moradias coletivas:   habitações coletivas, estalagens, cortiços, hotéis etc.

Na Comissão foram juntados engenharia sanitária e medicina higienista. Os inspetores preocupados com as péssimas de higiene dos cortiços visitaram casa por casa e anotaram em fichas nome dos proprietários, inquilinos suas nacionalidades além de observações onde constavam o que poderiam ser feitos, demolir, limpar, modificar nessa visita in loco, e nas fichas foram anotados além dos itens citados a cima o endereço e tamanho dos cubículos. As visitas foram feitas por pessoas de nome e investigar as condições dessas habitações foi um acontecimento importante, porque a visita sobre Santa Efigênia foi um ensaio que acabou originando o Código Sanitário de 1894.

Controle legal – regras

O código sanitário com 22 capítulos e 520 artigos, o capítulo 5 º dedicado as habitações de classe pobre o artigo 138 determinava que seja proibida a construção de cortiços e determinava a construção de vilas operárias distantes das aglomerações urbanas.

Em 1893 o bairro de Santa Efigênia na cidade de São Paulo foi considerado insalubre e apontado como uma das razões para a criação do Código Sanitário em 1894. Segundo Rodolpho Telarolli Júnior, o avanço das epidemias indicava para as autoridades sanitária a relação entre o transporte pelas ferrovias e ocorrência de epidemias.

 O Código Sanitário de 1894 é um documento cuja função era normatizar o funcionamento e a salubridade por meio de conceitos de higiene. O primeiro código sanitário regia o espaço público e privado e estendia as normas de higiene aos habitantes de uma forma mais rigorosa que o código de posturas. As desinfecções eram uma das formas mais privilegiadas para fazer o ataque contra as moléstias transmissíveis, fazendo o serviço de desinfecção ocupar uma posição estratégica dentro do serviço sanitário.

A imigração além de braços trazia também doenças até então inexistentes, e a lei que determinou que o Lazareto dos Variolosos   fosse convertido em hospital de isolamento e contagiados é de 29 de março de 1888. O hospital de isolamento não era de funcionamento permanente. O código sanitário de 1894, considerava como moléstias transmissíveis a febre amarela, a febre tifoide, a cólera, a peste, o sarampo, a escarlatina, a varíola, a difteria e a tuberculose e, portanto, a notificação delas deveria ser compulsória.

Tornava-se obrigatório o isolamento de doentes com moléstias transmissíveis, somente no caso de não haver hospitais era permitido o tratamento a domicílio. A autoridade sanitária poderia solicitar vagões especiais para os passageiros da localidade infectada e fazer a higiene preventiva o Estado foi divido em três partes foram elas: Capital e seus municípios, Santos e Campinas e os demais municípios. Em épocas de epidemias o estado poderia chamar o serviço sanitário local para uniformizar meios e ações contra o flagelo.

Para Rodolfo Telarolli Júnior, as ferrovias ajudaram a propagar as epidemias, carregando   doentes e vetores para os lugares não contaminados. Portanto haveria indícios entre: transporte e frequência das moléstias. Esse autor também evidenciou que os doentes tinham uma repugnância pelos hospitais, procurando por eles quando a doença já estava em um grau grave o que acabava sendo fatal. Entre 1895 e 1896 aconteceram transformações na ação sanitária, investiram em ações que   ajudassem na prevenção   foram elas: isolamento de doentes, desinfecção domiciliares.

Imigrantes sem defesas naturais e a a arquitetura do tratamento.

Além disso nas regiões de mais poder econômico a Diretoria do Serviço Sanitário começou a desenvolver ações fora do período de epidemias.  A febre amarela foi a causa do maior índice de mortalidade entre os estrangeiros e pode ser explicada pela falta de contato anteriormente com o germe, sendo recomendado que os inspetores sanitários prestassem mais atenção às crianças durante as visitas domiciliares.

No capítulo 21 do Código Sanitário intitulado: Hospitais e Maternidades, o artigo 419 aponta que o local para a construção do hospital deveria ser cercado de vegetação e que possibilitassem a entrada da luz.

No artigo 438 indica um hospital de isolamento para cada moléstia e caso não fosse possível era aceitável um Hospital de isolamento para várias moléstias, o hospital, portanto deveria ser dividido em diversos pavilhões separados desde que não houvesse contato de pessoas de um pavilhão com o outro, no artigo seguinte 439 indica que os hospitais deveriam ser ventilados e iluminados  reforçando a recomendação a feita no artigo 419. 

O final do capítulo estava dedicado aos hospitais e maternidades e orientava a instalação de estufas para que fossem feitas e desinfecção a também a lavagem de roupas. Cada pavilhão contaria com seu banheiro bem como seu desinfectório.

Dentro do estabelecimento hospitalar havia um cordão de isolamento, separando os doentes dos demais que era atravessado apenas pelo médico e enfermeira chefe. O último capítulo deste documento, foi dedicado as moléstias epidêmicas e transmissíveis no capitulo 26, em seu artigo 504, fazia a recomendação de isolar os doentes em seus domicílios ou então encaminhá-los ao hospital, caso ele tivesse condições econômicas poderia   permanecer em seu domicilio e a moradia que estivesse com doente deveria ser desinfectada. Com relação aos cemitérios o código no capítulo 22, determinava que eles fossem construídos fora dos centros.  

Instituto Adolfo Lutz (Foto: Arquivo do Est. de SP)
Nomes que permanecem e medidas sanitárias

Segundo Marta Almeida, o Serviço Sanitário criado, em 1892, nomeou Emilio Ribas no ano 1895 como inspetor sanitário no estado e no interior  de São Paulo.

Ele nasceu em 1862 e formou-se no curso de medicina em 1888. Por ter controlado os surtos de febre amarela em Campinas foi nomeado diretor do Serviço Sanitário.

Enquanto estava na Serviço Sanitário em Campinas Emilio Ribas adotou as seguintes medidas estavam:  desinfecção, isolamento dos doentes, além de fiscalização.

Quando se tornou diretor do serviço sanitário ele tinha como umas das principais funções o combate as epidemias, os trabalhos do Instituto Bacteriológico foram valorizados no sentido de dar respaldo em relação as medidas sanitárias.

Realizadas vistorias em residência, desinfecções e remoção de doentes. Havia poucos homens e muitos prédios para serem vistoriados, dificultava o trabalho, o pedido de aumento de inspetores foi atendido. Ocorrem obras, desinfecções remoção de doentes do Lazareto do Fundão que foi transformado em Hospital de Isolamento. Aumentam as visitas e desinfecções, as primeiras feitas em regiões atingidas pela febre amarela e a segunda em casas e casos isolados em domicílios onde ocorreram casos.

Conhecimento, coragem e autotestagem

Emílio Ribas fez elogios ao sistema de esgoto de Campinas e as medidas propostas pela Comissão de Saneamento, que eram chefiadas por Saturnino de Brito.  Para Emílio Ribas as epidemias em Campinas não teriam origem nas águas fornecidas a cidade. Além de elogios ele também fez críticas ao Hospital de Isolamento conhecido como do Fundão. Não haveria condições de higiene e pavilhões separados para os doentes. Segundo Almeida, além das tentativas de controle dos mosquitos, deveriam ser considerados outros fatores como o clima e a mobilidade populacional, que poderiam influenciar no declínio da febre amarela em Campinas.

Após leituras e correspondências buscou verificar que os mosquitos eram os transmissores de febre amarela, teoria defendida pelo médico. Emílio Ribas deixou-se picar pelo mosquito.  Foi acompanhado nesta experiência por Adolfo Lutz e outros dois indivíduos.  Ribas e seu colega apresentaram a doença de uma forma mais amena, ao contrário dos outros dois. Foi então comprovado como a infecção se disseminava, o resultado da experiência acabou definindo como padrão de controle para a febre amarela.

Alessandra Alves da Silva
Profª de História e Ciências Sociais – História Sociedade e Cultura pela PUCSP

Referências:

CYTRYNOWICZ, Musatti Mônica. Do Lazareto dos Variolosos ao Instituto de Infectologia Emilio Ribas São Paulo, Narrativa, 2010.

ALMEIDA, Marta. República dos invisíveis: Emilio Ribas, microbiologia e saúde pública em São Paulo, Edusf, 2003.

TELAROLLI, Rodolpho, Poder e Saúde: Epidemias e a Formação dos Serviços de Saúde em São Paulo, São Paulo. Unesp, 2008.

CORDEIRO, Lucena Simone.  Os cortiços de Santa Efigênia sanitarismo e urbanização (1893).

 

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Redação

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2 thoughts on “Mosquito – Febre amarela e Mortes.

  • Leonardo Yu Ito

    Interessante recorte da história da saúde pública no Brasil. O tem permanece atual em tempos de covid-19.

    • Obrigado! que bom que gostou! Continue lendo nossa revista. Dissemine entre os conhecidos de sua rede social.
      O Publisher

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