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Naturalizar a Guerra? Não.

O eminente historiador Eric Hobsbawn, nas suas diversas e importantes pesquisas históricas cunhou o binômio guerra X desenvolvimento. Um guia de ajuda humanitária entra aqui como uma luva!

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São Paulo, 27/02/2023.

4 Minutos.

Realmente, muitas das novidades tecnológicas e impulsos ao desenvolvimento técnicos aplicados em medicina, indústria, produção alimentar etc., surgiram como avanços dos pós guerras. Se pensarmos, comparativamente em um corpo social que segue, grosso modo, as formas, as estruturas lógicas e razoáveis em suas constituições assim, como em um corpo biológico, entenderemos melhor o ponto de vista argumentativo. Eis uma das bases deste ‘mecanismo’ promotor dos saltos históricos. Avanços resultantes, ganhos tecnológicos e conhecimento. Uma leitura Comteana biosocial.

Se ele possui grande, média ou pequena importância, per si, não importa; a manifestação em grau e escala na sua magnitude surgem quase naturalmente, no tempo adiante. Digo quase porque apesar das semelhanças, as pessoas têm diferentes modos reativos frente a um embate infeccioso, analogamente a uma guerra física militar, ocorrendo em determinado território geográfico. A “geografia” do corpo humano é, a pensar biologicamente, um estudo da anatomia. Etimologicamente, temos uma junção dos termos de origem greco-latina: ana – prefixo de negação -, e átomo: momento, instante, partícula mínima.  Átimo ou Tomos, que é corte, amputação.

Assim, num determinado instante, no tempo e no espaço, seja geográfico ou na anatomia humana, reações contrárias a uma invasão bacteriana, virótica, microbiológica, em um órgão, ou sistema, qual seja, provoca um corte, uma fratura das estruturas físicas, químicas, psicossociais que suportam as tensões entre duas potências. Um corpo, ou um país. O ato se dá. Uma doença e o corpo entram em guerra. Os vírus atacam, o corpo reage, todo ele sofre! Ou morre…

Momentos de tensão
Naturalizar a Guerra? Não.
Drones são armas controladas remotamente. Elas não decidem quem morre numa guerra. (Img Web)

Daí a importância das vacinas. Vacinas, novamente de forma análoga, podem ser, em síntese e para entendimento básico, vírus atenuados ou tratados sociais de ordem político-econômica.

A função precípua é aliviar, impedir e/ou evitar que novos confrontos e conflitos venham a acontecer na mesma intensidade, e que os ciclos posteriores aos embates estejam sob certo controle. Segue a vida.

Guerra resolve imediatamente. Cura ou se estende como pandemia?

Mas, as estruturas também podem colapsar. Perdas serão sempre a consequência imediata de uma guerra. Mortes e destruição. Todos sofrem. Crianças, mulheres, idosos, crises subsequentes, penalizações e, renovação.

A vida não para.

A humanidade sofre, mas se recompõe. Traumatizada, mas recuperável a nave vai. Evolução? Alguém quer naturalizar a guerra? A eterna companhia de um mal social? Quem defende a saúde? Os médicos?

Claro que não! A guerra, é em si, algo horrível. É uma doença cruel das sociedades e do instituído, frutos de erros e acertos em níveis diferenciados. Opera com uma sistematização aparentemente inconsequente, lenta e inexorável. Para o bem e para o mal, traduz e produz a essência contraditória da vida: a morte. Eis porque a racionalização destes fenômenos é extremamente perigosa. Mentes danificadas por raciocínios simplistas tendem a se posicionar favoravelmente a tais expedientes danosos. A propaganda funciona bem em mentes jovens e moldáveis. A indústria cultural do entretenimento e seus games entra aí com grande poder, esculpindo corações e pensamentos no tempo.

Então, pode-se produzir guerras como estratégias de desenvolvimento? Os gênios militares pensam que sim. Os estudos e pesquisas mostrados pressupõem positivamente diversos ganhos. Contudo, as perdas humanas são por demais sofridas e isto gera um paradoxo. Ou um paradigma a ser superado. Vale à pena? A inteligência humana e seu enorme poder de criatividade têm de dar uma resposta, antes que tudo vá pelos ares e as extinções tornem-se insuperáveis. Todas as crises ocorridas em uma sociedade são frutos dela mesma. Portanto, cabe a elas, pela via diplomática e política as práticas das soluções. Por mais atraentes que sejam os efeitos pirotécnicos que as tecnologias produzam!

Naturalizar a Guerra? Não.
Por terra, mar e ar…  Veneno nas mentes e nos corações. Tank Leopard. (Img Web)
As Vacinas sociais funcionam. Dialeticamente.

A paz favorece o uso da inteligência, mesmo com as crises. O uso insistente da inteligência bélica das academias militares cunhou mundos e realidade ‘distópicos’, VUCA, BANI em que as consequências da atividade vital humana e dos demais habitantes do planeta são invariavelmente imprevisíveis.

Os cenários serão sempre diferentes e concorrem em velocidades surpreendentes. “Não se pode tomar banho em um mesmo rio duas vezes!” Alguém sabe o quanto isto é atual?

Volte no tempo e pergunte para Heráclito de Éfeso. Ele já tinha sacado há mais de 2 mil anos. Depois vem um ‘doutor’ e tenta negar a dialética!

O que justifica a luta entre dois ou mais países, e atualmente, como se projeta, entre dois blocos de diversos países? A falta de recursos, incompetência para solução de conflitos a partir do abandono, ainda que temporário dos sentidos da humanidade: razão, inteligências, memória, sentimentos? Antes numa luta contra a Natureza levamos diversas espécies à extinção porque não se curvaram à nossa superioridade, não atenderem às nossas necessidades.

Não se pode existir neste planeta sem a autorização do Homo sapiens? Agora, na verdade há muito tempo, começamos a lutar contra nós mesmos. Muito sapiens! Só que a velocidade e o grau de autodestruição que impusemos à própria natureza humana, depois de separa-la da outra Natureza nos pegou de calças curtas e arriadas. Surpresa!? Saberemos parar ou já rompemos os limites do retornável?

Naturalizar a Guerra? Não.
A vida não é um game. (Img Web)
Mecanismo de Alerta acionado. O mundo não é um game!

O DIH, conjunto de normas internacionais que, por razões humanitárias, trata de limitar os efeitos dos conflitos armados, serve para
proteger as pessoas que não participam ou que deixaram de participar dos combates e limita os meios e métodos para a condução das
hostilidades.

Por exemplo, os drones armados, os sistemas de armas autônomas e a denominada “guerra cibernética” – são diferentes sistemas não tripulados que operam no ar, na terra e na água. Pouco ou quase nada há de controle quando se chega ao momento decisório frente de outras vidas.

Convenção sobre proibições ou restrições ao uso de certas armas convencionais que podem ser consideradas como excessivamente nocivas ou ter efeitos indiscriminados, realizadas em 2014 e 2015, e as reuniões de especialistas convocadas pelo CICV em 2014, apontam que a instituição da guerra é inevitável, mas deve ser mitigada.

O horror, que técnicos militares consideram “efeitos colaterais” são dramáticos, traumáticos e, geralmente, insuperáveis para a dignidade, a alma e a psique humanas.

Ações Mitigatórias

O CICV (Comitê Internacional da Cruz Vermelha) propôs que “sistemas de armas autônomas”, termo amplo que cobriria qualquer tipo de sistemas de armas que operam no ar/terra/mar, com autonomia ou resolução própria em suas “funções críticas”, ou seja, uma arma que pode selecionar e atacar objetivos sem intervenção humana deve ser revisto, repensado e de um modo muito particular, proibido. É esta autonomia das funções críticas o que distingue os sistemas de armas autônomas de todos os outros sistemas de armas – operadas sempre por humanos de longe.

Assim, é urgente examinar as implicações jurídicas, humanitárias e éticas dessas armas com base no estado atual e previsível da tecnologia robótica. – O Olho de Aldebaran já tinha previsto enxames de nanorobôs insetos atacando fazendas e destruindo fontes de alimentação humana “inimigas”. O mesmo se pode imaginar, aliado ao campo da bioética, em microrganismos controláveis em uma guerra ciberbiológica.

Consideranda

Estas são apenas considerações básicas a partir da leitura de um artigo de Gabriel Pablo Valladares, advogado pela Faculdade de Direito da Universidade de Buenos Aires (Argentina)e assessor jurídico da Delegação Regional do CICV para Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai. Este e outros temas de importância capital em relação aos Direitos Humanos podem ser encontrados em:

Como uma organização que atua há mais de 45 anos levando assistência médico-humanitária a populações que têm sua sobrevivência ameaçada, Médicos Sem Fronteiras sabe que a comunicação ajuda a salvar vidas, em casos de guerras ou outras catástrofes, humanas ou naturais. Um Guia de Fontes em Ajuda Humanitária (clique aqui) foi planejado como uma ferramenta para facilitar a cobertura de crises humanitárias que muitas vezes ficam esquecidas.

O guia traz os contatos de organizações, agências multilaterais e órgãos governamentais atuantes nesse tipo de cenário, seja em campo ou em fóruns internacionais. Pesquisadores em centros de estudos e universidades no Brasil especializados em temas relacionados à ajuda humanitária – cooperação, ajuda ao desenvolvimento, migrações, refugiados, direitos humanos, conflitos estão relacionados.

Inclui também artigos que ajudam a elucidar as especificidades, as práticas e os dilemas da assistência emergencial, um glossário básico de termos da ajuda humanitária e do direito internacional humanitário, cuja a intenção de esclarecer os conceitos usados nesses campos.

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Redação

ÆscolaLegal é um esforço coletivo de profissionais interessados em resgatar princípios básicos da Educação e traduzir informações sobre o universo multi e transdisciplinar que a envolve, com foco crescente em Educação 4.0 e além, Tecnologia/Inovação, Sustentabilidade, Ciências e Cultura Sistêmica. Publisher: Volmer Silva do Rêgo - MTb16640-85 SP - ABI 2264/SP