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O Brasil está dando certo?

A resposta a esta pergunta vem ao gosto do freguês. Escolhendo os dados (verdadeiros), chega-se a qualquer resposta. E muito depende de com quem nos comparamos e do intervalo de tempo considerado.

Claudio de Moura Castro

São Paulo, 12/03 de 2021.

1 Minuto

Estamos soterrados por críticas pessimistas (verazes), ancoradas no curto prazo para responder satisfatoriamente: O Brasil está dando certo?

Mas vejamos como nos saímos ao longo de um século e tanto. Na verdade, esse é um bom intervalo de tempo para avaliar um país. Dada a sua proximidade cultural e histórica, faz sentido nos compararmos com a América Latina. E lá pelo fim do século XIX éramos um dos países mais atrasados do continente. Poucos eram mais pobres.

Estamos hoje dentre os três ou quatro mais bem sucedidos. Ainda mais expressivo, nenhuma daquelas nações que era mais pobre do que o Brasil passou na nossa frente. Não localizo no mundo qualquer país que avançou mais rápido (China não conta, pois, ao fim do século XIX, vivia a sua mais grave crise e desintegração). Segundo os números, entre 1880 e 1980, nem um só país cresceu mais do que o Brasil.

Antes, horrorizávamos os visitantes ilustres, a começar com os comentários pesados de Darwin, ao passar por aqui. Para acender o primeiro alto forno, nas Minas Gerais, foi preciso trazer carvoeiros da Toscana, pois nem a feitura desse produto banal dominávamos. Apenas por volta de 1900 conseguimos fazer cerveja – criada na Europa, há cinco milênios.

Matarazzo ficou rico, pois não sabíamos fazer banha de porco. Nas ricas fazendas do vale do Paraíba, a manteiga consumida vinha da Dinamarca. Após a Segunda Guerra, importávamos pentes de plástico do Japão. Tivemos uma vigorosa Revolução Industrial. E na contramão das afirmativas peremptórias de que “nossa indústria acabou”, permanecemos um país altamente industrializado, com uma produção diversificada e, em alguns casos, competitiva mundialmente.

Para onde, afinal vai a nossa riqueza? Números mostram que há extrema concentração.
(Foto: Internet)
Será mesmo que O Brasil está dando certo?

Na década de setenta, importávamos um terço dos alimentos consumidos. Hoje somos o segundo maior exportador. Estima-se que a população do mundo, dentro de um par de décadas, para sua sobrevivência, dependerá em 45% da agricultura brasileira. Os indicadores sociais eram catastróficos. Na entrada do século XX, a esperança de vida no Rio de Janeiro era inferior a trinta anos. Hoje caminhamos para os oitenta.

Nossa educação sempre foi fraquinha e assim continua. Lembremo-nos, éramos uma colônia portuguesa, um dos países europeus mais atrasados em educação. No século XVIII, Comenius escreveu o livro que mais iluminou a arte de ensinar. Foi traduzido para todas as línguas e dialetos da Europa, além do árabe, russo e mongol. Não se registrou, na época, uma tradução para o português. Por volta de 1900, momento em que Argentina e Uruguai tinham programas de alfabetização enérgicos e inspirados, tínhamos da ordem de 90% de analfabetos.

Desde então, as realizações no ensino foram expressivas. Praticamente, universalizamos a frequência à escola. E surpresa! No Pisa, o Brasil já empatou com a Argentina, um dos três ou quatro países mais ricos do mundo, ao terminar a Segunda Guerra. Hoje, dentre as nossas instituições de ensino superior, muitas têm matrícula superior ao total do Brasil, na metade do século XX.

O avanço da pesquisa e da pós-graduação foi nada menos do que espetacular. Por volta de 1950, não tínhamos publicações internacionais em periódicos prestigiosos. E até bem mais tarde, nada de pós-graduação. Temos hoje milhares de programas de mestrado e doutorado – de respeitável qualidade. E não há mais do que 12 países com produção científica (em periódicos sérios) superior à nossa.

Como e por que ainda temos mais de 65 milhões de pobres e miseráveis

Na tecnologia, há alguns êxitos incontrovertidos. Ao visitar o país, perguntaram a Borlaug o que havia acontecido com a Revolução Verde (que lhe valeu um prêmio Nobel). Sua resposta: mudou-se para o Brasil. E essa transformação tem a pegada da Embrapa. Atingimos também padrão mundial em aeroespacial, exploração de petróleo em águas profundas, medicina tropical e outros campos.

Dependendo dos humores do momento, do colorido político e do nível de conhecimento, olhamos a linha do horizonte, ou o beco, como diria A. F. Schmidt. Como vivemos soterrados pelo pessimismo e negativismo, neste ensaio, tento mostrar que a trajetória de longo prazo nos é muito lisonjeira. Naturalmente, esse bom desempenho não justifica qualquer complacência.

É preciso lutar diuturnamente para melhorar e para consertar os erros. Porém, zanga e visões truncadas não levam à sociedade que desejamos. Quase todos os países passaram por fases catastróficas. No século XVIII, as guerras religiosas arruinaram a Europa. Os Estados Unidos tiveram a guerra civil mais sangrenta da história da humanidade.

Os tropeços são inevitáveis. Mas têm que ser vistos como desafios a serem vencidos. Pouco adianta chorar oportunidades perdidas. Nossos ânimos e disposições andam mais chamuscados do que o próprio país. Lembremo-nos, o Brasil ainda é um país em construção. Elas por elas, os números mostram que nunca estivemos melhor.

Claudio de Moura Castro Economista, Professor

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Redação

ÆscolaLegal é um esforço coletivo de profissionais interessados em resgatar princípios básicos da Educação e traduzir informações sobre o universo multi e transdisciplinar que a envolve, com foco crescente em Educação 4.0 e além, Tecnologia/Inovação, Sustentabilidade, Ciências e Cultura Sistêmica. Publisher: Volmer Silva do Rêgo - MTb16640-85 SP - ABI 2264/SP

2 thoughts on “O Brasil está dando certo?

  • Claudio de Moura Castro

    De início, estranho não haver encontrado na revista o nome dos editores responsáveis e nem seu endereços eletrônicos. Mau começo. Tenho que usar um acesso genérico

    Preparei um ensaio para o Estadão como o título o “O Brasil está dando certo?”. Ao apresentar-lo à redação dos editoriais foi-me dito que não seria publicado pois não era inédito, o que me surpreendeu, pois não o enviei para qualquer outra publicação.

    Foi então que a redação enviou-me o site desta revista. Não sei como foi parar aí, não sei quem enviou, mas qualquer que seja o caso, é totalmente impróprio publicar sem autorização explícita e escrita do autor. Além de perder a audiência do jornal, prejudica-me economicamente, pois sou remunerado pelos ensaios.

    Que mau exemplo para a Educação brasileira está vindo desta publicação. Surpreende que A Embrapa esteja patrocinando. Vou questionar seus executivos

    Claudio de Moura Castro

    • Curioso é que me enviaram o artigo como já publicado no Estadão. E eu só republiquei citando as fontes…

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