Educadores

MEDIAÇÃO E PRÁTICAS RESTAURATIVAS NA ESCOLA

Código Civil Brasileiro insere a mediação obrigatória como auxiliar da Justiça!

Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção.
Paulo Freire

2 Minutos

Considerando que o índice de violência no âmbito escolar vem se alastrando de maneira avassaladora nas diversas expressões: preconceitos, presença das drogas, destruição do patrimônio público, brigas entre alunos, bullying,  desrespeito e agressões com os professores entre outros, acentua-se a preocupação dos educadores pois essas situações  trazem consequências em vários níveis na escalada do conflito, entre eles, a evasão dos alunos e o adoecimento dos professores …Então cabem as questões:

Como a escola, uma instituição viva, responsável pela formação e informação dos jovens, pode contribuir no desenvolvimento de habilidades e competências para lidar com os conflitos de forma pacífica? Qual a maneira mais eficaz de lidar com situações de conflitos?

A escola do século XXI está sendo chamada a uma responsabilidade ativa de transmitir aos seus alunos habilidades que promovam seu desenvolvimento pessoal e sua integração no mundo. Entre essas, as habilidades para lidar com os conflitos de forma pacífica são de fundamental importância para a formação do cidadão e disseminação da cultura da paz (Delors, 1999).

A Mediação Transformativa e as Práticas Restaurativas veem o conflito como um processo relacional, inerente ao ser humano e como uma oportunidade para o crescimento e o enriquecimento pessoal. Possuem por objetivo promover relações interpessoais colaborativas, valorizando o diálogo, o consenso e a administração responsável dos próprios conflitos.

O exercício da Mediação Transformativa promove o empoderamento pessoal ou a capacidade para ouvir, apresentar argumentos e propor alternativas ao mesmo tempo em que propõe o reconhecimento das capacidades no outro (Folger & Bush, 1999).

“Aceitar que o conflito é parte integrante da vida é essencial à adoção das práticas restaurativas. Sempre haverá mal-entendidos, necessidades e interesses conflitantes e diferenças de opinião. Na escola, nem sempre os alunos se comportam como desejamos. Quer isso nos agrade ou não, lidar com conflitos faz parte do trabalho do educador.

As práticas restaurativas ajudam a rever nosso modo de pensar para que vejamos o conflito no ambiente escolar como uma oportunidade de estimular e de criar melhores relações” (Costello, Bob e colaboradores, 2012). O treinamento de alunos e membros da comunidade escolar contribui para que possam atuar como facilitadores da comunicação nas situações de conflito. 

Os questionamentos surgem. No entanto, buscar outra forma de conduta que leve à responsabilização e à reparação de danos requer formação e preparo dos participantes da comunidade escolar. As emoções presentes diante de uma conduta indesejável geralmente nos levam a repetir o padrão de comportamento habitual. É possível dialogar com o jovem? Dialogar no sentido pleno da palavra: ouvir, entender o que ele quis dizer; responder a partir do que ouviu e aguardar a fala do outro?

Ruben Alves em seu texto “A escutatória” traz uma visão real e pertinente sobre a escuta.(…) “Não aguentamos ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer(…)”. Sejam quais forem as razões da dificuldade em escutar o outro, perceber e entender   esta necessidade requer preparação e treino, isto é um fato.

É possível escutar o jovem ou a criança de forma genuína, entender o que ela disse e o que está querendo dizer? É possível escutar o professor cansado, que após várias tentativas para resolver de forma pacífica uma situação, entrega o aluno à direção?
Algumas reflexões:

  • – Que diferença fará?
  • – Escutar com interesse e auxiliar com perguntas específicas, sem julgamentos e sem respostas prévios;
  • – Entender o que aconteceu, mostrar interesse real pelas histórias, procurar conhecer os fatos e as perspectivas de cada envolvido…
  • – Ter curiosidade sobre pensamentos e sentimentos dos envolvidos no momento do incidente (conflito);
  • – Considerar quem mais foi afetado;
  • – Considerar o que é necessário acontecer para colocar as coisas em ordem; quais as necessidades pessoais dos envolvidos para a conclusão e reparação do dano;
  • – Pensar o que cada um pode fazer para que as coisas fiquem bem.

A Comissão da UNESCO para a Educação do século XXI, de acordo com os 17 ODS do Milênio para 2030 compreende que uma das grandes questões da humanidade é implementar uma Cultura de Paz, e que a âncora dessa conquista é a Educação. Diretores, gestores, coordenadores, professores, pais, alunos e profissionais dedicados e atentos às suas funções, muitas vezes se deparam com situações difíceis e são chamados a lidar de maneira coerente com a política de uma cultura de paz.

Criar possibilidades de ambiente colaborativo é uma necessidade. As Práticas Restaurativas, a Mediação Transformativa e tantas outras metodologias que preconizam a comunicação dialógica são fundamentais para o estabelecimento de uma cultura pacífica, previnem a escalada do conflito e o utilizam como motor para mudança.

Contribuem com toda comunidade escolar na capacitação e no desenvolvimento de formas alternativas para a solução dos conflitos, em prol de uma convivência mais harmoniosa, em que se busca diminuir os índices de violência nas escolas e estimular a existência de uma comunidade participativa e cooperativa, restaurando e construindo relacionamentos.

É necessária a preparação da escola para receber uma nova forma de lidar com a situação de conflitos ou divergências. Para isso são realizados encontros de sensibilização com o maior número possível de pessoas da comunidade escolar, nos quais temas pertinentes à demanda são tratados.

Paralelamente, acontece a formação de mediadores e facilitadores, que tem por base reflexões sobre temas fundamentais à mudança do paradigma: “olhar para o mau comportamento”, além do uso de técnicas e metodologia que embasem novos procedimentos. Conteúdos teóricos e dinâmicas e a reflexão sobre a própria postura fazem parte do procedimento de implementação dessas práticas.

Para Schabbel, (2002), a mediação Escolar pode ser considerada como um processo de aprendizagem dirigido a tratar os conflitos de maneira pacífica. Todos os participantes podem desenvolver as habilidades da escuta, do respeito mútuo, da tolerância, da cooperação e do diálogo, construindo formas de comunicação que favoreçam a aprendizagem dos conteúdos teóricos e da aquisição de habilidades de comunicação. 

Membros da equipe do Instituto THEM, junto com Célia Bernardes (do Instituto Mediativa) tem considerável experiência   na capacitação de facilitadores e implementação da Mediação e de Práticas Restaurativas em São Paulo e em outros estados do Brasil na busca de desenvolver uma postura e uma visão de mundo restaurativas.

Um grande desafio desse trabalho tem sido mudar o paradigma relacionado às formas de convivência e formar escolas baseadas na pedagogia restaurativa, nas quais os procedimentos restaurativos se incorporam ao funcionamento das escolas, construindo um ambiente pacífico, incluindo diversidade e fortalecendo as relações humanas, (objetivos das capacitações)

No Brasil as práticas restaurativas estão avançando no sistema educativo em vários estados, mesmo sem formalização através de leis e decretos, principalmente na área da Educação. Gradualmente se formam pessoas menos violentas, mais conectadas, mais colaborativas em busca de uma grande comunidade chamada Brasil. 

Instituto THEM

Comunicação Dialógica – envolve troca de ideias e opiniões; leva em conta diferentes pontos de vista para construir contextos colaborativos. Consiste em construir uma reflexão sob a forma de diálogo.

Compartilhar

Redação

ÆscolaLegal é um esforço coletivo de profissionais interessados em resgatar princípios básicos da Educação e traduzir informações sobre o universo multi e transdisciplinar que a envolve, com foco crescente em Educação 4.0 e além, Tecnologia/Inovação, Sustentabilidade, Ciências e Cultura Sistêmica. Publisher: Volmer Silva do Rêgo - MTb16640-85 SP - ABI 2264/SP

2 thoughts on “MEDIAÇÃO E PRÁTICAS RESTAURATIVAS NA ESCOLA

  • Violeta Daou

    A importância da transformação relacional se faz necessária ao estabelecimento de uma nova cultura no contexto educacional.

  • Maria da Graca

    Muito bom o artigo
    No momento pelo qual estamos passando, práticas restaurativas podem trazer um alento
    Parabéns!

Fechado para comentários.