EnsinoSustentabilidade

Desenvolvimento Sustentável – Dimensão Cultural.

Desenvolvimento Sustentável é uma Construção Coletiva. “Já não basta mais apenas denunciar.  Precisamos propor. Não basta apelar à urgência…!” (Edgard Morin)

Maria Lina Aguiar de Souza

São Paulo, 16/11 de 2020.

1 Minuto

“Com efeito, tudo começou, mas sem que se soubesse. Estamos no estágio de começos, modestos, invisíveis, marginais, dispersos. Porque já existe, em todos os continentes, uma efervescência criativa, uma multiplicidade de iniciativas locais, em conformidade com a revitalização econômica, ou social, ou política, ou cognitiva, ou educacional ou ética, ou da reforma da vida.

Estas iniciativas estão isoladas, nenhuma administração as leva em conta, nenhum partido toma conhecimento delas. Mas elas são o viveiro do futuro. Trata-se de reconhecê-las, inventariá-las, cortejá-las, catalogá-las, combiná-las e de conjugá-las em uma pluralidade de caminhos reformadores. São estes caminhos múltiplos que podem, através de um desenvolvimento conjunto, se combinar para formar o novo caminho que nos levaria em direção esta metamorfose ainda é invisível e inconcebível. Para desenvolver formas que vão desembocar no Caminho, é preciso identificar alternativas limitadas, que limitam o mundo do conhecimento e do pensamento hegemônicos. Assim, é preciso ao mesmo tempo globalizar e desmundializar, crescer e diminuir, desenvolver e envolver.

(…) Já não basta mais apenas denunciar.  Precisamos propor. Não basta apelar à urgência. É preciso saber também começar a definir os caminhos que levarão ao Caminho. É para isso que estamos tentando contribuir.” – Edgard Morin, Le Monde, 2010.

Morin, sociólogo e filósofo francês, reflete acima sobre a mudança do comportamento da humanidade como fenômeno irremediável. É inevitável o questionamento em nosso foro íntimo: “- Como esta mudança me atinge e como me encaixo neste processo de transformação?”

Pensar verdadeiramente

Em assuntos existencialistas, não existem respostas simples para perguntas complexas. Não existem atalhos para longas jornadas. Mudar o indivíduo leva uma vida, mudar a humanidade, uma era. Contudo, se ainda não ‘inventamos’ o nosso caminho, certamente temos a orientação:

“Finalmente, não há o diálogo verdadeiro se não há nos seus sujeitos um pensar verdadeiro. Pensar crítico. Pensar que, não aceitando a dicotomia mundo-homens, reconhece entre eles uma inquebrantável solidariedade. Este é um pensar que percebe a realidade como processo, que a capta em constante devenir e não como algo estático. Não se dicotomiza a si mesmo na ação. “Banha-se” permanentemente de temporalidade cujos riscos não teme.” – Paulo Freire.

Mas os desafios para o ente social que se percebe dentro desta mudança comportamental planetária não é tarefa fácil. Para vislumbrar o caminho antes de se abrir as trilhas na corrente da história e, podermos eternizar a nossa existência individual como precursores desta grande mudança, para além de uma participação ocular, o processo de se educar é insubstituível.

Educar-se não é somente ser educado. Consiste em não ser catequisado, não ser colonizado, não ser furtado em seu direito de liberdade no que se necessita para desenvolver o seu compreender: ‘ninguém pode ser dono da autonomia de ninguém no ato educador’. (FREIRE, 2013).

 Tornando ainda mais complexa esta aventura do viver atual, além de precisarmos nos educar, precisaremos perceber com o olhar expandido o paradoxo do termo futuro: ‘entender o que é e não é, cientes que no amanhã deixará de ser’.

“Nada é feito para durar!” (Zyg Bauman)

A confusão ou interrupção causada neste momento pelo pensamento lógico por esta afirmação não é, de forma alguma, limitação ou raso conhecimento por parte do leitor. Como paradoxo é por sua proposição contradizer, é aqui esperado e natural que esta expressão se apresente confusamente construída e completamente sem lógica.

Este é um dos resultados das argumentações paradoxais. Reflexão causada pela estranheza. E é neste momento que se inicia o ajuste para o novo olhar, quando o indivíduo é retirado do conforto de saberes fáceis e de (re)leituras alheias ao que é.

Um trio de pensadores do Século XX

Assim, se torna mais compreensível o porquê a definição de sustentabilidade e desenvolvimento sustentável não têm sido termos fáceis de cunhar um único sentido.

Por lógica inversa, eliminando o que não é, pode-se dizer que sustentabilidade e desenvolvimento sustentável não são sinônimos de meio ambiente ou proteção ao meio ambiente exclusivamente. Há um certo ‘ruído’ quando tratados assuntos ligados a estas expressões pelas exigências próprias de cada organização.

Contudo, a sustentabilidade como princípio afirmativo de sobrevivência humana e perpetuação das espécies por meio da preservação ambiental, foi elevada a compromisso global das nações, com a ‘Carta da Terra’, documento produzido no início do séc. XXI, em resultados de oito anos de pesquisa (1992-2000), iniciando-se:

Criando caminhos próprios

Estamos diante de um momento crítico da história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro […]. A escolha é nossa e deve ser: ou formar uma aliança global para cuidar da Terra e cuidar uns dos outros, ou arriscar a nossa destruição e a destruição da diversidade da vida (Preâmbulo). – Leonardo Boff apud Carta da Terra.

Em um olhar expandido, mas ainda limitado, pode-se dizer que sustentabilidade é a qualificação de todos os esforços mundiais para a preservação ambiental no planeta.

O termo ambiente é referenciado como todo espaço extensivo e não extensivo ao homem e, sua complexa variedade natural. Isto significa dizer que o ser humano, a forma de se relacionar uns com os outros, seu poder de influência e transformação no ambiente para retirada de recursos de sustentação a vida, seu desenvolvimento dos saberes e a forma que efetiva suas trocas (economia) devem adotar o conceito sustentável em ações positivadas.

O homem é parte do ecossistema carente de preservação e, o único responsável por ações sustentáveis, visto estar na progressão e transformação de suas relações de convívio o dano ao equilíbrio natural.

Esta mudança é uma real alteração interna para o indivíduo. Assim como foram necessários ao longo dos tempos a adoção de postura ética para os profissionais, a manutenção dos sentimentos morais mais elevados na sociedade, a renovação da cultura organizacional dentro das empresas e percepção, reconhecimento e alteração na composição da unidade familiar para formação do indivíduo etc., a sustentabilidade deve ser um princípio/verbo inerente das ações sociais, como exercício constante e balizador para as transformações ambientais, sociais e econômicas em seu sentido expandido.

Desenvolvimento sustentável na dimensão cultural

O hoje é o momento de mudança do amanhã quanto a quebra de paradigma nas relações interpessoais ao redor do mundo e, nos encontramos no momento, começo do início na linha história do futuro, que pode ser de fato a verdadeira revolução estrutural, a curva que muda os rumos de como as civilizações passam a agir, atingindo as múltiplas sociedades do planeta, com mudanças profundas nas relações sociais e ambientais.

Nisto consiste esta proposta e desafio lançados: Um compartilhar de vozes ecoadas de todos os lados para transformação do tema Desenvolvimento Sustentável em exercício pragmático com compromissos claramente definidos.

O objetivo das pesquisas e textos que se seguirão estarão comprometemos em iniciar um diálogo real com a diversidade, em sua mais ampla abrangência nas diferenças, para realização de ações de Gestão por Desenvolvimento Sustentável por meio da Dimensão Cultural.

A sustentabilidade é princípio/verbo/movimento, então o que é Desenvolvimento Sustentável? O que é Gestão por Desenvolvimento Sustentável? E nossa principal proposta: o que é esta Dimensão Cultural? A resposta as estas questões é o que buscaremos considerar a frente!

Observação: este é um processo de construção cidadã que visa dialogar com o mundo, entendendo como mundo todas as pessoas, sem qualquer distinção, no seu exercício do viver.

Só terá sentido se construído a milhares e milhares de mãos que se disporão a contribuir como agentes de mudança, cada um à sua forma, com interferências, questões, respostas, sonhos, investigações, anseios, trabalhos, reflexões individuais, exemplos ou simplesmente um breve cumprimentar!

Sim, ao falarmos para o mundo este nos responderá, com sua forma própria, nos mostrando que estamos em diálogo e em permanente correspondência.

Maria Lina Aguiar de SouzaGestão Pública e Desenvolvimento Regional – Auditora Ambiental. Colunista Jornal A Pátria

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Redação

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