Poluição Luminosa – Perigo Real

O projeto científico Globe at Night identificou que a poluição luminosa está dobrando globalmente a cada oito anos. Um novo estudo publicado na Revista Science relata que, entre 2011 e 2022, a Poluição Luminosa aumentou cerca de 9,6% ao ano. Apagaremos as estreles nas cidades?

Redação

São Paulo, 31/01/2023.

3 minutos.

O estudo é baseado em dados coletados por meio do projeto de ciência NOIR Lab’s Globe at Night. Esse rápido clareamento do céu noturno em grandes porções da Terra tem sérias consequências para todos os seres vivos. Os autores concluem que “as políticas publicas de iluminação existentes não impedem esse aumento, pelo menos nas escalas continental e global”. O aumento surpreendente da poluição luminosa é um alerta claro para os formuladores de políticas públicas de que uma ação decisiva e imediata é necessária para lidar com essa ameaça ambiental urgente.

Por que essa descoberta é surpreendente?

Nos últimos anos, estudos estimaram que a poluição luminosa estava crescendo aproximadamente dois por cento ao ano. Esses estudos usam dados de satélites de observação da Terra. Em outras palavras, eles medem a luz que escapa da atmosfera. O novo estudo, relatado na Science, conta com pessoas registrando o número de estrelas que veem em uma noite clara e escura. Em outras palavras, eles avaliam o brilho do céu noturno do chão olhando para cima.

Essas observações medem o brilho do céu, o brilho do céu noturno de inúmeras luzes. Os satélites medem principalmente a luz emitida verticalmente, diretamente ou por reflexão. Eles também são cegos à luz no comprimento de onda mais azul e curto (de 400 a 500nm).

As observações do céu noturno a partir do solo também incluem a luz emitida horizontalmente – como fachadas de edifícios iluminadas, outdoors digitais e janelas de escape de luz. O olho humano também vê a luz em um espectro mais amplo. Esses fatores observacionais são mais causadores de brilho do céu e preditores úteis de impacto biológico. “Como os olhos humanos são mais sensíveis a esses comprimentos de onda mais curtos à noite, as luzes LED têm um forte efeito em nossa percepção do brilho do céu”, disse Christopher Kyba, pesquisador do Centro Alemão de Pesquisa em Geociências e autor principal do artigo detalhando esses resultados.. “Esta pode ser uma das razões por trás da discrepância entre as medições de satélite e as condições do céu relatadas pelos participantes do Globe at Night.”

Por que os resultados importam?

Nos últimos 150 anos, transformamos o mundo natural. Está ficando cada vez mais claro que uma das mudanças mais profundas é a perda da escuridão à noite em grande parte do planeta. Como relatam os autores do estudo, “o caráter do céu noturno agora é diferente do que era quando a vida e a civilização se desenvolveram”. Fica claro neste artigo que o crescimento da poluição luminosa continua, em grande parte sem controle. “Neste ritmo de mudança, uma criança nascida em um local onde 250 estrelas eram visíveis seria capaz de ver apenas cerca de 100 quando completasse 18 anos”, disse Christopher Kyba.

Aumentar o brilho do céu é um sinal de que estamos fazendo uma iluminação errada. É um sinal de que estamos usando energia de forma ineficiente, desperdiçando dinheiro, agravando as mudanças climáticas e aumentando os impactos ambientais. Os cientistas estimam que o dióxido de carbono, o principal contribuinte para a mudança climática, está crescendo 2% ao ano globalmente – dobrando a cada 30 anos. Em comparação, a poluição luminosa está crescendo 9,6% ao ano – dobrando em menos de oito anos. “O aumento do brilho do céu na última década ressalta a importância de redobrar nossos esforços e desenvolver novas estratégias para proteger os céus escuros”. O conjunto de dados Globe at Night é indispensável em nossa avaliação contínua das mudanças no brilho do céu, e encorajamos todos que puderem a se envolver para ajudar a proteger o céu noturno estrelado.”

Como o estudo foi conduzido?

Milhares de voluntários coletam dados sobre quantas estrelas eles podem ver anualmente. Usando um aplicativo de telefone simples, eles compararam o número de estrelas que viram em uma constelação conhecida para estimar o nível de poluição luminosa. Usando mais de 50.000 pontos de dados coletados entre 2011 e 2022, os cientistas compararam os dados coletados com um modelo de brilho do céu. O modelo estimou que, globalmente, a poluição luminosa cresce 9,6% ao ano a cada ano. Você pode ajudar.  Quer ser um caçador de estrelas?

Quais são as implicações deste estudo?

Conforme observado no estudo principal, as políticas de iluminação existentes falharam em impedir esses aumentos, pelo menos em escala continental ou global. Em um artigo complementar da Perspectives na Science, os autores Fabio Falchi e Salvador Bara pedem uma nova abordagem para retardar, interromper e reverter essa tendência alarmante. Eles concluem, “a poluição luminosa é um problema ambiental e deve ser confrontado e resolvido”. Novas abordagens podem incluir o estabelecimento de orçamentos e limites de iluminação regionais com base na qualidade do céu sobre parques, áreas protegidas e locais astronômicos.

Em outras palavras, adotando uma abordagem semelhante à forma como regulamos e controlamos a poluição do ar e da água. Isso é consistente com a abordagem que pedimos em nosso resumo de política europeia lançado para apoiar o apelo de Brno (a segunda maior cidade da República Tcheca) para reduzir a poluição luminosa na Europa. Ao contrário de muitas outras formas de poluição, podemos reduzir a poluição luminosa usando a tecnologia existente.

Uma vez resolvidos, os resultados são imediatos e a economia de custos, em termos de economia contínua de energia, é significativa. Criticamente, isso não significa desligar todas as luzes. Ao seguir os Cinco Princípios para Iluminação Responsável, podemos tomar medidas imediatas para reduzir a poluição luminosa e, ao mesmo tempo, melhorar a qualidade da luz à noite.

Como posso ajudar? Participe do programa Globe at Night para avaliar a mudança em sua comunidade.  Ao fazer medições de forma consistente ao longo de vários anos, você pode ajudar os cientistas a avaliar as mudanças regionais. Junte-se à comunidade de defesa global da IDA e seja ativo no avanço de políticas de iluminação responsável em sua comunidade hoje.

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Com apoio da UNICAMP – Conheça a Dark Sky Brasil 

Texto original pode ser lido aqui.